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"É uma voadora, como tem que ser", diz Djonga sobre abertura de "A Música da Mãe"

Marcelo Martins
Imagem: Marcelo Martins

Osmar Portilho

Colaboração para o UOL

30/08/2018 04h00

Djonga é um dos grandes nomes em ascensão no rap nacional. Isso é inegável. O mineiro de 24 anos é uma das pontes entre o rap tradicional de versos afiados e de cunho social com o trap, que flerta com batidas mais modernas e abre o leque de assuntos para falar de drogas, de dinheiro e de um lifestyle diferente. Do rap, a característica mais notável de Djonga é o dedo na ferida.

E mais do que usar seus versos, o rapper gosta de usar todas as ferramentas disponíveis para comunicar o que pensa. Em seu último vídeo, "A Música da Mãe", fez o que lhe é habitual. "Em todo clipe eu faço o roteiro e ajudo na direção. Faço questão que o clipe saia exatamente do jeito que eu pensei", disse ao UOL, por telefone.

Em apenas uma semana disponível no YouTube, "A Música da Mãe" bateu 3,5 milhões de visualizações e tem tudo para atingir marcas maiores, como o clipe de "Junho de 94" que já soma 8,8 milhões. Dirigido por Djonga e Naio Rezende, "A Música da Mãe" é um daqueles clipes que merecem ser vistos repetidas vezes. Seu roteiro encaixa várias situações debatidas atualmente que ocorrem em segundo plano. "Graças a Deus tava com um cara que trampa muito bem, que é o Naio. Empolgado ali pra fazer, independente de ego. Foi um dando opinião pro outro", continuou.

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O fato do vídeo mostrar diversas ações simultâneas rapidamente despertou comparações com "This Is America", de Childish Gambino. Djonga diminui essa comparações. "Pode parecer conceitual, mas é mais técnica. Eu queria que a câmera pegasse uma coisa acontecendo na frente e ao mesmo tempo outra no plano de fundo, mas que as pessoas conseguissem ver. Só não queria que ficasse muito evidente. É uma referência técnica. Foi uma coisa que me surpreendeu [em "This Is America"]. Uma coisa bem filmada e bem estabelecida visualmente. Eu queria fazer isso. E acho que rolou", explicou.

Favela Vive - Djonga - Marcelo Martins - Marcelo Martins
Imagem: Marcelo Martins

A premissa básica do vídeo mostra Djonga sendo assediado por seus fãs, mas é no segundo plano que a ação de verdade acontece. Tanto que fizemos uma lista com as referências que estão em "A Música da Mãe". A abordagem do vídeo de Djonga e Naio levanta temas como drogas, racismo, pedofilia e feminicídio.

"Eu pensei em coisas que estão sendo discutidas. Muita coisa acontecendo e de um modo geral muita gente finge que não vê. Muita gente se importa demais com outras coisas", disse o rapper. "Por exemplo, é mais importante discutir as coisas da internet do que ir no cerne delas, sacou? Foi tudo surgindo naturalmente", completou.

"Enrico é meu amigo e passa bem"

A frase acima foi a única colocação pública de Djonga sobre a cena que abre o vídeo. No clipe, o menino loiro, de pele clara e olhos azuis canta os versos de Djonga. O rapper surge então com uma voadora que tira o garoto da cena para assumir o protagonismo do seu clipe.

A região dos comentários tanto do YouTube como do Instagram se encheram de teorias sobre a cena. Há quem teorizou sobre a apropriação cultural do rap pelos brancos, um golpe na indústria fonográfica ou quem simplesmente acusou Djonga de um gesto racista.

"Eu acho que é uma coisa que tem que ficar para galera", definiu o rapper, citando outra polêmica em que se envolveu recentemente. Na capa do disco "O Menino Que Queria Ser Deus" Djonga aparece sentado e com um pé sobre o peito de um homem engravatado branco.

"A capa do disco, por exemplo, todo mundo ficou me perguntando. Não falei nada sobre a capa. Nunca. Sacou? É uma coisa que pra mim tá na cara e não é o grande lance do clipe. A voadora é uma voadora, como tem que ser. Eu diria que é A voadora", pontuou Djonga.

Favela Vive 3

Djonga recentemente também integrou a cypher "Favela Vive 3" ao lado de ADL (DK e Lord), Menor do Chapa, Choice e Negra Li. Lançado no dia 9 de agosto, o clipe já está prestes a bater a marca de 10 milhões de visualizações. Em uma época onde o mainstream é dominado pelo funk e sertanejo, este coletivo do rap mostra a força do gênero, algo que deve ser mais resgatado, segundo Djonga.

"Pra mim é uma honra. É o grande lance dessa onda de cypher é que o Favela Vive que resgata uma tradição do hip-hop que as pessoas não têm a real dimensão", disse o rapper.

Se por um lado vemos o trap dando mais abrangência para os assuntos em suas músicas, Djonga ressalta a importância social dos tópicos abordados em Favela Vive. Para ele, essa é uma tradição que deve permanecer.

"Não uma tradição de algo que não tem que mudar, né? O cara que tem medo de mudar é o conservador. Uma tradição no sentido do respeito e de querer participar da cultura hip hop de maneira mais completa. Eu acho que tem faltado isso. Falta essa discussão sobre a favela".