Topo

Netflix traz nostalgia dos anos 1980 ao Brasil com a comédia "Samantha!"

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

06/07/2018 04h00

A onda de nostalgia dos anos 1980 levou à Netflix produções como "Stranger Things" e "Glow". E agora o serviço de streaming resolveu estabelecê-la de vez no Brasil com sua primeira comédia nacional, “Samantha!”, que estreia nesta sexta-feira (6) com a história da ex-estrela mirim que, já adulta e com dois filhos, luta para retomar a fama que tinha quando era “a criança mais amada do Brasil”.

Samantha (Emanuelle  Araújo, ótima e carismática) comandava um programa ao estilo “Balão Mágico” e cantava na banda infantil Turminha Plimplom, onde era auxiliada por um mascote bem politicamente incorreto, o Zé Cigarrinho (Ary França). Depois de adulta, sem conseguir repetir o mesmo sucesso, ela fez um ensaio nu e se casou com um presidiário, o ex-jogador de futebol Dodói (Douglas Silva), com quem teve dois filhos.

A sinopse da trama tem provocado comparações com a história da cantora Simony: estrela da Turma do Balão Mágico, ela também causou polêmica com um ensaio nu aos 18 anos e se casou com o rapper Afro-X, pai de dois de seus filhos, quando ele estava na prisão. Mas trata-se de mera coincidência, garante o criador da série, Felipe Braga.

Emanuelle Araújo é Samantha, a protagonista da série da Netflix "Samantha!" - Fabio Braga/Netflix - Fabio Braga/Netflix
Emanuelle Araújo é Samantha, que busca retomar o ápice da carreira
Imagem: Fabio Braga/Netflix

“A gente de início fica achando correlações com pessoas brasileiras do entretenimento dos anos 1980: ‘Ah, tem um pouco disso, tem dessa’”, diz Braga, notando que, ao discutir o projeto com equipes internacionais da Netflix, descobriu figuras semelhantes em países como México e Argentina. “A gente vê que o que teve nos anos 1980 é um fenômeno que não é só brasileiro.”

De forma semelhante, Emanuelle Araújo não se inspirou em uma pessoa específica para compor sua Samantha. “Eu me inspirei muito no universo, nesse imaginário que a gente tem do universo dos anos 1980, desses ícones todos dos anos 1980, não só da TV, do comportamento, da cultura. E dos ícones da era de televisão dessa década que foi tão forte”.

Nascida em 1976, a atriz começou sua carreira artística com apenas 10 anos – e acabou levando para a série também um pouco de suas experiências nos bastidores. “Eu tenho 30 anos de carreira, então já vi foi coisa. Então não tem como isso não ter de alguma forma influência no meu imaginário e referências. Mas o que eu acho mais bacana da série é que é um universo particular. É como se a gente pegasse referencias nossas, pessoais, ou dos anos 1980, colocasse em um caldeirão e aparecesse a personalidade própria da Samantha”.

Rodrigo Pandolfo, que vive Tico, o antigo companheiro de banda de Samantha, também não trabalhou com uma referência específica. “Dei uma pesquisada no que foram essas bandas mirins nos anos 1980, mas a partir do momento em que recebi os roteiros e entendi o que era o personagem, a coisa aconteceu. O personagem foi acontecendo de dentro pra fora”.

Analógico x digital

Produzida por Felipe Braga ao lado de Rita Moraes e da atriz Alice Braga – que aparece em uma participação especial –, “Samantha!” ri da busca incessante pela fama criando situações divertidas e absurdas. E não importa se o método usado para se tornar uma celebridade é da geração X ou dos Millenials: a série debocha tanto da TV antiga quanto dos digital influencers.

Ao longo de sete episódios com média de meia hora de duração, Samantha grava um comercial de cerveja, participa de reality shows de qualidade duvidosa e se envolve em outras furadas ao lado de seu inescrupuloso agente Marcinho (Daniel Furlan, do “Choque de Cultura”). Ela ainda tenta usar as redes sociais a seu favor, o que nem sempre dá certo.

Lorena Comparato é Laila em "Samantha!", série de comédia brasileira da Netflix - Fabio Braga/Netflix - Fabio Braga/Netflix
Lorena Comparato é a influencer Laila
Imagem: Fabio Braga/Netflix

“Parte da graça da Samantha é essa inadequação dela aos novos formatos”, explica Felipe Braga. “Ela é um elo perdido entre aquela época em que todo mundo assistia ao mesmo canal, na mesma hora, junto ao redor TV, e a transição disso para um momento em que tudo é nichado, e cada um está sozinho, olhando o que quer sua própria tela. É sempre muito divertido brincar com isso, pensar como essa lógica, essa moral dos anos 1980, passa para hoje de uma maneira inadequada”.

Do lado oposto (mas não tanto assim) de Samantha, está Laila, uma digital influencer que expõe na web todos os acontecimentos de sua vida. E para dar vida a ela, a atriz Lorena Comparato foi buscar inspiração em Kylie Jenner, irmã caçula de Kim Kardashian e uma das celebridades mais seguidas do Instagram. “Ela tem um apelo muito grande no Instagram, nos Stories, e [com] os produtos de beleza que ela usa. Então ela foi uma referência forte”. Os lábios cheios de Kylie, visual cobiçado por milhares de garotas ao redor do mundo, foram inclusive incorporados na personagem.

A atriz diz que ainda se assombra com aquilo que muitas pessoas estão dispostas a fazer pela fama. “Tem certas coisas que me assustam. Esse mundo da beleza, operar muito o corpo, isso me assusta. Comprar seguidor, gastar muito dinheiro pra fazer uma imagem que não seja verdade... acho que existe um limite, mas eu acho que a gente está nele”.