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Caetano Veloso homenageia Mr. Catra: "Me fascinou para sempre"

Catra e Caetano Veloso - Divulgação/Multishow
Catra e Caetano Veloso Imagem: Divulgação/Multishow

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

10/09/2018 07h21

A morte de Mr. Catra chocou a cena musical brasileira, com gente de todos os estilos prestando homenagens ao funkeiro, que não resistiu a um câncer gástrico. Caetano Veloso foi um deles, que aproveitou o momento para lembrar de como conheceu Catra e não mais o esqueceu: "Me fascinou para sempre".

Caetano usou suas redes sociais para compartilhar um longo texto sobre o primeiro encontro entre eles e dividiu com seus fãs também um vídeo de ambos cantando "Vaca Profana" no programa "Bagulho Doido", no Multishow. 

"Quando, nos anos 90, o Orfeu de Cacá Diegues ficou pronto, fomos exibi-lo em Vigário Geral e no Vidigal. Em Vigário, houve um show em que eu cantava canções que compus para o filme e, representando o som de rap e funk das favelas que (para desgosto de Kenneth Maxwell) pontuava suas cenas, subiram ao palco MV Bill e Mr. Catra. (...) Quando Bill foi anunciado, houve aplausos mais intensos e cresceu muito o número de espectadores frente ao palco. Mas a multidão se multiplicou e delirava ao grito do nome de Mr. Catra. Muita gente vinha dos barracos, gente que nem tinha se abalado para vir ver o filme. Fiquei fã de Bill, cuja música já conhecia, impressionado com sua beleza, elegância e integridade. E Catra, que eu desconhecia totalmente, me fascinou para sempre. Fiquei amigo tanto de Bill quanto de Catra", relatou Caetano.

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O baiano comentou as surpresas e contradições que faziam de Catra o que é. 

"Catra foi uma série de surpreendentes revelações. Sua voz, suas conversas, suas histórias, sua vida, sua obra. Em Vigário Geral ouvi coisas que vieram a ser conhecidas como funk proibidão. Depois ouvi de Catra em autobiografia em que ele, criado por família branca de classe média, resolveu, adulto, ir viver na favela. Mais tarde, fui vê-lo cantar no Paris Café, no Recreio dos Bandeirantes, canções religiosas hebraicas sobre base eletrônica, entre damas da noite de salto alto e sem roupa. Seu amor por Israel era imenso. Sua visão da história era ousada e problematizada pessoalmente ("negros é que escravizaram negros e os venderam na costa"; "não precisamos de cotas mas de reencontrar a nobreza negra"; "não vou votar em ninguém em 2018: do jeito que tá hoje, me arrependo de ter lutado pela redemocratização"). Teve vida poligâmica organizada", enumera Caetano.

Por fim, o baiano prestou homenagem a quem, segundo ele, devia ser caso de estudo pelos brasileiros. 

"Ele representava coisas essenciais do ethos das periferias urbanas brasileiras. E era um cara alto astral, que sabia gostar de viver. É um caso existencial que o Brasil deveria amadurecer para estudar. O povo e tantos de nós amadurecemos para amar. 32 filhos. Muita coisa para ser vivida em apenas 49 anos", concluiu.

Catra está sendo velado nesta segunda-feira em Guarulhos (SP), em evento para familiares e amigos próximos. Um segundo velório será feito terça-feira no Rio de Janeiro, aberto ao público, mas ainda sem local divulgado.