Biquini Cavadão grava "rocknejo" e mira estratégias do pop atual: "Inventamos isso"
Quando o Biquini Cavadão terminou seu último show no teatro Bradesco, em São Paulo, em dezembro de 2018, dois fãs de jeito tímido e sorriso no rosto saíram de plateia e foram ao camarim tietar o vocalista Bruno Gouveia e colegas. Eram simplesmente Matheus e Kauan, uma das duplas mais tocadas no país do sertanejo, seguidores do grupo carioca desde a adolescência.
Pegos de surpresa, os integrantes da banda sentiram lisonjeados com a presença, e não demorou para o papo virar conceito. Por que não unir forças com representantes do gênero mais popular do Brasil, ampliando horizontes e o alcance de público? Matheus e Kauan toparam sem pestanejar.
O resultado do encontro, a nova versão da balada "Quanto Tempo Demora um Mês", está há um mês na rede, com música e clipe gravado em estúdio. É a primeira investida do novo projeto de singles do Biquini, batizado de "Vou te Levar Comigo" --título de outra música.
A ideia é ousada: reunir artistas de segmentos musicais populares que curtem a banda e topem reinterpretar faixas escolhidas sob medida. A próxima parceria na agenda é com o pagodeiro Péricles. Todas as faixas serão lançadas apenas digitalmente, seguindo a cartilha de marketing do pop atual.
Embora o número de reproduções da primeira música não chegue perto da registrada pelos próprios sertanejos, a estratégia surtiu efeito e fez o Biquini Cavadão voltar a ser notícia. Não que o "rocknejo" e a abordagem "moderna" de divulgação do trabalho sejam novidades para os veteranos. Muito pelo contrário.
"Parcerias sempre permearam a história do Biquini. Em 2008, chamamos a Claudia Leitte para cantar em 'Romance Ideal'. Em 2008, o Hudson, do Edson & Hudson, fez um solo de guitarra em 'Revoluções por Minuto'", enumera ao UOL Bruno Gouveia. "Depois decidimos lançar singles anualmente pelo YouTube, quando não havia e coisa do streaming e Spotify. Sem modéstia, nós inventamos tudo isso."
Cinco perguntas para Bruno Gouveia.
UOL - Por que se render aos ritmos ditos "populares"?
Bruno Gouveia - A gente faz show no Brasil inteiro, e não fazemos para quem gosta de só um determinado estilo musical. É interessante entrar em contato com artistas que curtem o nosso trabalho. Nos sentimos livres. Também não temos limite nem uma programação específica para lançar as músicas. Estamos conversando com eles para criar a relação. Queremos levar nossa música a quem não conhece o Biquini. Ou a quem conhece, mas não nos associa às nossas músicas.
É difícil se adaptar a outros estilos? Ou é mais difícil para eles?
É sempre um desafio. No caso do Matheus e Kauan, nunca tocamos sertanejo nem eles rock. Acho que o desafio maior é deles por estarem num trabalho do Biquini. Mas quando você tem artistas talentosos, esse tipo de barreira é muito mais fácil de passar. E eles são talentosos e, pelo sucesso que têm, poderiam até ter uma atitude blasé. Mas são simpaticíssimos.
Vocês já gravaram do Renato Russo. Já se uniram a Roberto Menescal. Como lidar com as críticas de fãs mais radicais?
No YouTube, o clipe de "Quanto Tempo Demora Um Mês" recebeu apenas 5% de avaliações negativas. Houve mais gente fã de rock reclamando do que fãs de Matheus e Kauan. Alguns diziam que já gostavam da música e que agora, por causa deles, gostam ainda mais. E teve ainda gente perguntando quem era esse tiozão que estava ali cantando (risos).
Mas nem todos aceitam bem, né?
Fãs radicais sempre existirão. E às vezes eles não conseguem pegar a própria ironia do Biquini, e ficam revoltados com a gente. Já me questionaram por eu ter tido em um show que não existia rock universitário porque, ao contrário do sertanejo, o rock era pós-graduado. Mas, pô, cara, isso foi uma piada, que eu mesmo conto para os sertanejos. Tá tudo certo. Seria idiotice dizer que só existe artista talentoso no rock e na MPB.
Parceria é uma marca do pop atual. Lançar singles na internet em vez de álbuns físicos também. O Biquini se "modernizou"?
Olha, cara, sinceramente e deixando modéstia de lado: nós fazemos isso há mais de dez anos. Nós inventamos essa "modernidade". O que mudou é que talvez antes, como já aconteceu várias vezes com o Biquini, estivéssemos à frente demais do nosso tempo para fazer a coisa dar certo. A gente lançava uma ideia, mas essa ideia só viria a ser prática e viável muito tempo depois. Esse tipo de coisa faz parte da natureza do Biquini, de ousar, de dar a cara à tapa.
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