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"O Mecanismo": Para ator, série pode ajudar eleitores de Bolsonaro e antipetistas

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

14/05/2019 16h08

Em sua segunda temporada, "O Mecanismo", a série da Netflix baseada na Operação Lava Jato, tentou responder às críticas que recebeu no primeiro ano, acusado de direcionar sua artilharia com mais força ao PT (Partido dos Trabalhadores) - e conseguiu. Os oito novos episódios voltaram mais equilibrados, traçando a linha entre as investigações e as articulações que culminaram no impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016.

"Foi golpe, né?", diz ao UOL o ator Enrique Diaz em entrevista, ao ser questionado sobre como vê a importância da série no atual momento da política brasileira. "Aconteceu um golpe, por tais e tais motivos, um esquema feito para tirar o PT do poder e ali [na série] você vê essa trama sendo urdida. Acho que ajuda muita gente que pode ter votado no Bolsonaro ou que acreditou no discurso antipetista, esse 'isso nunca, alguma coisa tem que entrar no lugar'. Essa 'alguma coisa' é terrível."

O ator, que na série interpreta Ibrahim, uma versão dramatizada do doleiro Alberto Youssef, então faz uma crítica às ações do atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL). "Toda a questão da educação, das declarações que o Bolsonaro faz, isso é um horror total, é contra a vida, contra as crianças, contra a educação, contra pessoas que sofrem uma vida precária. Talvez a série ajude as pessoas a falarem 'olha, isso aqui teve esse percurso'. Poder ser legal".

Sem se aprofundar na questão política, Selton Mello, que vive o delegado aposentado Marco Ruffo, diz que a velocidade do noticiário fez "O Mecanismo" se tornar uma série de época. "É difícil falar de algo que está acontecendo e ao mesmo tempo é muito rápido. Já aconteceram milhares de coisas de lá para cá, virou uma série de época. Parece que aquilo aconteceu há dez anos, mas foi uns meses atrás. Por um lado, acho muito corajoso o Padilha querer falar de algo que está em curso. A série tem dúvidas, dubiedades, e isso está na tela".

Por sua vez, Jonathan Haagensen, o agente Vander, acredita que a série não tem a intenção de resolver problemas da esfera política. "A gente só está contando uma parte da história, e a história continua. Eu não consigo ver a série com esse compromisso de resolver um problema que é político. A gente tem uma responsabilidade de contar a história da melhor maneira possível como ator, como artista. Agora que vai causar conflitos em questões ideológicas.... Acho que tem coisas que podem ser positivas e coisas que podem ser negativas. Essa divergência acho que ela é importante, aí que está a liberdade. Essa coisa do ataque, de usar isso para você realmente se manifestar de uma maneira agressiva é que a gente realmente acha desnecessário".

Para Emílio Orciollo Netto, que dá vida a Ricardo Bretch, o Marcelo Odebretch da ficção, muitas das críticas que a série recebeu em seu primeiro ano vieram de pessoas que, na realidade, não a assistiram. "Muita gente não viu e critica sem poder falar realmente, apenas do 'ouvi dizer'. Isso é uma coisa que infelizmente aconteceu na primeira temporada e eu adoraria que não acontecesse nessa segunda, que as pessoas realmente assistissem."

Figuras reais

Ainda que seus personagens sejam levemente baseados em pessoas reais, os atores da série são unânimes ao dizer que não ficaram presos às figuras da vida real. Caroline Abras, a delegada Verena Cardoni, preferiu manter sua personagem totalmente baseada na ficção. "Essa delegada foi baseada em mais de uma pessoa, o que eu acho muito interessante porque como não se trata de uma biografia, a gente tem mais liberdade cênica, liberdade de criação. Eu optei por não colar na realidade e criar a Verena dessa maneira".

Concordando com a colega, Orciollo Netto conta que optou por se basear principalmente no roteiro escrito por Elena Soarez. "No nosso trabalho, o fundamental quando a gente tem um texto é investigar o que foi escrito e cair dentro dessas orientação e partir disso buscar elementos que possam enriquecer essa relação."