Flip: Reinaldo Moraes faz versão erótica para clássico de Machado de Assis
“Os Imoraes”. O trocadilho aproveitando o sobrenome em comum dos dois autores que compuseram a última mesa desta sexta (3) na Festa Literária de Paraty (Flip) já dava o tom exato de como seria a conversa. O escritor Reinaldo Moraes, autor de “Pornopopeia”, e a especialista em literatura erótica Eliane Robert Moraes, organizadora de “Antologia da Poesia Erótica Brasileira”, fizeram uma mesa repleta de sacanagem.
A conversa foi marcada por uma surpresa feita por Reinaldo, que criou uma versão sacana para um trecho de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, clássico da literatura brasileira escrito por Machado de Assis. “Eu psicografei o Machado”, brincou o autor. “Depois de morto ele ficou muito mais desbocado, soltinho”.
Leia abaixo um trecho da brincadeira, que está disponível na íntegra no site da Flip:
“Sim, eis a verdade deliciosamente nua e crua que nem o manto escuro da noite infinita conseguia ocultar: Virgília sugava e delambia meu phallus indômitus com salivosa sofreguidão, enquanto eu depositava as mãos sobre o capuchinho estilizado que lhe cingia as madeixas castanho-aloiradas, acompanhando o sobe-e-desce daquela cabeça amada que com tanto fervor homenageava minha agora altiva cabeça auxiliar --a que age sem pensar e sempre a favor de si mesma
“Jogando minha cabeça para trás --a de cima, no caso--, preparei-me para vivenciar o transe gozoso, fluvial, niloamazônico, que logo me acometeu, regido pela ambidestra lei de Humânitas. Por únicas testemunhas, as estrelas sempre complacentes com as loucuras dos amantes de todos os séculos, desde o mais remoto clichê da antiguidade até o maelstron insondável dos tempos futuros. O líquido e certo é que jorrei na boca de Virgília toda a minha felicidade de homem. O que faltou para tal momento atingir um inaudito ápice poético na história geral das paixões humanas foi que Virgília deu de tossir um pouco, engasgada com a minha descendência descartável, e eu tive que lhe dar tapinhas nas costas, socorrendo a pobrezinha com meu lenço de Alcobaça, já um tanto maculado pelas secreções nasais resultantes do consumo de rapé, e ajudando-a a recobrar a postura bípede."
Ao longo do papo, Reinaldo e Eliane leram diversos trechos de textos eróticos, principalmente poemas, falaram sobre a presença desse tipo de literatura no país e como o sexo é, normalmente, tratado com certo humor pelos brasileiros.
Falando sobre o sucesso de muitas autoras que escrevem literatura erótica atualmente, Eliane ressaltou que há muita coisa de qualidade nesse sentido no país. “Não é necessário ir atrás desses best-sellers”, disse, referindo-se a obras como “Cinquenta Tons de Cinza”, provavelmente.
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