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"Sempre crio confusão nas instituições", diz Gullar após ser eleito imortal

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio

09/10/2014 19h44

Foram 20 anos relutando em concorrer a uma vaga na ABL (Academia Brasileira de Letras). Mas nesta quinta-feira (9), Ferreira Gullar finalmente entrou para o rol de imortais da instituição. Ele foi eleito por 36 votos a favor e um nulo para a Cadeira 37, ocupada anteriormente por Ivan Junqueira, que morreu no dia 3 de julho.

"Eu não sou uma pessoa com cabeça institucional, sempre crio confusão nas instituições das quais eu me aproximo", disse Gullar, rindo, em entrevista exclusiva ao UOL, logo após ser eleito. "Estava sendo arrogante de tanto dizer 'não'", falou sobre a demora em enviar sua candidatura à Academia.

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Tradicionalmente, o eleito tem até um ano para ocupar a cadeira, mas o UOL apurou que a posse do escritor de 84 anos deve ocorrer até o final de novembro, quando ficará pronto o fardão costurado em fios de ouro feito.

Além do discurso de posse em que Gullar terá que discursar sobre os ocupantes anteriores de sua Cadeira, ele também deverá escolher três acadêmicos para fazer parte da cerimônia: um que irá recebê-lo e ler um discurso de apresentação (provavelmente será Antonio Carlos Secchin, defensor e motivador de Gullar), outro para entregar a espada, e um terceiro para a entrega do colar.

UOL - Como recebeu a notícia de que ocuparia a Cadeira 37 da ABL?
Ferreira Gullar - Foi uma eleição tranquila. Eu praticamente já sabia porque os próprios acadêmicos me disseram que iriam votar. Eles já tinham me comunicado.

Na sua opinião, qual a importância de se tornar imortal?
Se fosse para me tornar imortal de fato, mas o problema é que não é isso (risos). É só uma metáfora, todo mundo morre mesmo. Mas entrar [para a ABL] e fazer parte da Academia é uma coisa significante, faz parte da nossa história cultural.

Por que levou tanto tempo para se candidatar?
Eu não aceitava entrar para a Academia, e não porque achava que a Academia não me merecia, mas por outras razões. Porque eu não sou uma pessoa com cabeça institucional, sempre crio confusão nas instituições das quais eu me aproximo (risos). Meu espírito não é muito institucional, também não queria entrar para uma instituição e não corresponder ao que ela esperasse de mim.

O que o motivou a tentar agora o ingresso na ABL?
Primeiro porque foram anos e anos, e eu dizendo 'não' e 'não', e estava sendo arrogante de tanto dizer não. Depois a Academia mudou, se renovou e hoje é uma instituição aberta com participação do público que vai às palestras e debates. E também amigos meus entraram, pessoas de meu convívio, tudo isso contribuiu.

O senhor se candidatou para a cadeira que havia sido ocupada por Ivan Junqueira. Vocês tinham uma forte relação?
Substituir o Ivan também é uma coisa importante. Foi um dos fatores de ter me candidato, que eu irira substituir o Ivan, um amigo querido. Sempre o admirei por suas qualidades de poeta e escritor.

É uma grande responsabilidade entrar para o rol dos imortais da Academia?
Acho que sim. Se você pertence a uma instituição centenária como essa e fundada nada mais nada menos por Machado de Assis, entre outros, é claro que é uma responsabilidade. Eu sou uma pessoa responsável, jamais entraria para uma instituição achando que não iria respeitá-la, por isso mesmo eu hesitava entrar. Mas na hora que eu assumo as coisas, eu assumo.

A sua entrada pode contribuir para o espírito de renovação da Academia?
A Academia está se renovando e espero que a minha presença ajude a esse processo que está em curso.

O acadêmico Alberto da Costa e Silva disse que se sente um "periquito" dentro do fardão...
Eu até falei que devo ficar engraçado de fardão. Periquito de fardão é um pouco engraçado.

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