Miami Showband cobra justiça em doc sobre morte de integrantes em atentado
No auge da briga entre Irlanda e Reino Unido, na década de 1970 , quando grupos paramilitares causaram uma sangrenta guerra pela Irlanda do Norte, um fato marcou a história da música: o assassinato de três membros da banda Miami Showband em um atentado. Agora, um documentário da Netflix tenta dar luz ao tema mais de quatro décadas depois, mostrando que os sobreviventes do grupo lutam até hoje por justiça.
"The Miami Showband Massacre" é um episódio da série "Remastered", que traz casos da música com ligações políticas - como o atentado a Bob Marley e a visita de Johnny Cash à Casa Branca. A novidade ao trazer a banda, uma das mais importantes da história da música irlandesa, é tentar mostrar que, além do ato de terrorismo, o incidente tem fortes indícios de conspiração com o governo britânico.
A Miami Showband desfrutava de muito sucesso na década de 1970 e, apesar de ser de Dublin, na Irlanda, realizava shows por toda a ilha, inclusive no Norte, misturando pop, country e rock e vivendo sua própria Beatlemania.
Sem que eles tivessem grandes ligações com a parte política que afetava a época - e muitas vezes sendo válvula de escape contra esta crise -, cinco integrantes acabaram sofrendo uma emboscada quando retornavam da Irlanda do Norte para Dublin, em julho de 1975. O resultado foram três mortes: o vocalista Fran O'Toole, o guitarrista Tony Geraghty e Brian McCoy, que tocava trompete, foram vítimas do atentado.
O veículo da banda foi parado em um suposto ponto de verificação, na estrada, por homens vestidos como militares do exército britânico. Na verdade, eram integrantes da Força Voluntária do Ulster (UVF) e do Regime de Defesa Ulster (UDR), grupos paramilitares inimigos do Exército Republicano Irlandês (IRA). Eles implantaram uma bomba no ônibus do grupo, que explodiu precocemente. Além das mortes pela explosão, incluindo a de dois membros da UVF, o restante dos músicos foi baleado, com dois músicos sobrevivendo: Stephen Travers, que se fingiu de morto, e o saxofonista Des McAlea.
A ideia era que a morte dos integrantes do grupo causasse o fechamento das fronteiras, o que beneficiaria o governo britânico e dificultaria a entrada de membros do IRA na Irlanda do Norte.
O baixista Stephen Travers é quem conduz o documentário da Netflix, que em um episódio de pouco mais de uma hora destrincha não só os acontecimentos daquela madrugada como a posterior investigação.
Travers diz que desde o atentado vive para tentar chegar à justiça e que, após anos investigando o caso, tem provas suficientes para crer que o governo britânico agia em conjunto com a UVF.
Teoria da conspiração?
Documentários como o deste massacre tendem a espalhar o que vinha sendo tratado como teoria conspiratória. Mas, apesar de não conseguir uma posição do próprio governo britânico - que segue colocando todos os obstáculos possíveis para que Travers comprove seu ponto -, o resultado final traz pontos convincentes.
"Quando um governo decide matar seus próprios cidadãos, não há como relevar. Estou determinado a saber quem mandou matar a Miami Showband, mesmo que isso me leve até o mais alto do governo britânico", diz o baixista. Uma das pistas seguidas nas investigações foi o fato de os sobreviventes contarem ter ouvido uma pessoa de sotaque britânico durante o ataque - o que era incomum para um checkpoint na Irlanda.
Um dos pontos defendidos é uma prova material apresentada pelo baixista. Ele possui uma carta assinada pelos paramilitares da UVF em que se fala em um conluio. Nesta carta, escrita há 30 anos, a UVF se recusa a participar de um assassinato, supostamente a mando do governo britânico, e reclama de receber bombas com falhas no detonador "como no caso da Miami Showband".
Outro ponto forte do documentário é um encontro, cara a cara e filmado, de Travers com um representante da UVF, Winston Irvine, que fala em tom de desculpas.
Duro, mas fascinante, "The Miami Showband Massacre" mostra uma realidade que parece distante, com a sanguinária guerra travada entre Reino Unido e Irlanda, mas que se repete em outros lugares do mundo até hoje, em países mais distantes dos holofotes. E nisso está sua importância e sua conexão com a atualidade e até com o Brasil. "Precisamos garantir que o passado não se torne parte da política do futuro", diz Winston Irvine, da UFV.
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