Ted Bundy: quem foi o serial killer que virou série na Netflix e ainda intriga os EUA
Trinta anos após sua execução, um dos criminosos mais letais dos Estados Unidos continua a ser uma figura presente no imaginário coletivo da sociedade americana.
"Queremos acreditar que conseguimos identificar pessoas perigosas, mas o mais aterrador é que não podemos. As pessoas não se dão conta de que convivem com assassinos em potencial." Este alerta não foi feito por um policial ou qualquer outra autoridade, mas por um dos assassinos em série mais letais da história dos Estados Unidos, Ted Bundy (1946-1989).
Autor confesso da morte de ao menos 36 mulheres entre 1974 e 1978, Bundy voltou a estar em destaque 30 anos após sua execução por cadeira elétrica na Flórida, em 24 de janeiro de 1989.
O provedor de filmes Netflix aproveitou a data para lançar a série-documentário "Conversations with a Killer: The Ted Bundy Tapes" ("Conversas com um assassino: as fitas de Ted Bundy"), em que são ouvidas pela primeira vez gravações extraídas de mais de cem horas de entrevistas com Bundy enquanto ele estava no corredor da morte.
Além disso, a Netflix comprou os direitos do filme sobre "Bundy Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile" ("Extremadamente malvado, chocantemente maligno e infame"), protagonizado por Zac Efron e apresentado recentemente no festival de cinema independente de Sundance.
Por que Bundy segue chamando tanta atenção 30 anos depois de sua morte?
Um homem aparentemente inofensivo
Asseado, agradável, charmoso e eloquente são adjetivos que se repetem na série do Netflix para se referir a Bundy. São destacados também sua formação universitária, sua inteligência e seu poder de atração sobre as mulheres.
"Era bom moço, bem-sucedido, as mulheres o achavam muito atraente, o que explica que várias vítimas tenham entrado em seu carro sem conhecê-lo [antes de ele sequestrá-las e matá-las]", disse Scott Bonn, sociólogo e criminologista da Universidade de Drew em Madison, nos Estados Unidos, à BBC.
"Parecia ser o filho do vizinho, e isso é o que assusta, porque, se o filho do vizinho é um assassino em série, isso significa que todos somos vítimas em potencial."
O que conta a série do Netflix
No entanto, houve críticas à série por pessoas que consideraram que ela não deu atenção suficiente às vítimas de Bundy e que ele contribui para prolongar o mito em torno do assassino.
Joe Berlinger, diretor da série e diretor do filme sobre Bundy, se defende das críticas destacando que a imagem que ela faz do criminoso não é nada idílica.
Os quatro episódios relatam como os jornalistas Stephen Michaud e Hugh Aynesworth passaram cem horas entrevistando Bundy no corredor da morte em uma prisão do governo na Flórida em 1980.
Nas conversas, até agora inéditas, Bundy reflete sobre sua própria vida, ainda que de forma não muito fiel à realidade e, às vezes, refere-se a si mesmo na terceira pessoa.
A série também dá voz a várias pessoas ligadas diretamente a Bundy, como amigos de infância, advogados, detetives e uma mulher que conseguiu sobreviver a um de seus ataques.
Os testemunhos de quem o conheceu na infância e na juventude mostram um Bundy introvertido e desajeitado na época da escola, complexado por um problema de fala e por crescer em uma família relativamente humilde de Seattle, rodeado por vizinhos mais abastados.
Bundy superou estes complexos, ao menos aparentemente, para criar um personagem que ficou gravado no imaginário coletivo da sociedade americana. Um homem que conseguiu convencer a muitas de suas vítimas que o acompanhassem em seu carro por vontade própria. Ali, ele as golpeava, as sequestrava e as levava a outro local para matá-las.
Em outros casos, ele invadia a casa das vítimas e as atacava e matava enquanto dormiam ou também as sequestrava. Algumas foram estupradas antes ou depois de serem mortas.
Selvageria sem fronteiras
A onda de assassinatos foi parar nas manchetes em uma época em que o termo "assassino em série" havia acabado de ser cunhado.
Sua selvageria cruzou o tempo e o espaço. Começou nos Estados do Oregon e Washington, no nordeste dos Estados Unidos, passou por Utah, Idaho e Colorado até chegar à Flórida, onde cometeu seus últimos crimes e foi finalmente detido, julgado, condenado e executado.
As buscas por ele duraram quatro anos, durante os quais a polícia teve de admitir o fracasso de tê-lo deixado escapar em duas ocasiões.
De todos os crimes que cometeu, chamaram particularmente atenção os assassinatos de Janice Ann Ott e Denise Naslund, a quem ele sequestrou no mesmo dia, em 14 de julho de 1974, em plena luz do dia em um parque lotado no lago Sammamish, no Estado de Washington.
Esta capacidade de Bundy de atrair suas vítimas é melhor compreendida a partir de uma pesquisa sobre assassinos em série feita em 2005 pela Unidade de Análise de Conduta do FBI, que concluiu que estes criminosos "não tem aparência de monstro e, com frequência, têm famílias e lares, empregos e aparentam ser membros normais da comunidade".
Helen Morrison, psiquiatra forense que entrevistou dezenas de assassinos em série ao longo de sua carreira, chegou a esta mesma conclusão.
No livro Minha Vida Entre Assassinos em Série, ela escreveu: "Nunca sei bem com quem estou lidando. São tão amistosos, amáveis e solícitos quando começamos a trabalhar... são encantadores, tão carismáticos quanto [os atores] Cary Grant ou George Clooney".
E as vítimas?
Há quem prefira se distanciar da glorificação e da áurea de mistério que se criou em torno de Bundy e outros assassinos similares.
"Não quero ouvir mais uma palavra sobre este homem. Sabe de quem quero ouvir falar? Das vítimas. Ou das mulheres que não eram atraídas por ele", disse a escritora e comediante americana Melanie Hamlett em um artigo recente na revista Glamour.
O fato de que se tenha de recordar os espectadores de que Bundy cometeu crimes assombrosos não surpreende a escritora Rebecca Morris, mas isso a preocupa.
"Há um perigo em conferir a ele um ar romântico e mitológico. Em meio a seu carisma e a lenda, perde-se a noção do quão impiedosos foram seus crimes. Foram mortes muito brutais."
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