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Djonga se veste como escravo em clipe e debate racismo: "E se fosse o contrário?"

Divulgação
Imagem: Divulgação

Osmar Portilho

Do UOL, em São Paulo

15/04/2019 16h55

Um dos principais expoentes da nova cena do rap nacional, Djonga também tem investido bastante em produzir clipes elaborados e que causam bastante repercussão nas redes sociais, como foi com o vídeo de "A Música da Mãe". Hoje, o rapper mineiro divulgou "Hat-Trick", um clipe onde debate o racismo de maneira bem direta e didática.

Com o roteiro assinado pelo próprio Djonga, "Hat-Trick" mostra o dia de um negro com o rosto pintado de branco, que ignora outros moradores da periferia. Acorrentado como um escravo, o rapper aparece sempre "pendurado" no pescoço do personagem.

Veja a letra de "Hat Trick":

Falo o que tem que ser dito
Pronto pra morrer de pé
Pro meu filho não viver de joelho
Cê não sabe o que é acordar com a responsa
Que pros menor daqui eu sou espelho

Cada vez mais objetivo
Pra que minhas irmãs deixem de ser objeto
E parece que liberaram o preconceito
Pelo menos antigamente esses cuzao era discreto

3 anos 3 grandes obras
E ninguém sabe o que tava pegando lá casa
Então lave a boca pra falar de mim
O que me fez chorar, num foi a morte do Mufasa

Eu sou a volta por cima
Uma explosão em expansão igual o Big Bang
Eu sou um muleque, igual esses outros muleque
Que a única diferença que não esquece de onde vem

Peço a bênção pra sair e pra chegar
Não canto de galo nem no meu terreiro
Honra com os adversários, na luta
Porra eu sou filho de São Jorge guerreiro

Mente fria, sangue quente
Paralisam do meu lado
Choque térmico
Quando sai prometi que não voltava
Com menos que o mundo
Tá aí mãe, o que cê quer pô

Abram alas pro rei
Abram alas pro rei
Abram alas pro rei
Me considero assim
Pois só ando entre reis e rainhas

Abram alas pro rei
Abram alas pro rei
Abram alas pro rei
Me considero assim
Porque

Eu fiz geral enxergar em 3D
Deus o diabo é Djonga, pô
Bitch please não rouba minha onda, ô
Que os mesmo 90 minutos
Não te faz suar igual quem joga e tem raça

Da terra onde nada vira
Um mano do nada vira
A maior referência de um jogo
Onde saber quem joga mais
Vale mais do que pôr comida no prato

Dinheiro é bom
Melhor ainda é se orgulhar
De como tu conquistou ele
Aquelas coisas né
O que se aprende no caminho
Importa mais do que a chegada
Isso te faz seguir real, igual um filme de terror
Na direção de Jordan Peele
Aquelas coisa né
Quem vai com muita sede ao pote
Tá sempre queimando largada

É pra nós ter autonomia
Não compre corrente abra um negócio
Parece que eu tô tirando
Mas na real tô te chamando pra ser sócio

Pensa bem
Tira seus irmão da lama
Sua coroa larga o trampo
Ou tu vai ser mais um preto
Que passou a vida em branco

Abram alas pro rei
Abram alas pro rei
Abram alas pro rei
Me considero assim
Pois só ando entre reis e rainhas

Abram alas pro rei
Abram alas pro rei
Abram alas pro rei
Me considero assim
Pois só ando entre reis

Lanço aqueles sons
Que você arrepia toda vez que ouve
Olha os playboy gritando
Que o Djonga é o mais OG
Poupe me
Poupe me

Me desculpe aí
Mas não compro seu processo
De embranquecimento de MC
Sigo falando o que vejo
Tem irmão que tá falando
O que essa mídia quer ouvir

Alguns portais nem me citam
É que eu já ultrapassei, pô
Competições pra ganhar do bonde
Não sejam tão trapaceiros
Perca pra um grande adversário
Não pra sua incompetência
Um castelo de areia não suporta o tsunami
Ponha a mão na consciência

E dizem que união de preto é quadrilha
Pra mim é tipo um santuário
Quem pensa diferente sanatório
Se junta Brown e Negra ali temos um relicário

Num é porque agora eu tô de tênis
Mas a real que deixei varios no chinelo
A real é que mostramo o que era bom
Pra estrutura que tava sem critério

Nas favela do brasa é tudo nosso
Entre o bem e o mal é tudo nosso
É tudo nosso, é tudo nosso

E tem os irmão que é só negócio
Fala que a voz dos preto é tudo nosso

Na paz ou na guerra é tudo nosso
É tudo nosso, é tudo nosso
Quem tá contra ta madado

O dedo
Desde pequeno geral te aponta o dedo
No olhar da madame eu consigo sentir o medo
Cê cresce achando que é pior que eles
Irmão quem te roubou te chama de ladrão desde cedo
Ladrão
Então peguemos de volta o que nos foi tirado
Mano ou você faz isso ou seria em vão
O que os nossos ancestrais teriam sangrado
De onde eu vim quase todos depende de mim
Todos temendo meu não, todos esperam meu sim
Do alto do morro rezam pela minha vida
Do alto do prédio pelo meu fim
Ladrão
No olhar de uma mãe eu consigo entender
O que pega com o irmão
Tia, eu vou resolver o seu problema
E faço isso da forma mais honesta
E mesmo assim vão me chamar de ladrão
Ladrão