"De Pernas pro Ar 3" renova série com "sensibilidade sexual" e o melhor de Ingrid
Ninguém esperava uma revolução em "De Pernas pro Ar", uma das séries mais bem-sucedidas do cinema nacional. Mas, agora dirigida por Julia Rezende, a comédia está melhor, mais atual e madura, sem forçar a barra ou cair em militância.
Com elenco afiado e a inclusão da jovem Samya Pascotto, o filme faz rir e prova que o sexo pode ser um manancial inesgotável de gags e piadas. Basta saber como contá-las.
Dialogando com o público jovem, a história naturaliza a discussão sobre o sexo e tratar o importante tema da sororidade --tipo de solidariedade mútua entre mulheres no combate ao machismo.
Na nova história, Alice (Ingrid) decide abandonar a presidência de sua empresa de brinquedos eróticos para se dedicar ao marido e filhos, que vinham sendo negligenciados em meio aos compromissos profissionais pelo mundo.
Com o brio ferido pela concorrência de Leona (Samya Pascotto), desenvolvedora de um revolucionário óculos de realidade virtual para vídeos pornôs, ela decide voltar a atrás na decisão. O problema é que a menina começa a namorar seu filho Paulinho (Eduardo Melo).
Nem tudo é competição e, aos poucos, uma situação difícil e de cunho dramático vai se aprumando. Enquanto isso, Ingrid dá show de comédia e versatilidade.
Ela transita com habilidade pelo humor pastelão, principalmente na cena em que usa os óculos e imagina estar dançando cheia de amor com Cauã Reymond, enquanto todos assistem à vexatória performance solitária.
Quando o tom é o humor de situação, a atriz mostra por que é uma das humoristas mais talentosas de sua geração. Atente para a aula de timing nas cenas em que contracena com as ótimas Denise Weinberg e Cristina Pereira. Impossível não cair na risada em pelo menos metade delas.
O roteiro, dessa vez coassinado por Ingrid, desta vez é mais esperto e sensível, principalmente no desenvolvimento dos personagens da família e de como eles se relacionam.
Negligenciado em outros filmes, o marido João (Bruno Garcia) ganha atenção especial, com uma narrativa que se cruza inteligentemente com a principal. A edição de diálogos feita para comparar os relacionamentos do casal maduro e o jovem também é uma ótima sacada.
Dois únicos poréns: o filme quebra expectativas, mas repete vários lugares comuns do gênero em certos momentos. A cena do desfecho --sem spoilers aqui--, em que Ingrid e Bruno selam a paz de forma "não convencional", é arriscada, exagera na "dramédia" e pode confundir.
Como aquela experiência poderia mudar a perspectiva de um casamento em crise?
Entre muitos acertos e alguns deslizes, "De Pernas pro Ar 3", falando de sexo e família, é a melhor comédia nacional que você poderá assistir no cinema este ano. Em tempos de "criminalização" da educação sexual no Brasil, também é a mais atual.
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