Autodidata, artista do ABC tem suas esculturas comparadas às de Ron Mueck
Um adolescente franzino e triste, ao lado de um homem de cachecol e olhar distante, lembra muito as esculturas hiper-realistas de Ron Mueck.
Mas as obras não são do australiano que levou mais de 400 mil pessoas à Pinacoteca, em São Paulo, entre novembro de 2014 e fevereiro de 2015, e bateu o recorde de visitação do museu. São trabalhos do brasileiro Giovani Caramello, 24, artista de Santo André, região metropolitana de SP.
“Minha mãe [Luci Chicon Caramello] também é artista plástica. Desde pequeno ficava tentando imitá-la”, diz ele na galeria OMA, no centro de São Bernardo do Campo, onde expõe oito trabalhos.
Primeiros moldes
Caramello conta que se dedicou ao desenho até o final do ensino médio. Ainda sem querer fazer faculdade, mas já sentindo necessidade de trabalhar, começou a criar animações em 3D. Em seguida, entrou em um curso de esculturas porque achou que ajudaria no trabalho, mas, depois disso, não conseguiu mais parar de pôr a mão na massa.
"Já gostava de Ron Mueck quando trabalhava com 3D, mas é caro e não há suporte no Brasil. Só que decidi que era isso o que eu queria e resolvi tentar." O artista explica que cada quilo do silicone que serve de matéria-prima para esse tipo de trabalho é importado por R$ 300. Por isso, se algumas esculturas de Mueck chegam a pesar 500 quilos, Caramello economiza, Usa em média meio quilo por obra, e por enquanto faz apenas as cabeças de silicone. Os corpos são feitos de resina, material mais barato.
Autodidatismo
Caramello ainda não conhece outro escultor brasileiro hiper-realista e acredita que também não há muitos pelo mundo. "São apenas três ou quatro que se destacam". Além de Mueck, há o também australiano Sam Jinks, o britânico Jamie Salmon, o angolano Jorge Melício e o japonês Kazuhiro Tsuji.
O brasileiro conseguiu trocar alguns e-mails com Tsuji e Salmon, que lhe deram dicas de pintura e modelagem, mas os grandes professores do jovem são os DVDs e livros que estão sempre á mão dentro do seu ateliê, montado em sua casa. "São mais de dez livros só de anatomia. Tenho que estudar bastante a parte óssea e a musculatura para saber como o corpo reage a cada movimento, principalmente em poses mais contorcidas."
São horas de estudos e testes em meio a resina, silicone, tintas, moldes, livros e referências fotográficas para chegar a uma escultura com olhos, poros, pelos e rugas que parecem de verdade. No entanto, ele garante que a poesia e o conceito da obra são mais importantes que tudo isso.
Giovani Caramello
Nunca imaginei que fosse chegar a esse ponto, mas não penso muito nisso. É muita responsabilidade. Não me incomoda, mas acho que não faço jus à comparação ainda. Tenho que aprimorar modelagem, pintura e acabamento para chegar lá
A primeira obra de Caramello chama-se "Sozinho", um pré-adolescente de meio metro com sardas, olhos claros e aparência triste, vestido com uma capa preta do herói Batman. "É uma criança passando para a adolescência, que se sente triste e sozinha. Ele tem essa capa que simboliza a infância. Todas as obras que eu faço têm um lado mais poético, porque é isso que traz vida para a obra, mais que aparência. Pretendo transmitir isso mais claramente nas próximas esculturas."
Essa também é a intenção de Ron Mueck, que mais do que impressionar com a proximidade com o real, parece querer contar uma história com cada escultura, como a do casal gigante de idosos sob o guarda-sol, que fazem companhia um ao outro.
Caramello, no entanto, evita a comparação, não por se sentir incomodado, mas porque acredita que seu trabalho ainda não faz a jus a ela. "Nunca imaginei que fosse chegar a esse ponto, mas não penso muito nisso. É muita responsabilidade. Não me incomoda, mas acho que não faço jus à comparação ainda. Tenho que aprimorar modelagem, pintura e acabamento para chegar lá."
Após mais de um ano de investimento e com uma forcinha pela comparação com Mueck, Caramello já vendeu uma de suas obras e agora trabalha em mais duas sob encomenda. Todas as suas obras estão à venda e custam entre R$ 1.500 e R$ 6 mil.
Mesmo já decidido que quer continuar se aprimorando na técnica, ainda não pensa em fazer faculdade. Quer partir para Londres em breve, onde deve fazer cursos específicos dessa técnica. Caramello, que só tem certeza de que quer continuar trabalhando com arte, reconhece que todas as suas obras são ligadas à introspecção, o que combina com sua timidez. Mas, apesar disso, admite querer que suas esculturas fiquem cada vez mais conhecidas.
Serviço:
Giovanni Caramello
Quando: De segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 14h
Onde: Oma Galeria (Rua Carlos Gomes, 69 - São Bernardo do Campo)
Quanto: Grátis
Classificação: Livre
Mais informações: (11) 4128-9006
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