Ian McEwan espera que posição de potência faça literatura de espionagem florescer no Brasil

Convidados da mesa que esgotou mais rapidamente nesta edição da Flip, "Pelos olhos do outro", o inglês Ian McEwan, 64, e a norte-americana Jennifer Egan, 49, apresentaram-se em uma tenda dos autores completamente lotada, com uma longa fila formada mais de meia-hora antes das 12h deste sábado (7), horário marcado para o início do debate.
Enquanto Egan tornou-se mais conhecida no Brasil este ano, depois da publicação do ganhador do Pulitzer 2011 "A Visita Cruel do Tempo" e de seu romance anterior, "O Torreão", McEwan já esteve na Flip em 2004 e ganhou a atenção do público brasileiro depois que seu romance "Reparação" (2001) foi adaptado para o cinema com o nome de "Desejo e Reparação" (2007), com Keira Knightley no elenco. O inglês faz no Brasil o lançamento mundial de seu novo livro, "Serena", que também deve ser transformado em filme.
Espionagem
"Serena" acompanha uma jovem que se envolve com o serviço secreto britânico, o MI5, durante a Guerra Fria, e se move nesse universo da espionagem, assim como "The Black Box", conto que Egan publicou através do Twitter da revista "New Yorker" e que McEwan recomendou que o público lesse.
"Acho que todas as histórias são de espionagem. Tem a ver com segurar informações e ir liberando aos poucos, no momento certo. Um dia pode ser que aceitemos que espionagem não é um gênero à parte", disse o inglês. "Quando grandes potências começam a disputar espaço, você vê esse tipo de literatura florescer. Agora que o Brasil se torna uma grande potência, espero ver isso acontecer por aqui. A paranoia também é um grande material", completou.
“Não posso dizer que li tantas histórias de espionagem, mas tive que inventar essa experiência de alguém que trabalha para o MI5. Vocês têm que acreditar quando digo que não trabalho para o MI5, mas devem desconfiar de qualquer pessoa que diz isso”, contou McEwan.
Rasgação de seda
Classificados pelo mediador, o jornalista e escritor Arthur Dapieve, como os “maiores escritores de língua inglesa do nosso tempo”, Egan e McEwan demonstraram familiaridade com os trabalhos um do outro. “Conheci Ian quando eu estava na universidade e ele fez uma palestra. Ele leu uma história maravilhosa sobre Los Angeles e eu comecei a seguir seu trabalho desde então. É visceralmente comovente, sempre me impressiono com como ele continua evoluindo. É um modelo para mim”, afirmou Egan.
“Não seria engraçado se odiássemos o trabalho um do outro, como Norman Mailer e Gore Vidal?”, rebateu McEwan, provocando o riso do público. “Acho que Jennifer está envolvida em um trabalho muito difícil e interesse. Por um lado, descrever a vida real e, por outro, forçar a fronteira do que a imaginação significa para a ficção”, completou.
Manipulação
Em uma analogia com o tema da espionagem e da retenção de informações, ambos adimitiram extrair prazer da manipulação do leitor. “É o principal prazer de escrever. Mas não é uma coisa sádica. Em ‘Reparação’, nunca vi nenhum problema com isso. Uma mulher comete um erro e, na velhice, escreve um livro para se redimir, mas acaba mentindo para ser capaz de confrontar isso”, disse o inglês.
“Manipulação por si só é um saco, mas,na literatura, tudo é manipulação. Para mim, uma manipulação que leva a uma surpresa para o leitor é algo que eu gosto muito, como foi o caso de ‘Reparação’”, concordou a americana.
McEwan também contou que viajar pelo mundo com seus livros e participar de eventos como a Flip é uma maneira de matar seus personagens. “Quando você viaja com um livro, ele se torna cinzas na sua boca. O que é bom. Eu preciso que os personagens morram para poder trabalhar em algo novo”, concluiu o inglês.
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