Ver o Prêmio Multishow ao vivo é mais entediante do que assistir do sofá
O Prêmio Multishow chega a sua 25ª edição estabelecendo um conceito próprio do que é a música pop no país, uma versão limpinha e produzida do que é sucesso no Brasil profundo. Mais uma vez a cerimônia consagrou o funk como o estilo preferido da juventude brasileira. Além de Anitta e Iza representando a vertente mais pop, Kekel entrou com uma big band dando base instrumental para seus hits.
Jovens periféricos, negros e gays ganharam o palco. Não à toa, a alguns dias do evento Mulheres contra Bolsonaro, o grito “Ele não” foi levantado por Pabllo Vittar e pela Baiana System. Até Luan Santana, com uma lisura ímpar, fez questão de lembrar do “momento importante” que o país vive. Os sertanejos, aliás, tiveram uma presença muito menor que nos anos anteriores.
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O funk 150 BPM, estilo dominante nos bailes de favela e que ainda deve demorar pra pegar no Multishow, marcou presença no “after party”. João Brasil mixou vertentes do estilo e contrastou com o que foi apresentado antes. Só decepcionou ao tocar as versões “light” de “Tá na Gaiola” e “Final de Semana”. Qual o problema de dizer que “tudo vai acabar em putaria”?
Tudo parece mais bonito do sofá: um olho na TV e outro nas mídias sociais. Você torce, a favor ou contra, pela celebridade da vez, se diverte tentando adivinhar os campeões, debate com o coleguinha se é tudo armação ou jabá. Mas como é a experiência para aquele punhado de gente que teve a sorte (ou não) de conferir tudo ao vivo?
Bom, o evento acontece numa grande arena na zona oeste do Rio, a plateia é formada em parte por artistas, profissionais da área musical, celebridades, subcelebridades, que assistem ao prêmio sentados, enquanto duas centenas de fãs (basicamente aficionados pelo Luan Santana) lotam o fosso ao redor do palco.
O convite intima a galera a chegar horas antes do início da transmissão, e mesmo com as atrações musicais e birita grátis, pessoas ansiosas ou da melhor idade costumam querer logo entrar e se sentar no salão principal onde rola a interminável premiação.
Escorado entre o bar e o portão dessa área principal, dava para ver de um lado um Baco Exu do Blues, humildão na fila dos drinques, e do outro, um Caetano e sua entourage impacientes. Entre os dois, uns 50 anos de baianidade.
E ainda nem dava pra saber que Baco, autor da pedrada “Te Amo Disgraça”, empataria com Anitta, levando dois prêmios, Canção do Ano e Prêmio Revelação. A diferença é que os do jovem baiano foram escolhidos por um júri especializado, enquanto os demais troféus seguem os critérios do público, que há 25 anos transformaram Ivete Sangalo, Luan Santana e Anitta em figuras onipresentes.
Mesmo com bebidas gratuitas, assistir o prêmio ao vivo consegue ser mais entediante do que em casa, mas logo você começa a descobrir maneiras de se divertir com Tatá Werneck, seja fugindo do texto do teleprompter para provocar, seja simulando um passo manco no salto. Ela é realmente foda e levou o evento nas costas, ainda mais com Anitta enfrentando essa fase de gongação geral.
A verdade é que em um momento a festa ao vivo teve pequena vantagem em relação ao sofá. Entre uma cerveja morna e outra, no meio de montação, lacre e desconhecidos, deu para observar o insosso rapaz que “pegou” a Anitta. Ele bebia com os amigos, enquanto a diva pop postava stories beijando seu cachorro em casa. Realmente nem tudo acaba em putaria.
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