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Viciado nas músicas de "Samantha!"? O compositor do Balão Mágico está por trás delas

A Turminha Plimplom de "Samantha!", série brasileira da Netflix - Fabio Braga/Netflix
A Turminha Plimplom de "Samantha!", série brasileira da Netflix
Imagem: Fabio Braga/Netflix

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

14/07/2018 04h00

Ele disse que o espaço é um abraço boooom. E juntos inventamos a Turminha Plimplom!

Se você já viu "Samantha!", a nova série brasileira que a Netflix estreou no último dia 6, os versos acima, muito provavelmente, não saem da sua cabeça. Talvez você tenha acreditado piamente que os escutou quando era criança, ou tenha tido o impulso de ir atrás da música no Spotify para colocá-la sua playlist.

Um dos "culpados" por isso realmente pode ter feito parte da sua infância: o compositor e músico Edgard Poças, 72, responsável por criar letras para Turma do Balão Mágico, Eliana, Menudo e Dominó.

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Coube a ele, autor de sucessos como "A Galinha Magricela" e "Ursinho Pimpão", escrever as letras chicletes de "Abraço Infinito" e "Estrela da Manhã", as duas músicas da Turminha Plimplom, a fictícia banda infantil da qual fez parte Samantha, a protagonista vivida por Emanuelle Araújo. Convocado pelo músico Fábio Goes, que já estava envolvido com a trilha da série, e pelo criador Felipe Braga, Poças tinha uma missão difícil: criar um sucesso dos anos 1980 que, na verdade, nunca existiu.

Da sua primeira reunião com Braga, o compositor saiu satisfeito, mas assustado. "É difícil você fazer um sucesso de uma coisa que não foi. É como fazer um sucesso da época. Eu fiquei até assustado, 'puxa vida, é um convite legal, mas é difícil'. Mas saí de lá contente", diz Poças, em conversa com o UOL.

O músico e compositor Edgard Poças em pré-estreia da peça "Muito Louca", em São Paulo - Marcus Leoni/Folhapress - Marcus Leoni/Folhapress
O músico e compositor Edgard Poças
Imagem: Marcus Leoni/Folhapress

Escolhido pelo criador de "Samantha!" por seus trabalhos passados --"Ele disse que me convidou justamente pelo que eu havia desenvolvido com o Balão Mágico, para o qual eu fiz todas as letras praticamente, 98%"--, o compositor usou a experiência a seu favor para criar uma música que soasse como uma autêntica produção dos anos 1980. "É como se eu recolhesse íconezinhos. Você pinça coisas que são realmente representativas de uma época".

E isso vai muito além do mero resgate de figuras da época. "O que é um ícone? É uma coisa que representa algo. Então você junta coisa: 'Isso aqui não se falava, isso aqui se falava, qual seria a sintaxe do tempo?' Eu olhei pra trás e fiz", conta Poças.

A opção de colocar o "disco voador" como um dos elementos principais de "Abraço Infinito", que toca em quase todos os episódios da série, veio de uma vontade de reunir o espírito dos anos 1980 e o dos dias de hoje. Por um lado, o disco está em sintonia com o espírito das bandas infantis que tinham veículos no nome, como o Balão Mágico e o Trem da Alegria. Por outro, ele tem significado também no nosso século 21. "O tempo agora é esse, é olhar para o céu e falar: 'Quando esses caras vão chegar aqui?' Por isso que eu entrei na linguagem do disco voador. Eu achei que o interesse seria esse. Tem a patrulha, o balão, o trem, aí eu falei: 'É o disco voador'".

E o disco voador ainda traz, para o músico, uma mensagem de esperança: "Você pode dizer que, quando se aproximam períodos de grande tensão, começa a aparecer gente vendo disco voador. Eu mesmo já vi umas coisas no Ibirapuera [parque em São Paulo] que eram pareidolia, você olha para uma coisa e constrói um objeto em torno. Eu saía muito à noite no Ibirapuera para fazer letra, passear, e às vezes aquelas sombras, você acha um negócio e era uma árvore. Nessas épocas, as pessoas começam a ver coisa mesmo. Então o que é que vai nos trazer esperança ou pelo menos a ideia do que não estamos sós? Eu fui em busca disso".

O resultado deixou o criador de "Samantha!" animado. "Essas músicas dos Plimplons são muito especiais pra gente, porque elas ficaram muito boas e porque elas dão bastante autenticidade para a série como um todo", disse Felipe Braga durante o lançamento da sitcom, antes de rasgar elogios ao trabalho de Poças: "Ele veio com essa linguagem que faz parecer que fazia parte do nosso passado, mesmo sendo uma obra que a gente fez pra 'Samantha!' especificamente. Virou parte do nosso passado apesar de nunca ter existido".

Revival

"Samantha!" surfa na onda de resgate da cultura pop dos anos 1980, explorada com bastante sucesso na TV, nos cinemas e até nos palcos --o Balão Mágico, por exemplo, se reuniu e está novamente em turnê, com planos de gravar um DVD. Mas Edgard Poças não acredita que as músicas da série levarão necessariamente os espectadores mais jovens a se interessar pelo repertório musical da década.

"O que eu acho que pode haver é [um interesse] pelo nome, abraço infinito, pelo que fala a letra. É mais fácil buscar o interesse por isso, pelo extraterrestre, do que pela levada da música. Quando eu era pequeno, adolescente, Nat King Cole gravou 'Unforgettable', e isso era do tempo dele. Anos depois de ele morrer, a filha dele regravou e estourou no mundo inteiro. Pode acontecer".

O músico inclusive já foi aconselhado a voltar a trabalhar com o Dominó e o Polegar, apontados como os próximos grupos a estourar nessa onda flashback. Mas isso não está nos planos de Poças: "Na verdade eu não me toco mais com isso não".