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Como a franquia "Godzilla" acerta ao criar universo compartilhado de monstros

Cena de "Godzilla 2: Rei dos Monstros" - Divulgação
Cena de "Godzilla 2: Rei dos Monstros" Imagem: Divulgação

Caio Coletti

Colaboração para o UOL

01/06/2019 04h00

A estreia de "Godzilla II - Rei dos Monstros", na última quinta-feira, consagrou o sucesso de uma das mais inesperadas franquias da Hollywood atual. Batizada de MonsterVerse pela Warner, estúdio que banca os filmes, a saga sobre monstros gigantes despertando na Terra começou com "Godzilla" (2014), continuou com "Kong: Ilha da Caveira" (2017), e vai culminar em "Godzilla vs. Kong", no ano que vem.

Os dois primeiros longas do MonsterVerse arrecadaram, juntos, quase US$ 1,1 bilhão nas bilheterias mundiais. É um raro sucesso em meio às muitas tentativas frustradas de lançar franquias no estilo "universo compartilhado" desde que a Marvel Studios repopularizou o formato, usado há décadas por grandes estúdios de Hollywood (vide os crossovers de "Alien" e "Predador"), em escala nunca vista anteriormente.

Assista ao trailer de "Godzilla II - Rei dos Monstros"

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Os filmes inspirados pelos quadrinhos da DC Comics são um bom exemplo. Após uma aposta alta no formato do universo compartilhado, que culminou com o fracasso comercial de "Liga da Justiça" em 2017, a franquia se reinventou ao fugir desse filão, encontrando sucesso em filmes como "Aquaman", que funcionam sozinhos ao invés de se apoiar na conexão com os outros.

Enquanto isso, a Universal tentou duas vezes lançar o seu Dark Universe, reunindo as criaturas clássicas de terror criadas pelo estúdio. "Drácula: A História Nunca Contada" (2014) e "A Múmia" (2017) decepcionaram nas bilheterias, e os planos de criar um universo compartilhado que também incluiria "Frankenstein", "O Homem Invisível" e "O Médico e O Monstro" foram abandonados.

A questão que fica é só uma: onde essas e outras investidas de Hollywood erraram, e o MonsterVerse acertou? Abaixo, tentamos decifrar esse enigma.

Cena de "Liga da Justiça" - Divulgação - Divulgação
Cena de "Liga da Justiça"
Imagem: Divulgação

Não force a barra

Lição número um: ninguém gosta de um filme que vem com lição de casa. Nos primeiros anos de uma franquia, pouca gente vai se dispor a ir ao cinema ver um filme que só pode ser entendido por quem viu outros três longas diferentes. Foi o que a DC descobriu quando tentou imediatamente mesclar as aventuras de seus heróis, ao invés de introduzi-los separadamente e construir a ideia de que eles se juntariam aos poucos, em pequenos pedaços de cada filme.

Para efeitos de uma rápida comparação, a Marvel lançou cinco filmes (dois "Homem de Ferro", além de "Thor", "O Incrível Hulk" e "Capitão América: O Primeiro Vingador") antes de oferecer seu primeiro crossover, com "Os Vingadores". Em cada um dos cinco primeiros longas, apenas as cenas pós-créditos indicavam um universo compartilhado entre os heróis.

O MonsterVerse pegou a deixa e começou a sugerir um crossover apenas na cena pós-créditos de "Kong: Ilha da Caveira". "Godzilla II - Rei dos Monstros" também não força a barra do universo compartilhado, colocando o lagarto radioativo para enfrentar três outros monstros surgidos no cinema japonês. Enquanto isso, o estúdio está mantendo o segredo sobre os planos para o futuro da franquia -- o foco, por hora, é em "Godzilla vs. Kong".

Tom Cruise em cena de "A Múmia" - Divulgação - Divulgação
Tom Cruise em cena de "A Múmia"
Imagem: Divulgação

Conheça o seu público

Lição número dois: na medida do possível, dê aos fãs o que eles querem. Um dos grandes erros do Dark Universe foi transformar clássicos de terror em filmes de ação genéricos -- são longas sombrios, mas que se baseiam na vontade de atingir o público médio dos blockbusters de Hollywood. Perdidos nessa diretiva, "Drácula: A História Nunca Contada" e "A Múmia" alienaram a base de fãs dos originais.

Não é de se surpreender que o público fissurado em clássicos cult do cinema de terror, que ficou animado para ir ao cinema assistir a uma nova reunião entre os monstros dos anos 1930 da Universal, não tenha se deixado enganar por aventuras cheias de CGI ou pelas performances pretensiosas de Tom Cruise e Luke Evans. É outro aspecto no qual o MonterVerse acertou em cheio.

"Godzilla II - Rei dos Monstros" se concentra muito mais no combate entre os monstros gigantes do que no drama humano que se desenrola ao redor deles. Assim, dá aos fãs dos clássicos kaiju japoneses a versão moderna, com efeitos especiais de ponta, de seus filmes favoritos. O mesmo vale para "Kong: Ilha da Caveira", em que o diretor Jordan Vogt-Roberts fez uma homenagem visualmente espetacular aos filmes passados na Guerra do Vietnã.

Essencialmente, o MonterVerse funcionou porque é uma franquia que se conhece bem o bastante para entregar o tipo de entretenimento ao qual sua proposta se presta. Às vezes, esse tipo de autoconhecimento vale mais do que qualquer medidor de qualidade tradicional.