Ben Affleck invade o Brasil no inteligente (e explosivo) "Operação Fronteira"
"Operação Fronteira", que chegou ontem ao catálogo da Netflix, localiza a sua história na fronteira do Brasil com dois países vizinhos que não são identificados. O filme já abre com Pope (Oscar Isaac) ajudando forças militares locais a invadir uma boate onde funcionários do maior cartel de drogas da região estão se escondendo -- uma cena de ação que sem dúvida está entre as melhores do ano até agora.
Apesar de se passar por aqui, "Operação Fronteira" segue a deixa da maioria dos filmes hollywoodianos localizados na América do Sul ao evitar específicos culturais. Todos os personagens "nativos" falam espanhol, e o único momento em que o filme realmente entrega sua locação é quando uma placa em uma fronteira abandonada aparece com a inscrição "bem-vindos ao Brasil".
Pouco depois da operação acompanhada por Pope, em que os militares convenientemente "falham" em conseguir a localização do líder do cartel, conhecemos os outros protagonistas do filme. Um deles é Tom (Ben Affleck), veterano de guerra recentemente divorciado que é péssimo em seu novo emprego como corretor de imóveis, e precisa de dinheiro urgentemente.
Desiludido com a rede de corrupção das autoridades da Fronteira, Pope consegue a localização do chefe do cartel por seus próprios meios. Depois, junta-se com Tom e os velhos amigos William (Charlie Hunnam), Benny (Gearrett Hedlund) e Catfish (Pedro Pascal) para invadir e roubar a sua mansão. A missão, é claro, é "extraoficial" (leia-se: ilegal), e eles planejam sair do país com todo o dinheiro para si.
Ação para ninguém botar defeito
O diretor J.C. Chandor, cujos créditos anteriores incluem os ótimos "O Ano Mais Violento" e "Até o Fim", filma a ação em "Operação Fronteira" de forma direta, e por vezes brutal. Ele foge habilidosamente da edição frenética e dos efeitos especiais excessivos que marcam muitos dos filmes do gênero em Hollywood, permitindo que o espectador veja e entenda o que acontece o tempo todo.
O roteiro, reescrito por Chandor após um primeiro rascunho de Mark Boal (vencedor do Oscar por "Guerra ao Terror"), segue a deixa e abandona os floreios para chegar rapidamente ao que importa em sua trama: o assalto e as consequências dele.
O filme parece entender que a estrutura da história de Tom, Pope e cia não é tão diferente daquela dos rapazes de "Onze Homens e Um Segredo", que também estavam planejando um golpe. Nos envolvemos com a vida íntima de cada um deles para que entendamos suas ações e as motivações por trás delas -- para que torçamos por eles, basicamente.
Virando o jogo
Ao mesmo tempo em que segue uma fórmula de ação satisfatória, "Operação Fronteira" busca complexidade ao analisar a moralidade da missão dos seus protagonistas, e as razões pelas quais eles decidiram partir nela.
Com pouco mais de 2h de duração, o filme tem amplo espaço para deixar claro o seu ponto mais profundo, e nos fazer entender que a vida destes homens foi para sempre perturbada pelos atos violentos que seu país pediu deles quando estavam no exército -- e que, depois de completarem os seus anos de serviço, eles foram deixados a esmo, sem nenhum apoio institucional que tentasse compensar essa tragédia.
Por ser tão direto na maior parte do tempo, "Operação Fronteira" surpreende nos momentos em que deixa seus personagens expressarem este lado de sua trama. O filme é, afinal, obra do homem que escreveu "Guerra ao Terror", um filme que entende profundamente que a guerra não pode ser tratada como algo que enobrece ou edifica o soldado.
Os veteranos de "Operação Fronteira", vividos com garra pelo ótimo elenco (Isaac, Affleck e Pascal são os destaques) não são nobres. Houve um tempo em que eles foram homens bons, o filme nos diz, mas agora eles são só homens desesperados.
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