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Gavin Rossdale, do Bush: "Não julgo ninguém, mas jamais me mataria"

O vocalista Gavin Rossdale, que retomou o Bush em 2010 - Divulgação
O vocalista Gavin Rossdale, que retomou o Bush em 2010 Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

13/02/2019 04h00

Quem ama os anos 90 e curte guitarras com refrãos pegajosos tem praticamente um dever cívico amanhã: ir ao show da dobradinha Bush e Stone Temple Pilots em São Paulo, que acontece no Credicard Hall, na zona sul da capital. Evocando nostalgia e hits de uma década cada vez mais em voga, a apresentação conjunta passará ainda pelo Rio (dia 15, Km de Vantagem Hall) e Belo Horizonte (dia 17, Km de Vantagem Hall), com abertura do grupo brasileiro República.

Nas palavras do vocalista Gavin Rossdale, líder e muso do Bush, o clima para as apresentações com o STP é o melhor possível, e ele mal pode esperar para reencontrar amigos e os fãs brasileiros (eles vieram em 1997). O que se pode esperar do repertório são as obrigatórias "Machine Head", "The Chemicals Between Us" e "Glycerine".

"E sangue, suor e poucas lágrimas", brinca o ex-marido de Gwen Stefani em entrevista ao UOL. "Poucas porque são lágrimas de homem, sabe? Aquelas que aparecem no canto do seu olho, sem preenchê-lo totalmente."

A conversa também teve assunto sério. Um dos temas foi a trágica morte do amigo Chris Cornell, que lhe rendeu "uma das lembranças mais fortes da vida". Sobre a relação do com a imprensa de celebridade, que o persegue desde que o Bush começou a acontecer nos Estados Unidos há 25 anos, a resposta é compreensiva: "Já vi pessoas reclamando que perderam seus empregos e ficaram sem ter como como alimentar sua família, e por isso tiveram de trabalhar com isso".

Cinco perguntas para Gavin Rossdale

UOL - Qual legado que vocês, o STP e as bandas do grunge e pós-grunge deixaram para o rock?

Gavin Rossdale - Acho que algumas bandas vão durar para sempre. Você viu a empolgação que rolou no retorno do Smashing Pumpkins? Acho que o legado de qualquer artista é sempre a música. Quando ela é boa, ela dura. Algumas bandas também têm como legado o comportamento, como o Mötley Crüe, por exemplo, que está sempre associado ao sexo e drogas, nem sempre à música. Na verdade, não sei qual é o meu legado. Espero que não seja o fato de eu ter tido uma vida turbulenta, mas que fiz músicas que emocionaram as pessoas, que a confortaram de alguma forma, que as protegeram dos problemas da vida. Um refúgio contra a solidão.

Gavin Rossdale se apresenta com o Bush em Teotihuacan, no México - Carlos Tischler/Getty Images - Carlos Tischler/Getty Images
Imagem: Carlos Tischler/Getty Images

Muita gente pensa que Bush é uma banda dos EUA, não da Inglaterra. Dá para dizer que há uma aura "americana" no trabalho de vocês?

Não acho. O que acontece é que na Inglaterra eles não promovem sua música ou te ajudam se você tiver guitarras. É um fato. Nós fazemos shows na Inglaterra, fazemos muitos bons negócios lá, mas a cultura inglesa não promove de forma alguma o rock. Não há estações de rock. Então é muito difícil para bandas inglesas de rock serem parte da cultura. Você pode tocar em festivais para 40 mil pessoas no Leeds Festival, no Reading Festival, mas é diferente. Eu mudei para os Estados Unidos com o Bush talvez como profeta, pra tentar ver como seria o futuro. Deu certo.

Há mais de 20 anos você é um dos alvos favoritos da imprensa de celebridades. O quanto isso ainda te irrita?

Já vi pessoas reclamando que perderam seus empregos e ficaram sem ter como como alimentar sua família, e por isso tiveram de trabalhar como papparazo. Eles trabalham em condições difíceis, às vezes perigosas. Não estou dizendo que o que fazem é bom, que gosto. Não incentivo. Não saio por aí e digo que estou indo para tal restaurante, já que estou bonito hoje e ficaria bem na foto. Mas eu sou um músico, sabe? No fundo, eles estão ali por isso. As pessoas precisam de coisas para clicar e os sites precisam de anunciantes. No fim, é só um um negócio. O que não gosto é quando a imprensa te engole e cospe de volta sem dó, fazendo sua vida desmoronar. Para eles, pode ser só um clique ou jornal vendido, mas isso pode foder uma vida. Não que tenha acontecido comigo.

Você esteve no funeral do Chris Cornell em 2017. Como recebeu a notícia?

Estávamos fazendo muitos shows nos mesmos festivais. Estava em Memphis quando o vi pela última vez. Eu me senti horrível quando soube, principalmente por causa dos filhos e da mulher dele. Os fãs se sentiram mal porque perderam um talento incrível, uma das melhores vozes de todos os tempos do rock. Mas eu jamais esquecerei quando fiquei de pé do lado da sepultura, com o filho dele, de 12 anos, o Chris. Ele ficou de pé ali durante muito tempo, protegendo a sepultura do pai. Foi uma das imagens mais fortes que vi na minha vida. Uma criança passando por tudo aquilo em um funeral. Nunca esquecerei. E é por isso que eu nunca poderia me matar.

Pessoas que se matam têm problemas psicológicos sérios, às vezes envolvendo drogas. Me sinto mal só de pensar e não julgo ninguém, mas sou obcecado demais pelos meus filhos. Não importa o quão ruim esteja minha vida, jamais me mataria
Gavin Rossdale

Veteranos como vocês continuam fazendo turnês de sucesso pelo mundo, o que nem sempre acontece com bandas novas. O que de há errado com a nova cena do rock? Você escuta bandas novas?

Sim, escuto as boas. Gosto do Greta Van Fleet, gosto do The Kills. Algumas não são tão novas, porque sou um cara que faz sempre as mesmas coisas. Eu sempre escuto a playlist do Spotify do novo rock para checar o que está rolando. Mas é um pouco raro eu chegar e dizer: "Uau, eu gostei realmente dessa banda". Na maioria das vezes as bandas novas soam similares. Para mim, a maioria do hip-hop soa entediante também. Kendrick Lamar, Future, Travis Scott, Drake. Todos eles têm coisas incríveis, com grandes vocais, mas há muita porcaria vindo junto.

Bush e Stone Temple Pilots em São Paulo

Onde: Credicard Hall
Quando: 14 de fevereiro
Quanto: R$ 165 a R$ 600
Ingressos: http://premier.ticketsforfun.com.br/