Mais forte que a Disney, Mauricio de Sousa não pensa em aposentadoria
Com 82 anos, Mauricio de Sousa é o visionário por trás do universo da "Turma da Mônica" que hoje se expande pelo mundo empenhado em formar leitores através da linguagem da história em quadrinhos e de algo tão sutil quanto "os sons das emoções".
Nascido na cidade de Santa Isabel, em São Paulo, Mauricio começou a fazer esboços nos cadernos da escola e hoje é o dono de um império baseado em mais de 400 personagens, alguns tão carismáticos quanto Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão, Chico Bento e Horácio.
Entre histórias em quadrinhos e tirinhas no jornal, suas criações chegam a cerca 30 países e as novas tecnologias permitiram que elas fossem parar em lugares que nunca teria imaginado. "A chave do sucesso talvez seja a humanidade que existe em nossos roteiros", afirmou Mauricio em entrevista à Agência Efe nos seus estúdios em São Paulo, de onde saem 1.200 páginas de histórias por mês.
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Com uma presença maior no Brasil do que a todo-poderosa Disney, sua marca já superou o exorbitante número de 1 bilhão de revistas publicadas e será um dos protagonistas do Comic Con Experience, que acontecerá entre os próximos dias 7 e 10, em São Paulo. "Sempre falamos a língua do dia e do momento. Estamos atentos a hábitos e costumes em mutação, por isso o nosso material não envelhece", declarou o cartunista, pai dez filhos --um faleceu no ano passado de infarto--, fruto de quatro casamentos.
Sua cabeça é um constante ir e vir de ideias e nesse trânsito ele se deu conta de que os idiomas eram uma "barreira" para enviar as aventuras de Mônica para o resto do mundo. "Como quando tentaram fazer a Torre de Babel, nunca chegaram à ponta porque não se entenderam", comentou.
A partir dessa premissa ele desenvolveu o "Mônica Toy", um produto em animação 2D baseado em cenas de curta duração nas quais não faltam as brincadeiras de Cebolinha para perturbar a Mônica e a resposta brava e temperamental da "baixinha", transformada em um ícone para alguns setores do feminismo.
No ar desde 2013 no YouTube, no primeiro semestre deste ano os vídeos alcançaram mais de 2,3 bilhões de visualizações, a maioria em países inexplorados para Mauricio, como Rússia, México, Estados Unidos e Bulgária. "A estratégia que usamos foi a de não colocar nada em português, nem em nenhuma outra língua. Quando pensei isso me disseram que não seria bem-sucedido", lembrou.
Nesse formato, usa apenas onomatopeias de animais ("O cachorro late da mesma forma no mundo todo"), música e "os sons da vida" (Ai! Ui! hahaha), ou seja, "os sons das emoções", detalhou.
Considerado o maior formador de leitores do Brasil, Mauricio de Sousa centra também seus esforços nos filhos das famílias imigrantes que se instalam no Japão, muitos deles com baixo rendimento escolar pela dificuldade para se comunicar. "Os filhos não sabem japonês, o pai também não, e existe uma falta de informação entre todos (...) Alguns são tachados de autistas", lamentou.
A ideia é distribuir entre as crianças imigrantes uma cartilha educativa utilizando os personagens da Turma da Mônica que reúna, tanto na sua língua nativa - querem alcançar 17 idiomas - quanto no japonês, "todo o necessário" para conhecer os costumes, assim como os seus direitos e deveres. "O problema é tão grave que alguns crescem abandonados e muitos deles foram parar no crime (...) Queremos ver se apresentamos uma vacina contra isso", ressaltou.
Seus personagens protagonizaram nos últimos 50 anos dezenas de campanhas sociais, como quando foram apresentados de cabeça raspada para apoiar as crianças com câncer. Não à toa Mônica se tornou em 2007 embaixadora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), na primeira vez que um personagem infantil recebeu essa distinção.
Mauricio de Sousa aumentou o espectro do seu público com a revista "Turma da Mônica Jovem", com personagens em plena adolescência, e, além disso, conta com Neymar entre os seus parceiros em diferentes campanhas.
No horizonte tem muitos outros projetos, como "Laços", o filme com personagens de carne e osso que está em fase de produção. "Não penso em me aposentar", concluiu o gênio, que, no passado, dedicou parte do seu tempo para inventar objetos como a televisão com cheiro, que "patenteou pelo mundo inteiro".
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