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Vale a pena ouvir essa música do Snoop Dogg com a Anitta?

Ronald Rios

Especial para o UOL

14/04/2019 04h00

Não.

Ouvi a música que o Papatinho produziu para a Anitta. Chama "Onda Diferente", e tem participação da Ludmilla. Sei lá, cara. É aquela coisa que não se decide entre o tamborzão de funk e aquele EDM nervoso e fica simplesmente no meio do caminho. A participação do Snoop Dogg é natural igual margarina. Não tem uma coisa certa. Nem o vídeo, que parece uma versão ostentação para aquele filme horrível do Kubrick, "De Olhos Bem Fechados".

E não precisava ser assim. Ok que essas participações de rappers gringos são bem baseadas no "manda um saco de dinheiro que eu gravo 16 barras aqui". Mas é uma das músicas mais descartáveis de 2019 e estamos em abril ainda, chapa. São quatro pessoas talentosas (Papatinho incluso) que fizeram um produto sem graça, sem sal, que poderia ter sido feito substituindo qualquer uma das peças por genéricos mais baratos ou caros, depende só do orçamento. Porque no fim do dia, é só um produto. Se vai rodar muito, aí são outros quinhentos. Juntando as bases dos fãs dos quatro artistas, acho que tem algum potencial nas plataformas.

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ScHoolboy Q está voltando, marcando terreno pro seu próximo álbum. Ele já havia lançado um clipe hilário, com a fina ironia que só o Q tem.

Assiste aí o clipe da iradíssima faixa "Numb Numb Juice":

Minha parte favorita é a referência aos clipes da Bad Boy Records.

Agora, ele lançou um som com Travis Scott. Chama CHopstix. Eu achei mais ou menos. Não sei se a essa altura do campeonato tem sentido ainda chamar auto-tune de "recurso original que, se bem usado, pode soar ótimo e enriquecer a faixa" porque, meu Deus, é a mesma fuga fácil para um refrão grudento há mais de uma década já. Só me dei conta disso quando lembrei que aquele single do Jay-Z "Death of Auto-tune" é de 2009. Porra, o Jay-Z não conseguir dar fim ao auto-tune de nocaute, eu aceito, mas nem na base do tempo-senhor-da-razão? Sei lá, ouve aí:

E eu não sou nem o rabugento do auto-tune mais. Tem umas faixas que eu curto um auto-tune. Tem uns artistas que sabem o que tão fazendo. Tudo que o Kanye West ou o Don-L fizerem em auto-tune, eu não só sei que vou respeitar como provavelmente vou acabar chapando como já fiz várias vezes. Mas no geral, acho jogar com cheat.

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Mudando a pauta, vamos agora a falar de uma música que está dando muito, como dizem os antigos, pano pra manga.

"Old Town Road" é um som do Lil Nas. Vê-la nas paradas de rap não tinha nada demais. Tem uma batida pesada, um refrão bom, e um ritmo que simplesmente dá vontade de você cavalgar por horas no "Read Dead Redemption 2".

Acontece que a música, com seu belo banjo e jeito de cowboy, também chegou nas paradas americanas de country music.

Até que a Billboard resolveu tirar a música da sua lista de country. Por quê? Segundo a publicação, a canção "não carregaria elementos de country music o bastante" para estar na lista. Logicamente surgiu controvérsia a partir disso. Seria um caso de preconceito por um rapper estar nas paradas de country? Com certeza, camaradinha.

Mas não confie na minha palavra. Confie no astro do country Billy Ray Cyrus, que disse: "Para mim é óbvio que é country: é honesta, humilde, tem um refrão viciante e um banjo. Que diabos você precisa a mais para ser country?"

E ainda pulou num remix da track, para mostrar que a mistura é algo a somar, não motivo de desrespeito por nenhuma junta de "críticos especializados" com viés duvidoso. Ouve aí:

Antes de sair fora, vamos a um clássico?

"Vamos!"

Sabia que poderia contar com vocês:

"Accordion", do camarada MF DOOM com Madlib, formando a superdupla Madvillain:

Essa base mais torta que eu quando tomo kariri com mel, os efeitinhos e é claro: o flow. Wow. Eu arrepio até hoje.

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