Topo

Como o rock transformou a ex-dançarina Madonna na cantora mais famosa do mundo

Madonna - Reprodução
Madonna Imagem: Reprodução

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

16/08/2019 04h00

Quando Madonna entrou para o Rock and Roll of Fame, em 2008, muitos surpreenderam com a indicação e com seu discurso de agradecimento, quando ela fez questão de homenagear os integrantes do Breakfast Club --e não falamos aqui sobre os atores do filme Clube dos Cinco.

Caso você não esteja ligando o nome à música: o grupo novaiorquino de new wave, dos irmãos Dan Gilroy e Ed Gilroy, foi a primeira banda de Madonna, onde ela aprendeu o beabá da música, potencializou seu talento e descobriu os atalhos da profissão.

Conhecido apenas por fãs mais dedicados, esse capítulo decisivo da trajetória de Madonna é o mote do ótimo documentário Madonna and the Breakfast Club, do diretor Guy Guido, que chega aos cinemas brasileiros hoje, no aniversário de 61 anos da artista. Madonna um dia já foi do rock.

Madonna aos 20 anos, pouco depois de chegar em Nova York, em 1978 - Michael McDonnell/Archive Photos/Getty Images - Michael McDonnell/Archive Photos/Getty Images
Madonna aos 20 anos, pouco depois de chegar em Nova York, em 1978
Imagem: Michael McDonnell/Archive Photos/Getty Images

O início

Misturando entrevistas com membros do Breakfast Club e cenas com atores, o longa conta o que aconteceu do momento em que Madonna se mudou para Nova York em 1977 até os primeiros anos de sucesso profissional, a partir de 1982.

Vinda do interior de Michigan, Madonna queria mesmo era viver de dança. Foi com esse sonho que abandonou a faculdade para começar a trabalhar em uma cena que fervilhava. No filme, ela é mostrada como uma personagem de atitudes fortes e desde o início focada em um objetivo: fazer sucesso.

A grana era curta e, tendo de apelar para bicos garçonete e alguns trabalhos de modelo e atriz, Madonna desistiu da dança por sofrer com dores no corpo. Nessa época, ela já namorava e vivia com o músico Dan Gilroy, dividindo com o irmão dele, Ed, uma antiga sinagoga no bairro do Queens A imensa sala de estar do imóvel servia como estúdio musical.

Madonna no Breakfast Club - Reprodução - Reprodução
Madonna no Breakfast Club no final dos anos 1970
Imagem: Reprodução

Como virou roqueira

O documentário destaca um momento definidor de Madonna. Sem rumo na vida, ela sentou na bateria, e, despretensiosamente, Dan começou a ensiná-la as primeiras batidas. Com a noção rítmica da dança, ela pegou rapidamente o jeito, partindo em seguida para a guitarra e o violão. O embrião do Breakfast Club estava formado.

A primeira formação contou com Madonna (bateria), Dan (guitarra e vocal), Ed (guitarra e vocal) e Angie Smit (baixo). O som: um punk rock pesado e com influências de new wave, aos moldes do que fazia o Blondie. Os integrantes se rezavam em instrumentos e vocal. Nessa primeira fase, Madonna também tocava teclado e cantava em algumas músicas.

Madonna nos tempos do grupo Emmy, quando já ensaiava carreira solo - Reprodução - Reprodução
Madonna nos tempos do grupo Emmy, quando já ensaiava carreira solo
Imagem: Reprodução

O que o rock ensinou a Madonna?

Em primeiro lugar, compor. Foi no Breakfast Club que Madonna tomou coragem para escrever as primeiras músicas, gravadas em demos em 1979. Entre elas, "Shine A Light", "Safe Neighborhood" e "Little Boy". Em segundo lugar, a experiência deu à ela traquejo de palco e performance até hoje usados em turnês.

De acordo com o documentário, Madonna aprendeu nessa época o poder do visual e do conceito --suas roupas e a dos integrantes eram escolhidas a dedo por ela em um brechó. Outra lição importante: a necessidade de divulgar massivamente seu trabalho, mesmo quando você é um artista independente.

Entre 1980 e 1981, quando já liderava o primeiro projeto solo, rebatizado como Emmy, Madonna chegou viver com colegas em um estúdio alugado de onde ligava diariamente para produtores, empresários e gravadoras de Nova York que tinha notícia. Mostrar seu trabalho ao maior número de pessoas era prioridade, e todo esse esforço renderia --e ainda rende-- frutos polpudos.

Madonna se apresenta em 1981 - George Dubose - George Dubose
Madonna se apresenta em 1981
Imagem: George Dubose

Mudando de ares

Na base da insistência, Madonna conseguiu entrar no circuito de clubs de Nova York apresentando-se em casas famosas do rock, como o CBGB e o Max´s Kansas City. Lá, passou a chamar atenção de figurões de gravadoras, antes de ser descoberta em 1982 pelo selo Siren, que pertencia à Warner.

Atenta as novas tendências da era pós-MTV, a gravadora viu nela uma ótima chance de investir na promissora cena das danceterias de Nova York, que vinham ganhando terreno nas mãos de DJs e em festas lendárias, frequentadas por Madonna.

Ela se tingiu de loira e, nas mãos do produtor Mark Kamins, começou a gravar dance-pop, com teclados no lugar das guitarras. Em poucos anos, a ex-dançarina se tornou a artista mais vendida, bem-sucedida e influente do pop.

Onde ouvir a Madonna do rock

Nada da fase antes da fama de Madonna foi lançado oficialmente. Apesar de nunca ter renegado o passado, ele questionou a necessidade do resgate. Mas, além de assistir a Breakfast Club, há várias formas de conhecer esse trabalho.

Inúmeras demos estão disponíveis no YouTube, com qualidade sonora razoável: procure por Madonna + Breakfast Club e/ou Emmy. Destaque para a compilação pirata intitulada Madonna & The Breakfast Club, com as quatro faixas registradas com fúria punk em 1979.

Outro material precioso é o álbum Pre-Madonna, produzido por Stephen Bray, ex-parceiro do grupo Emmy e de sua carreira solo que retrabalhou material gravado entre 1980 e 1981 e o lançou sem autorização em 1997. Entre ecos de Pretenders e sintetizadores, há versões originais --ou quase-- de "Everybody" e "Burning Up", que entrariam em seu disco de estreia.