Topo

Lobão diz que "64 não foi golpe, mas foi uma cagada" e pede autocrítica à direita

Keiny Andrade/UOL
Imagem: Keiny Andrade/UOL

Maurício Dehô

Do UOL, em São Paulo

27/03/2019 11h54

Lobão provocou polêmica nas redes sociais com um novo vídeo em seu canal, em que dá sua visão sobre o golpe de 1964, que levou ao regime militar vivido pelo Brasil até os anos 1980. Às vésperas de completar 55 anos da data, em 31 de março, o músico afirmou que não vê o ato da década de 1960 como um golpe, mas definiu como "uma cagada" a forma autoritária que o governo agiu nos anos após a tomada do poder.

Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro orientou os quartéis a comemorarem o aniversário do golpe, o que trouxe o assunto à tona novamente.

A fala de Lobão no vídeo acabou atacando tanto pessoas inclinadas politicamente à direita, quanto à esquerda - apesar de acontecer principalmente como um pedido do cantor para que a direita faça uma "autocrítica severa". Em ambos os casos, ele afirmou que o erro está em glorificar figuras do passado que tiveram atos escusos, a ponto de se viver do passado, e não de olho no futuro.

"Hoje acho que tem um tema muito pontual, que acho que vai explicar muito bem o que tenho a dizer sobre a direita ser histérica, anacrônica, grotesca... Hoje temos um marco para podermos pensar e refletir palpável, que é o fato de 1964 não ser golpe e etc. Realmente não foi golpe", opinou ele, antes de listar suas críticas.

"Eu estive em 1964, eu vivi, lembro perfeitamente de como foi. Sabíamos o que estava acontecendo. O que quero dizer é sobre algo parecido com o que ocorre na esquerda. A esquerda glorifica um monte de facínoras achando que foi para o bem deles. Stalin, Lenin, Fidel Castro, Hugo Chávez. Muito indulgentes e glorificando um monte de açougueiro. Acho que nós temos de perceber que o regime de 1964, se não era totalitário, era autoritário. Isso já é uma merda, ponto", seguiu Lobão.

"Tivemos 23 anos de uma censura estúpida, que deixava vazar a maior parte das informações que eles não queriam", disse ele, citando uma canção sobre um triângulo amoroso que compôs e foi censurada sem grandes motivos aparentes. Lobão lembrou ainda que era parado na rua para revistas: "nunca fui comunista, eu era simplesmente um roqueiro".

Para ele, reflexos do regime militar são sentidos até hoje. Ainda assim, ele diz que os militares foram importantes na história do país.

"Nós tivemos um período muito escroto. E se não tivéssemos esse período escroto, a gente não estaria agora sofrendo essas mazelas. Agora, ter saudades de um regime desses é de uma estupidez. Não podemos glorificar expedientes, sombrios... Por exemplo Brilhante Ulstra... Ficar glorificando é contra a gente. (...) A direita está nos anos 1964 e a esquerda em 1968. Isso é de uma imbecilidade muito grande. Enquanto nós não pensarmos pra frente e formos justos... Não podemos demonizar os militares, porque eles salvaram a gente de um 'Cubão'. Mas também não podemos glorificar e torná-los heróis, porque foi um regime tacanho, imbecil e ingênuo", concluiu o roqueiro, que ainda fez críticas à MPB, chamada por ele de "morna, ressentida e masturbatória".

Em seu canal no Youtube, Lobão recebeu elogios pela autocrítica e foi chamado de "lúcido" por alguns dos espectadores. Na mesma plataforma e no Twitter, atraiu também críticas, a quem o viu como "esquerdista".

"Para com isto Lobão. Não fossem os militares você estaria bebendo água suja como em Cuba", disse uma pessoa, em comentário no Youtube. No Twitter, Lobão chegou a responder algumas críticas.

"Na moral, também vivi na mesma época que o Lobão, mas o que ele fala é discurso de esquerdista que diz que foi torturado. Nunca vi nem a cara dos militares nesse período", disse um homem, no Twitter. "Eu fui preso, censurado e perseguido num período em que toda a máquina do estado era da ditadura militar, não seja leviano!", retrucou Lobão, que recebeu tréplica. "Se isso aconteceu com você, então alguma coisa errada você estava fazendo. Você tem que decidir de qual lado você está, uai?"