Série da Netflix com dominatrix e golden shower gera críticas entre sadomasoquistas
"Amizade Dolorida" (Bonding, no título original) chegou à Netflix com algo além de sua protagonista dominatrix e suas cenas bastante gráficas envolvendo temas sexuais. O enredo é uma história que vai do fofo ao empoderador entre uma jovem adulta profissional do sadomasoquismo e um amigo, gay, que é contratado como seu assistente.
A produção é baseada na vida do seu criador, Rightor Doyle, exagerada no roteiro para mostrar a história da universitária Tiff (Zoe Levin) e seu amigo Pete (Brendan Scannell). Ela, dominatrix, convida o amigo, recém-descoberto homossexual para ajudar em seus negócios. Ele, que sonha em ser comediante, se vê num mundo totalmente novo e, a princípio, bastante estranho.
Comédia fast food
"Amizade Dolorida" parece testar o público da Netflix com seu tema chamativo - como o fez em "Sex Education" - e também com o formato "fast food": são sete episódios, nenhum com mais de 17 minutos, e uma duração total típica de filme, com 1h48min. Apesar disso, entrega personagens bem carismáticos e uma história simples, voltada para um público jovem e de fácil correlação: são dois jovens adultos tentando se encontrar como indivíduos e seres sexuais num mundo cheio de restrições.
Com seus itens de dominação, como chicotes, cordas para amarração, máscaras e muita imitação de couro, a série dá a impressão de que mostrará cenas quentes de sexo, mas não é bem assim. Muito aparece apenas sugerido na tela. Em outros momentos, o que não é mostrado é que chama atenção, como na cena em que Pete é chamado por seu colega de quarto, que pede uma ajuda na tentativa de descobrir seu prazer anal.
O "golden shower"
Outro exemplo disso está na cena mais direta da série quanto às fantasias sexuais, com um golden shower, quando Pete é chamado por Tiff para realizar o desejo de um dos clientes dela. O personagem tem, então, de se soltar a ponto de conseguir urinar no tal cliente. E consegue.
O tema da dominação é a metáfora principal de "Amizade Colorida". Pete é dominado pela sua timidez e não consegue se soltar a ponto de realizar seu sonho, que é ser um comediante de stand-up. Tiff, por outro lado, tem problemas para se relacionar, é rígida e domina os homens com frieza, como forma também de defesa.
A polêmica
Os temas fundamentais, principalmente na parte de relacionamentos, conseguem se aprofundar o suficiente na curta série, mas organizações que representam sadomasoquistas não gostaram da representação do tema na produção.
"Entendo que a série se baseie vagamente na experiência de seu criador, mas o elenco coloca uma sombra e um mau estigma com profissionais de dominação", afirmou uma dominatrix ouvida pelo site IndieWire, identificada como Mistress Synful Pleasure. "Essas imprecisões alimentam o estigma contra o BDSM e não mostram o que é a vida de uma dominatrix. Por que ela é uma 'vadia' o tempo todo? Por que seu corset não serve direito? Por que não seleciona melhor seus clientes? A falta de negociação e consenso... Deveria haver uma melhor representação."
Jessica Nicole Smith, uma dominatrix do Canadá, disse ao mesmo site que a história mostrar Tiff como alguém que sofreu assédio e foi parar neste mundo também contribui negativamente no debate.
"As pessoas vão pensar que quem trabalha com sexo o faz por conta de algum abuso. Podemos falar sobre trauma, mas ali ela não está lidando com isso, está só projetando sobre as outras pessoas", disse ela. "Não faça uma comédia sobre um tema se você não vai consultar os profissionais dele."
Ao "New York Post", o criador deu sua versão do que ele quis representar quando contou a própria história de uma amiga que virou dominatrix e o levou para este mundo: "Não quero que seja sobre mim, quero que mostre o que aprendi. Foi ótimo, um jeito louco de explorar minha própria sexualidade e como o patriarcado põe mulheres e gays sob seu poder. E como pessoas com menos poder podem subverter isso por meio do sexo".
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