Autora de "A Barraca do Beijo" concilia carreira na física com sucesso mundial
Ela tem apenas 23 anos e já acumula duas carreiras. Há sete anos, quando escreveu seu primeiro romance, Beth Reekles mal poderia imaginar como “A Barraca do Beijo” mudaria a sua vida. Em entrevista ao UOL enquanto visitava a Bienal do Livro de São Paulo, no sábado (4), a jovem que vive e trabalha em uma empresa de energia no sul do País de Gales não conseguia esconder sua surpresa com a calorosa recepção do público brasileiro.
Entre um pão de queijo e outras delícias típicas brasileiras, Beth contou sobre o quanto sua vida mudou desde que a Netflix lançou um filme baseado no livro dela em maio deste ano. Formada em física, ela tinha a escrita como hobby desde a adolescência. Hoje já admite que ser autora toma quase tanto de seu tempo quanto o trabalho em período integral.
Quando perguntada do momento em que se deu conta de que era uma escritora de sucesso, não hesitou em responder “hoje!”, e seguiu observando pelas paredes de vidro os corredores lotados de gente no dia mais concorrido da feira literária. É a primeira vez dela no Brasil.
Publicado originalmente em 2012 depois de ter mais de 20 milhões de acessos na plataforma Wattpad, o primeiro livro da britânica ganhou um filme homônimo que também segue batendo recordes na Netflix. Segundo um levantamento do serviço de streaming, uma a cada três pessoas que viram a comédia romântica repetiram a dose.
“A Barraca do Beijo” conta a história de Elle, uma menina que nunca foi beijada e mantém um crush por Noah, o irmão mais velho bonitão do seu melhor amigo, Lee. O problema é que ela prometeu ao amigo que jamais se envolveria com o irmão dele. Até que uma barraca do beijo em uma festa beneficente da escola muda todo o rumo da história.
Tamanho sucesso nas telas reflete também no livro. Na Bienal, somente a presença da autora no estande da editora garantiu um boom instantâneo nas vendas. A barraca do beijo montada do lado de fora do espaço gerou filas de pessoas querendo uma foto fofinha.
Depois do primeiro contato, Beth Reekles volta ao Anhembi neste domingo (5) para conversar com o público da Bienal na área mais concorrida do evento, a Arena Cultural, às 11h. O que ela pretende dizer aos fãs brasileiros? “Obrigada”, responde em português, usando a primeira palavra que ela aprendeu do idioma. A segunda? “A Barraca do Beijo”, claro.
Veja trechos da conversa com Beth Reekles:
UOL: Você tinha 15 anos quando escreveu “A Barraca do Beijo”. O livro foi baseado em uma experiência pessoal sua?
Beth Reekles: Não foi baseado em uma experiência própria, mas ajudou o fato de eu ser uma adolescente tentando entender como funcionavam os relacionamentos e preocupada como o meu primeiro beijo, além de ter muitos amigos passando pelas mesmas coisas. Era também o tipo de história que eu gostava de ler.
Você é britânica e vive no País de Gales, mas escreveu uma história completamente ambientada na cultura norte-americana. Por quê?
Quando eu comecei a escrever não pensei só em mim, pensei no público, pois minha ideia já era publicar online. A plataforma que eu escolhi postar tem uma audiência internacional, então pensei que se eu ambientasse a história no Reino Unido teria de explicar o nosso sistema de educação, que é muito diferente. Por isso decidi escrever com base no sistema americano de educação já que a maioria das pessoas sabe como funciona por causa de filmes como “Garotas Malvadas” e séries como “Gossip Girl”.
Quando você se deu conta de que era uma escritora de sucesso?
Hoje eu acho! Rs… Mas uma vez que eu me dei conta que eu era realmente boa foi quando postei um capítulo de “A Barraca do Beijo” no Wattpad que envolvia a Elle e o Noah. Postei à noite para que meus leitores na América pudessem ler logo depois da aula. Então desliguei o laptop e fui dormir. Na manhã seguinte quando abri o computador tinha recebido centenas de mensagens. Foi aí que pensei: ‘meu Deus, as pessoas realmente estão gostando disso’. Talvez eu não seja tão ruim assim na escrita.
