Crítica: "Lua de Cristal" do século 21, "Cinderela Pop" coroa Maisa como "nova Xuxa"
Nenhuma artista fala tão bem para o público infantojuvenil como Maisa. Autêntica, inteligente e talentosa, a menina prodígio de Silvio Santos reina na TV e nas redes sociais há mais de uma década. Prestes a estrear um programa no SBT, ela também começa a ocupar o cinema. "Cinderela Pop", lançado hoje, é a "Lua de Cristal" que faltava para coroar Maisa como a nova "rainha dos baixinhos".
É pretensioso demais destronar Xuxa Meneghel e colocar Maisa no lugar? Não. Estamos comparando duas gerações diferentes. A loira global viveu seu auge com os "baixinhos" nos anos 80 e 90 (década em que também falou com adolescentes). As crianças mudaram, e a forma de chegar até elas também. Maisa, adolescente mais seguida no mundo no Instagram, sabe se comunicar com este público como ninguém.
Xuxa tornou-se "rainha dos baixinhos" em uma época em que o público mirim se dividia entre Angélica, Mara Maravilha e, mais adiante, Eliana. A concorrência de Maisa vai além do controle remoto. No smartphone, ela "disputa" espaço com colegas do SBT, como Larissa Manoela, e youtubers como os irmãos Felipe e Luccas Neto. Maisinha, que construiu seu público na TV, nada de braçada na internet.
"Cinderela Pop" e "Lua de Cristal"
E "Cinderela Pop"? Também não é pretensioso (muito menos ofensivo) comparar o filme de Maisa a "Lua de Cristal", um dos maiores clássicos do cinema trash brasileiro e líder de bilheteria na década de 1990. Ambos bebem da mesma fonte e atualizam contos de fadas com elementos semelhantes.
Comecemos por Maisa (a partir daqui, o texto contém spoilers do filme). No longa-metragem dirigido por Bruno Garotti (de "Tudo Por Um Popstar", também com Maisa), a atriz interpreta Cintia Dorella, adolescente que sonha ser DJ. Em "Lua de Cristal", Maria da Graça (Xuxa) também ama música e deixa o interior para realizar o desejo de ser cantora.
Na festa da família, Cintia vê o pai, César (Marcelo Valle), traindo a mãe, Ana (Miriam Freeland), com a amante, Patricia (Fernanda Paes Leme). A partir desse "climão", a adolescente passa a desacreditar no amor. Durante a celebração, porém, ela esbarra em Fredy Prince (Filipe Bragança), que voltaria a ver no futuro. Coincidências à parte, foi com um esbarrão que Maria da Graça conheceu o entregador de pizzas Bob (Sérgio Mallandro).
Na cidade grande, a personagem de Xuxa passa a viver com a tia Zuleika (Marilu Bueno), mas o problema maior é com a prima, Lidinha (Júlia Lemmertz), que comete injustiças só para prejudicar Maria. A "Lidinha" de "Cinderela Pop" é Patricia, mulher de César e madrasta má (como manda o clichê) de Cintia (ela chega a se bater para fingir que foi agredida e manipula as notas do boletim da enteada).
Empoderamento
Os "anjos da guarda" das protagonistas também se parecem. Tanto em "Cinderela Pop" quanto em "Lua de Cristal", elas são ajudadas por amigas empoderadas. Cintia tem a tia Helena (Elisa Pinheiro), assumidamente feminista e antirromântica. Ela dá conselhos à sobrinha, e o namorado dela, Rafa (Sergio Malheiros), ensina a personagem de Maisa a discotecar. Maria da Graça tem Duda (Duda Little), menina de oito anos que anda de skate e adora aprontar com Zuleika e Lidinha.
"Cinderela Pop" desconstrói a busca da "princesa" pelo "príncipe encantado". É Fredy Prince que se apaixona e publica no YouTube um vídeo procurando a DJ Cinderela (nome artístico de Cintia Dorella). Um tênis All Star substitui o sapatinho de cristal do conto de fadas. E a youtuber Belinha (Giovanna Grigio) tenta abrir os olhos de meninas que se apaixonam por "boys lixo".
Em "Lua de Cristal" e "Cinderela Pop", Maria da Graça e Cintia Dorella sonham com uma carreira profissional, são prejudicadas por vilãs, se empoderam com a ajuda de outras mulheres e, após muitos perrengues, realizam seus desejos. Como canta Xuxa, "o sonho sempre vem pra quem sonhar".
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