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"Free Solo": A fascinante (e arriscada) história por trás do doc indicado ao Oscar

Alex Honnold escalou a montanha El Capitan, um feito registrado no documentário "Free Solo" - National Geographic/Jimmy Chin
Alex Honnold escalou a montanha El Capitan, um feito registrado no documentário "Free Solo"
Imagem: National Geographic/Jimmy Chin

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

23/02/2019 04h00

Dentre os concorrentes ao Oscar de melhor documentário, "Free Solo" é aquele que, sem dúvidas, enfrentou as dificuldades mais incomuns durante suas filmagens. O longa, afinal, acompanha a fascinante jornada de Alex Honnold, alpinista que decidiu escalar, sem qualquer proteção, uma das mais famosas montanhas de granito do mundo: a El Capitan, com 914 metros de altura.

Era um feito tão inédito quanto arriscado - até para um dos mais reconhecidos alpinistas em solo integral (ou seja, que não utilizam cordas) do mundo. Um passo em falso é a diferença entre o triunfo e a morte certa, o que tanto Honnold quanto os diretores Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin reconhecem ao longo do documentário, cuja estreia no Brasil está prevista para o dia 9 de março, pelo National Geographic.

A subida de Honnold, hoje com 33 anos, é capturada em detalhes, em imagens belíssimas que tiram o fôlego, mas não escondem o risco envolvido no processo. Segundo o alpinista, no entanto, a produção não teve de tomar precauções adicionais para garantir sua segurança. "Acho que estávamos lidando com as mesmas questões de segurança que você sempre enfrenta como um alpinista", conta Honnold ao UOL. "Sempre que você vai às montanhas, você precisa tomar certos cuidados, você precisa pensar na segurança de certas formas. O fato de estarmos fazendo um filme não mudou muito a forma como pensávamos na segurança".

Ajudou que o diretor Jimmy Chin seja, também, um alpinista profissional - e com experiência por trás das câmeras. Ele e Vasarhelyi, que são casados, dirigiram juntos o documentário "Meru", que acompanhava três alpinistas que encaravam o monte Meru, nos Himalaias. A produção foi eleita como o documentário preferido do público no Festival de Sundance, em 2015.

"Jimmy Chin passou os últimos 20, 25 anos nas montanhas o tempo todo, e nós dois temos escalado há mais de uma década, então estamos bem acostumados a usar o nosso tempo calculando e mitigando os riscos da melhor forma que podemos. Em muitos sentidos, a produção foi bem normal; estava só passando tempo na montanha com meus amigos", diz Honnold.

Experiência solitária?

O Alex Honnold apresentado no documentário é uma figura peculiar: introvertido, franco e tão completamente apaixonado pelo que faz que mora em uma van e admite, sem hesitar, que sempre priorizaria a escalada em detrimento do amor. 

Veja o trailer do documentário "Free Solo"

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Focado, ele se preparou por dois anos para realizar o sonho de escalar o El Cap, localizado no Yosemite Valley, na Califórnia. Os diretores e o resto da equipe o acompanharam do começo ao fim do processo, o que, para Honnold, levou à sintonia que fez toda a experiência dar certo. "Eles aprenderam exatamente o que precisavam fazer e como poderiam registrar tudo sem comprometer a minha experiência", lembra. 

Para o alpinista, foi o "melhor de dois mundos": "Eles puderam fazer tomadas lindas, mas nunca ficaram no meu caminho e eu nunca tive que esperar por ninguém. Nunca senti que as filmagens estavam mudando a minha experiência - mas elas significavam que eu teria amigos para comemorar comigo quando eu fosse bem-sucedido". 

Esse apoio durante o desafio foi, em parte, o que fez Honnold aceitar ter sua jornada transformada em um documentário. "El Cap era um desafio tão grande para mim que eu poderia ter feito tudo sozinho, mas foi definitivamente mais fácil compartilhar essa carga com a equipe de câmeras e com alguns dos meus amigos. Fazer isso completamente isolado teria sido muito mais difícil para mim".

Alex Honnold no documentário "Free Solo" - Divulgação - Divulgação
Alex Honnold no documentário "Free Solo"
Imagem: Divulgação

A subida

No dia de sua escalada, Alex Honnold não tinha outros pensamentos em sua mente. "Não havia muitas coisas passando pela minha cabeça", recorda. "Eu estava focado na escalada em si, só executando os movimentos. Mas isso porque eu havia passado os dois anos anteriores pensando em todos os diferentes cenários, imaginando os diferentes resultados e imaginando como eu iria me sentir. Eu tinha me preparado tanto, mentalmente, que isso me permitiu apenas performar no dia da escalada". 

E o medo? Segundo o alpinista, a preparação mental também foi a chave para controlá-lo "A forma mais fácil de lidar com o medo é se preparar até o ponto em que você não teme mais porque tem confiança de que pode fazer o que você está se propondo a fazer. Obviamente é mais complicado, porque às vezes acontecem coisas, você fica com medo, e é tudo parte do processo. Tive que trabalhar nisso, passar o tempo visualizando [a subida]; você tem que se esforçar", conclui. 

As dificuldades

Houve, claro, momentos delicados no processo. O mais difícil, para Honnold, foi a falha em sua primeira tentativa de subir o El Capitan. "Acho que foi muito difícil para mim porque eu nunca havia falhado em um solo integral para o qual me preparei antes. Eu me esforcei muito e achei que estava pronto, mas na verdade eu não estava e tive que desistir", conta. "Foi ligeiramente vergonhoso para mim porque muitos dos meus amigos da equipe haviam se preparado para filmar lá no topo, e senti que os havia decepcionado um pouco. Apesar de eles não terem me pressionado, eu ainda fiquei envergonhado por ter falhado".

Parte das cenas com a namorada Sanni McCandless, que acaba ganhando grande destaque ao longo de "Free Solo", também são incômodas - principalmente pela forma dura como Honnold a trata. "Em várias das cenas do nosso relacionamento, eu soo muito grosseiro; acho que rude seria a melhor forma de descrever. É difícil assistir a essas cenas, e é um bom lembrete de que eu deveria ser mais atencioso e carinhoso nos meus relacionamentos". 

"Mas são momentos honestos", ressalva. "São conversas que tivemos. É um bom lembrete de que você deve tratar bem as pessoas com que você se importa".