Poeta portuguesa que conquistou a Flip diz que não quer ser chamada de musa
A poeta portuguesa Matilde Campilho foi uma das que mais chamaram a atenção do público durante a Flip (Festa Literária de Paraty), durante a mesa que dividiu com o também poeta Mariano Marovatto, no final da tarde desta quinta-feira (2). Além de encantar a todos com sua beleza, a escritora conquistou a plateia com um jeito leve, mas ao mesmo tempo firme e seguro. Isso logo refletiu imediatamente nas vendas de seu livro, “Jóquei”, cujos 250 exemplares que sua editora, a 34, havia trazido para serem comercializados na Livraria da Travessa, a oficial do evento, se esgotaram.
Após a conversa, a portuguesa ainda passou cerca de hora e meia concedendo autógrafos, tempo que só não foi maior porque, em determinado momento, fecharam a fila. “Tento fazer meu trabalho sempre com verdade e serenidade”, garantiu ela na tarde desta sexta, em uma conversa com o UOL à beira da piscina da pousada onde está hospedada.
Segundo a autora, leveza e firmeza são, justamente, elementos que procura muito para a vida. Ela, no entanto, revela que, antes da mesa, estava preocupada com sua participação. “Passei a tarde me preparando para estar junto daquele grande público”, lembra, ressaltando o contraponto que é para um escritor, alguém que trabalha quase sempre isolado, se apresentar para centenas de pessoas.
Quanto questionada sobre o título de "musa" que recebeu de seus admiradores, então, Matilde deixa claro que isso a desagrada. “Quando você chama qualquer ser humano de muso ou musa é violento, porque não olha tudo o que é aquela pessoa, apenas o superficial. É muito agressivo não olhar para o todo ”, diz.
Matilde argumenta que, ainda mais em um evento literário, a preocupação estética deve estar com o que vai para o papel, com a qualidade da arte, que pode receber as diversas possibilidades de beleza imaginadas pela mente. E sua arte vem fazendo sucesso.
Ela diz que esse sucesso repentino foi uma surpresa e que está feliz por ver seu trabalho chegando a tanta gente, ainda mais sendo autora de um gênero pouco lido no Brasil. Otimista, acredita que isso pode fazer com que aqueles que a descobriram também cheguem a outros poetas. “A literatura tem a potência de fazer escadinhas. Um autor leva a outro, que leva a outro, que leva a outro...”.
Povos irmãos
Antes de Matilde, outro escritor português até então pouco conhecido no Brasil já tinha feito imenso sucesso na Flip, em 2011: Valter Hugo Mãe. Quando esteve no evento, em 2009, Antonio Lobo Antunes também arrebatou o público. Matilde tem uma teoria sobre essas boas participações dos lusitanos na festa. “A gente é irmão. Há um reconhecimento entre portugueses e brasileiros no início, mas há também uma forte estranheza. Isso pode dar a combustão que gera a tensão. Aquela coisa de 'parece, mas não é'”, arrisca, apostando em um atraente jogo de semelhanças e diferenças entre os povos.
A relação de Matilde com o Brasil, no entanto, é bastante anterior à Flip. Ela já viveu três anos no Rio de Janeiro e diz que sua geração em Portugal cresceu em contato com a música brasileira e as novelas. “Eu não assistia a novelas, mas elas entravam em nossas casas todos os dias. Mas ouvia Tom Jobim, Caetano Veloso, Elis Regina desde criança.”
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