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Jorge Amado diria: "Não se meta com esse povo da TV", diz João Ubaldo Ribeiro sobre "Gabriela"

O autor Walcyr Carrasco, o jornalista Edney Silvestre e o escritor João Ubaldo Ribeiro falam sobre os 100 anos de Jorge Amado na Flip (5/7/12) - Flavio Moraes/Fotoarena
O autor Walcyr Carrasco, o jornalista Edney Silvestre e o escritor João Ubaldo Ribeiro falam sobre os 100 anos de Jorge Amado na Flip (5/7/12) Imagem: Flavio Moraes/Fotoarena

Mariane Zendron

Do UOL, em Paraty (RJ)

05/07/2012 12h33Atualizada em 05/07/2012 15h32

João Ubaldo Ribeiro, que foi amigo de Jorge Amado, arriscou a dizer o que o escritor baiano diria sobre a readaptação de "Gabriela", exibida pela TV Globo. "Ele dificilmente falaria sobre o assunto, mas sempre me aconselhava: 'não se meta com esse povo da televisão'", disse Ubaldo na Casa de Cultura de Paraty, na manhã desta quinta-feira (5), em um bate-papo sobre os 100 anos de Jorge Amado. O autor da nova adaptação de "Gabriela", Walcyr Carrasco,  também participou da conversa mediada pelo jornalista Edney Silvestre.

Ainda durante a conferência, Edney brincou que o remake de Walcyr  trai a obra de Jorge Amado por colocar personagens de outros romances do escritor e modificar a trajetória de alguns, como no caso de Sinhazinha (Maitê Proença). O autor concordou em partes. "Eu traio [a obra de Jorge Amado] porque não sou fiel à narrativa factual, mas eu não traio a medida que retrato o universo do autor".

"Quando fazemos uma adaptação colocamos nossa visão sobre a obra. Gabriela tem a minha marca. Cada ator também enxerga o personagem do seu jeito. É uma história recriada em conjunto", declarou Carrasco, que ainda afirmou que, no geral, os autores têm muito ciúmes de sua obra. João Ubaldo concordou:"[Dorival] Caymmi, por exemplo, tinha horror de ver qualquer pessoa cantando uma música sua."

Hábito de leitura no Brasil

Apesar da grande popularidade do escritor, Ubaldo e Carrasco disseram que ainda se lê pouco no Brasil grandes autores como Jorge Amado. Para João Ubaldo, algumas tarefas escolares dadas após a leitura de um bom livro são muito trabalhosas e pouco interessantes. "Já vi perguntas de vestibular sobre livros meus que eu seria honestamente incapaz de responder", disse ele. "Em geral, o livro é dado como remédio e não como uma fonte de prazer", disse Carrasco.

Carrasco também disse que a adaptação deveria ser motivo de comemoração, já que a obra pode ser levada a jovens que antes eram alheios a Jorge Amado. "Tenho certeza que a novela será vendida a muitos países e o Jorge Amado será novamente levado ao mundo todo".