Que conselho você daria a uma escritora tão jovem como você?
Eu recomendaria compartilhar o seu trabalho seja online em plataformas como o Wattpad, ou com os seus amigos. Ajuda muito quando você toma essa atitude. Principalmente quando é online, pois você sabe que a reação do público vai ser mais verdadeira. Eu pensava que se mostrasse só para os meus conhecidos eles poderiam dizer que estava bom só para serem legais comigo. Já quando postei online, e as pessoas começaram a elogiar, elas não estavam fazendo isso só porque eram minhas amigas. Mas as pessoas que começaram a ler o meu trabalho online foram tão bacanas que aquilo foi um combustível para que eu continuasse a escrever.
Por que você acha que, entre tantos romances adolescentes, o seu acabou virando um fenômeno?
Acho que a grande diferença do livro está na amizade entre Lee e Elle que tem um laço muito forte e ao mesmo tempo é platônica. É claro que a questão do romance com o Noah toma boa parte da história. Muitas pessoas acabam achando que é um triângulo amoroso, mas na verdade não é, tem essa amizade. Você não vê muito essa questão da amizade entre homens e mulheres em outros livros, acho que isso foi algo que despertou a atenção. Já as regras da amizade foram algo que não tem no livro, só entraram no filme, mas achei uma ideia muito boa e fofa.
Você é formada em física e trabalha com isso, mas também está se destacando muito como autora. Como concilia os trabalhos?
Eu tenho um trabalho em tempo integral com tecnologia, trabalho para uma empresa de energia, que tem a ver com a minha formação em física. Eu amo meu trabalho e quero construir uma carreira voltada para isso. Mas desde que a adaptação do livro foi lançada pela Netflix eu estou tendo que conciliar minha agenda com mais cuidado. Antes até faria sentido eu dizer que a escrita era um hobby ao qual eu me dedicava ocasionalmente, mas agora estou cada vez mais tendo que pedir uns dias de folga para lidar com questões do livro. Tipo: ‘preciso de uns dias para ir até São Paulo’. Eu ainda estranho, principalmente depois que o filme saiu. Eu trabalho e chego à noite em casa. Vou checar minhas redes sociais e tem muita interação e eu tento responder o máximo que eu posso. Também tem as entrevistas, os blogs. Eu fico exausta, tem sido uma loucura nas últimas semanas.
Como a Netflix chegou até você?
Primeiro vendi os direitos para uma produtora britânica em 2015 chamada Comics. Eles falaram sobre o quanto gostaram do livro e a ideia deles para o filme e foi muito bacana, fiquei muito contente de assinar com eles. Eu já estava recebendo mensagens de agentes de Hollywood, mas fiquei muito satisfeita em assinar com a Comics. Eles que trouxeram Vince Marcello para fazer o roteiro e eu pude opinar também. O Vince (que também dirige o filme) me deu a oportunidade de opinar sobre as mudanças que ele queria fazer e isso tudo foi muito enriquecedor para mim. Fiquei muito satisfeita com as ideias dele e curiosa para ver no que ia dar. A Comics ofereceu para a Netflix, que adorou. Aí recebi uma ligação dizendo que a Netflix ia lançar o filme e pirei.
Acompanhou as filmagens?
Eu estava em um trabalho diferente na época das filmagens, então não consegui acompanhar muito. Mas tive a oportunidade de ir para a Cidade do Cabo por uma semana enquanto eles filmavam e amei cada segundo que estive lá. Tinham cenas que eles filmavam mais de 20 vezes. As pessoas me diziam que se eu tivesse de saco cheio daquilo podia voltar pra casa, mas que nada, eu estava encantada. Aquilo era mágico.
Você já publicou “The Beach House”, livro que é uma sequência de “A Barraca do Beijo”. Os fãs estão loucos querendo saber se “A Barraca do Beijo” ganhará uma continuação nas telas.
Não é porque eu escrevi uma sequência que necessariamente teremos um segundo filme. Então não posso prometer nada.
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