"É uma lição de moral", diz Ben Affleck sobre "Operação Fronteira", da Netflix
Em "Operação Fronteira", filme que chega à Netflix hoje, americanos veteranos de guerra decidem entrar ilegalmente num país da América do Sul para derrubar um poderoso traficante de drogas e, de quebra, roubar todo seu dinheiro. O bando de cinco mercenários é liderado pelo personagem de Oscar Isaac, Santiago 'Pope' Garcia, que ficou anos tentando capturar o bandido pelos meios oficiais e agora quer fazê-lo por conta própria, já que a polícia local é corrupta demais.
Até que o plano desanda e eles vão parar na Cordilheira dos Andes com algumas dezenas de malas de dinheiro. Ben Affleck vive Tom 'Redfly' Davis, um ex-militar relutante com a ideia, mas acaba transformado pela ganância. Completam o grupo Charlie Hunnam, Garrett Hedlund e Pedro Pascal.
"Você precisa ficar ajustando o que acha de cada personagem de acordo com as escolhas que eles fazem", disse Affleck ao UOL. "Você torce para que eles façam a coisa certa, mas depois percebe que a missão não é tão ética assim. São personagens complicados."
Qualquer similaridade com invasões americanas em outros países não é mera coincidência, e o momento é ainda mais especial por conta da Venezuela. Os EUA estão acompanhando de perto o imbróglio entre o autoproclamado presidente interino Juan Guaidó e o ditador Nicolás Maduro.
"O filme é uma lição moral sobre as consequências não intencionais, mesmo que pelas razões mais nobres", disse Affleck sobre a situação atual na região. "É impossível entender todas ramificações do que acontece quando você interfere militarmente em outro país. Potencialmente é algo catastrófico, certamente pessoas morrem e sofrem. A agenda de um país é imposta a outro."
Para Isaac, que nasceu na Guatemala, há muitas vozes no governo americano com objetivos distintos. "Vejo muitos políticos usando [a Venezuela] como uma forma de manipulação, em vez de realmente se importar com o que está acontecendo lá de fato", disse.
Em inglês, o nome original do longa significa "tríplice fronteira", região conhecida por reunir as fronteiras do Brasil, Paraguai e Argentina, embora existam várias outras fronteiras tríplices na América do Sul, menos famosas.
O filme só mostra uma placa do Brasil, quando os americanos cruzam uma floresta para chegar à mansão isolada e ultra-protegida do traficante, e o espectador fica sem saber ao certo em que país entraram ou por qual tentam sair.
O diretor J.C. Chandor ("O Ano Mais Violento", 2014) explica que queria que a história fosse mais universal, por isso deixa tudo no ar. "Sei que é um pouco complicado para o público na América Latina e espero que eles entendam", disse. "A situação socioeconômica e política muda tanto na região que senti que não seria justo ou que não teria necessidade de ser específico."
As filmagens de "Operação Fronteira" aconteceram nas florestas úmidas da ilha Oahu, no Havaí, e nas altas montanhas geladas de Mammoth, na Califórnia. As cenas de ação que abrem o filme foram rodadas numa comunidade da capital colombiana Bogotá.
Os atores contaram que havia tantos cães vira-latas na região que a equipe do filme montou uma clínica veterinária para vacinar e alimentar cerca de 75 animais.
"Foi interessante ver a equipe americana se adaptando à Colômbia, vendo que Bogotá é uma cidade segura e que Pablo Escobar não tem mais nenhuma influência", disse a atriz Adria Arjona, que faz a mocinha local que ajuda e é salva pelos gringos. "Foi muito legal o que fizeram com os cachorros. Acho que o diretor até adotou um."
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