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Pesquisadores anunciam descoberta de 100 obras inéditas de Caravaggio

Em Milão, visitantes olham para o escudo cerimonial com retrato da Medusa, pintado por volta de 1600 por Michelangelo Merisi, conhecido por Caravaggio (27/5/93) - Luca Bruno/AP
Em Milão, visitantes olham para o escudo cerimonial com retrato da Medusa, pintado por volta de 1600 por Michelangelo Merisi, conhecido por Caravaggio (27/5/93) Imagem: Luca Bruno/AP

Do UOL, em São Paulo*

05/07/2012 14h22

Cerca de cem desenhos e pinturas atribuídas ao pintor renascentista Caravaggio, que teriam sido produzidos durante a sua juventude, foram encontrados por especialistas em uma coleção no interior do Castelo Sforza, em Milão, anunciou nesta quinta-feira (5) a agência Ansa. A prefeitura milanesa, no entanto, pediu prudência.

Segundo a agência italiana, estes desenhos e pinturas, avaliados em 700 milhões de euros, estavam no "Fundo Peterzano", do pintor Simone Peterzano, professor do jovem Caravaggio. A descoberta foi resultante de uma investigação realizada por um grupo de especialistas italianos.

O  valor de 700 milhões foi estimado a partir do preço médio de sete milhões de euros obtido pelos desenhos dos grandes mestres do século 16 nos leilões recentes, explicaram os especialistas Maurizio Bernardelli Curuz e Adriana Conconi Fedrigolli, que lideraram por mais de dois anos os trabalhos de pesquisa.

Contudo, a prefeitura de Milão, proprietária do castelo Sforzesco e do Fundo Peterzano, pediu cautela antes da confirmação da origem destas obras.

"Ficaríamos muito felizes de ter a confirmação de que isto é verdade. As circunstâncias são estranhas. Nós não fomos informados de nada, descobrimos isso na véspera do lançamento de um ebook de dois peritos que não visitam o castelo há tempos, e é por isso que pedimos cautela", disse à AFP Elena Conenna, porta-voz de cultura da prefeitura de Milão.

"Os desenhos sempre estiveram no mesmo lugar, eles não estão escondidos, o Fundo Peterzano é acessível a todos e são muitos os especialistas que visitam, mas, de acordo com nossas informações, esses dois especialistas não visitaram o Fundo nos últimos dois anos", acrescentou Conenna.

Os peritos encontraram até mesmo um bilhete escrito por Caravaggio, segundo a mesma fonte, que afirma que o documento foi submetido a um estudo grafológico para confirmar a sua autenticidade.

Os cientistas italianos vasculharam por dois anos as igrejas em Milão e as proximidades de Bérgamo (norte), assim como o Fundo Peterzano que possui 1.378 desenhos de Simone Peterzano e de seus alunos, incluindo Michelangelo Merisi, conhecido como Caravaggio (1571 -1610). Caravaggio foi aluno de Peterzano na adolescência e trabalhou em seu ateliê entre 1584 e 1588.

"Nós achávamos que era impossível não haver evidências da atividade de Caravaggio entre 1584 e 1588 no atelier de um pintor que era muito famoso e procurado na época", explicou Bernardelli Curuz, diretor artístico da Fundação Museu de Brescia.

Este pesquisador desenvolveu um método para encontrar a "geometria padrão" de Caravaggio e aplicou-a a cerca de 1.400 desenhos do Fundo Peterzano.

Dos cerca de cem desenhos encontrados e atribuídos ao mestre, 83 "foram reutilizados várias vezes em obras adultas" de Caravaggio, provando que o jovem pintor deixou Milão "com os modelos prontos para serem usados em pinturas romanas", indicam os pesquisadores.

Os resultados deste trabalho serão publicados na sexta-feira em dois e-books vendidos em quatro línguas através da Internet, informou a agência Ansa.

Caravaggio, famoso pela utilização de luz e sombra em seus quadros, como nas pinturas "Baco", "O Jantar de Emaús" e "O Sacrifício de Isaac", foi representado no teatro, cinema e literatura como um dos pintores mais atormentados da história.

O pintor, que sofria de sífilis e intoxicação por chumbo, morreu aos 39 anos, aparentemente de malária na região de Maremma, no sul da Toscana, região pantanosa naquela época.

Após passar por Brasília, a cidade de São Paulo recebe uma exposição com obras do pintor a partir de 26 de julho, no MASP.

* com informações da AFP.