Quem é Kacey Musgraves, que ganhou o Grammy desafiando os tabus do country
Kacey Musgraves começou a compor canções aos oito anos de idade, aprendeu a tocar o bandolim (um instrumento de cordas bastante usado no country) aos 12, e gravou suas primeiras músicas aos 18. Na noite deste domingo (11), aos 30 anos de idade, Musgraves coroou a trajetória de prodígio ao vencer o prêmio de melhor álbum do ano, e mais três outras estatuetas do Grammy, pelo disco "Golden Hour", lançado no ano passado.
O álbum é o quarto da carreira de Musgraves, que cultivou a imagem de quebradora de tabus na normalmente conservadora música country americana. Ela mistura elementos pop na música e aborda temas que o gênero normalmente evita, como homossexualidade e maconha, ambos tópicos da polêmica canção "Follow Your Arrow", de 2013.
Incluída no álbum de estreia de Musgraves, "Same Trailer Different Park", a canção causou polêmica por trazer um questionamento da mentalidade conservadora do interior dos EUA. No refrão, após constatar que qualquer escolha de vida será criticada pelos fofoqueiros, Musgraves declama: "Então beije muitos garotos, ou muitas garotas/ Se você gosta disso/ Quando o caminho tradicional fica estreito demais/ Enrole um baseado, ou não/ Só siga sua flecha/ Onde quer que ela aponte".
Embora seja casada com o compositor Ruston Kelly desde outubro de 2017, Musgraves se mostrou uma das raras apoiadoras incondicionais da causa LGBTQ+ na música country. Apesar das críticas que recebeu por "Follow Your Arrow", a cantora foi também abraçada pela comunidade gay e ganhou a fama de "rebelde" da nova geração do country.
Ela volta a abordar o tema da homossexualidade, ainda que indiretamente, em "Rainbow", canção do "Golden Hour" que ganhou clipe na noite de ontem, horas antes de Musgraves apresentá-la no Grammy. No tocante refrão, ela crava: "Se segure ao seu guarda-chuva/ Mas querido, eu só queria te dizer/ Que sempre houve um arco-íris em cima da sua cabeça".
A mensagem de esperança e os temas subversivos para a música country vem juntos com uma sonoridade que alcança um público que normalmente não se aproximaria do gênero. Em "Golden Hour", especialmente, Musgraves cria um country mais aberto a influências e mais eclético.
Para representar essa versatilidade, basta olhar para as duas músicas do álbum que foram premiadas pelo Grammy. A primeira, "Space Cowboy" (que venceu melhor canção country), é uma balada com elementos de pop que parece criticar a masculinidade antiquada do caubói que não quer "se comprometer".
Já a segunda, "Butterflies" (premiada como melhor performance country solo), empresta o estilo mais leve de artistas como Colbie Caillat para contar sobre uma paixão saudável. "Você está me levantando ao invés de me segurar/ Roubando meu coração ao invés de minha coroa", celebra Musgraves em um verso.
Enquanto isso, outro hit do disco é "High Horse", uma música dançante que empresta elementos da disco music e mostra Musgraves versando de forma venenosa sobre "aquela pessoa que estraga a vibe toda vez que abre a boca". "Eu acho que já vi o bastante/ Para saber que você nunca vai descer do cavalo/ Então empine e cavalgue para longe daqui", brinca no refrão.
A vitória de Musgraves e do "Golden Hour" no Grammy é animadora porque traz o country, um dos gêneros com mais história nos EUA, para o século 21. Antes de 2019, o último disco do gênero a vencer álbum do ano na premiação foi "Fearless", de Taylor Swift, em 2010.
É curioso observar que, seis anos depois daquela vitória, Swift ganharia uma segunda estatueta de álbum do ano por "1989", disco que consagrou sua virada para o pop. Esta mudança radical de uma das maiores estrelas recentes do segmento é só um dos sintomas da fadiga enfrentada pelo gênero, que cada vez mais se confina em um nicho específico de público.
Musgraves, com suas letras rebeldes e sua abordagem mais livre do country, surgiu prometendo ser a pessoa a mudar isso. Em meio a críticas e elogios, o Grammy é a legitimação do seu triunfo.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.