"Jailbirds", da Netflix, mostra vida real por trás de um "Orange is the New Black"
Se "Orange is the New Black" (OITNB) chega em julho à sua temporada final com o legado de ter debatido temas sociais importantes e de falar sobre o mundo geralmente invisível do sistema prisional voltado às mulheres, a série documental "Jailbirds" estreou este mês, também na Netflix, dando um tom e caras reais para aquilo que é retratado como ficção na série baseada no livro de Piper Kerman.
Para quem apenas clicar de curioso no menu, "Jailbirds" pode dar a impressão, nos primeiros minutos, de que também é uma ficção, rodada em Sacramento, nos EUA.
A primeira personagem da série documental parece fugir à realidade. Yasmin é recepcionada no centro prisional com uma fiança de US$ 100 mil após roubar um carro e fugir. "Cheguei a 210 km/h", diz ela, sorrindo e concordando quando perguntada se fez tudo aquilo com as pantufas que veste ao chegar na prisão.
Yasmin poderia estar entre Piper Chapman e Alex Vauser em "OITNB", mas ela é só uma das histórias muito reais de "Jailbirds". A série documental tem como grande trunfo transformar um assunto sério e delicado em episódios que são muito próximos do entretenimento. O modo como a produção conseguiu filmar as detentas, a trilha sonora, a edição e as próprias trajetórias retratadas dão esse tom aos seis episódios disponibilizados na Netflix.
A privada que vira celular e correio
O centro de detenção é de maioria feminina, mas também tem homens e está localizado em um prédio. Com os detentos divididos por andar, descobriu-se por lá que é possível conversar com presos de outros pavimentos pela tubulação, retirando toda a água dos vasos sanitários e usando objetos simples para amplificar o som.
Isso tem consequências profundas. Geralmente, as "ligações" pela privada acabam conectando homens e mulheres. Isso quer dizer que amizades e romances nascem - e morrem - pelas tubulações. Eles ainda permitem a troca de objetos por lá, presos em longas fitas, que vão de cartas apaixonadas a drogas e armas que entram ou são produzidas secretamente. A higiene, como é de se imaginar, é um problema no "equipamento".
Os episódios iniciais giram em torno de apresentar as detentas - e alguns detentos homens -, contando seus casos, explicando as relações de amizade e os hábitos na prisão, das gírias ao sistema de comunicação via privadas.
São homens e mulheres com crimes leves ou medianos, mas que veem suas vidas transformadas por suas prisões. Os aspectos psicológicos de estarem detidas e de terem punições com períodos de isolamento são explorados, assim como toda a confusão que é serem detentas, supostamente dispostas a tentarem uma nova conduta para não retornarem àquela realidade, mas que frequentemente se veem às voltas de novas tretas entre elas.
Com as conexões mais estabelecidas, os episódios finais vão mais a fundo nos relacionamentos. Há um prisioneiro, Dolla, com pinta de galã, que acaba atraindo duas mulheres, mas, que flagrado na mentira, é dispensado por ambas via celular-privada. Há as detentas que se casam no episódio final, ainda que uma delas já vá ser solta, enquanto a outra ficará mais 30 anos encarcerada.
E há diversas brigas, algumas apenas relatadas, mas uma retratada em câmera, quando duas detentas que já vinham discutindo saem na mão enquanto estão sendo filmadas, juntando várias mulheres na briga e movimentando um batalhão de carcereiros.
Realidade ou ficção?
"Jailbirds" funciona bem como série documental e, principalmente para quem curte séries como "OITNB", é um retrato muito necessário do que, sem a parte romanceada e os exageros de uma ficção, é ser uma detenta ou um detento nos EUA.
É claro que, com as câmeras ligadas, perde-se um pouco da naturalidade no cotidiano das pessoas. Ainda assim, seja por se acostumarem à rotina de filmagens, seja por simplesmente gostarem de expor suas histórias ou até contar vantagem, "Jailbirds" consegue apresentar um material longe de ser entediante e que, além de necessário, diverte.
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