Pesquisadores anunciam descoberta de 100 obras inéditas de Caravaggio
Cerca de cem desenhos e pinturas atribuídas ao pintor renascentista Caravaggio, que teriam sido produzidos durante a sua juventude, foram encontrados por especialistas em uma coleção no interior do Castelo Sforza, em Milão, anunciou nesta quinta-feira (5) a agência Ansa. A prefeitura milanesa, no entanto, pediu prudência.
Segundo a agência italiana, estes desenhos e pinturas, avaliados em 700 milhões de euros, estavam no "Fundo Peterzano", do pintor Simone Peterzano, professor do jovem Caravaggio. A descoberta foi resultante de uma investigação realizada por um grupo de especialistas italianos.
O valor de 700 milhões foi estimado a partir do preço médio de sete milhões de euros obtido pelos desenhos dos grandes mestres do século 16 nos leilões recentes, explicaram os especialistas Maurizio Bernardelli Curuz e Adriana Conconi Fedrigolli, que lideraram por mais de dois anos os trabalhos de pesquisa.
Contudo, a prefeitura de Milão, proprietária do castelo Sforzesco e do Fundo Peterzano, pediu cautela antes da confirmação da origem destas obras.
"Ficaríamos muito felizes de ter a confirmação de que isto é verdade. As circunstâncias são estranhas. Nós não fomos informados de nada, descobrimos isso na véspera do lançamento de um ebook de dois peritos que não visitam o castelo há tempos, e é por isso que pedimos cautela", disse à AFP Elena Conenna, porta-voz de cultura da prefeitura de Milão.
"Os desenhos sempre estiveram no mesmo lugar, eles não estão escondidos, o Fundo Peterzano é acessível a todos e são muitos os especialistas que visitam, mas, de acordo com nossas informações, esses dois especialistas não visitaram o Fundo nos últimos dois anos", acrescentou Conenna.
Os peritos encontraram até mesmo um bilhete escrito por Caravaggio, segundo a mesma fonte, que afirma que o documento foi submetido a um estudo grafológico para confirmar a sua autenticidade.
Os cientistas italianos vasculharam por dois anos as igrejas em Milão e as proximidades de Bérgamo (norte), assim como o Fundo Peterzano que possui 1.378 desenhos de Simone Peterzano e de seus alunos, incluindo Michelangelo Merisi, conhecido como Caravaggio (1571 -1610). Caravaggio foi aluno de Peterzano na adolescência e trabalhou em seu ateliê entre 1584 e 1588.
"Nós achávamos que era impossível não haver evidências da atividade de Caravaggio entre 1584 e 1588 no atelier de um pintor que era muito famoso e procurado na época", explicou Bernardelli Curuz, diretor artístico da Fundação Museu de Brescia.
Este pesquisador desenvolveu um método para encontrar a "geometria padrão" de Caravaggio e aplicou-a a cerca de 1.400 desenhos do Fundo Peterzano.
Dos cerca de cem desenhos encontrados e atribuídos ao mestre, 83 "foram reutilizados várias vezes em obras adultas" de Caravaggio, provando que o jovem pintor deixou Milão "com os modelos prontos para serem usados em pinturas romanas", indicam os pesquisadores.
Os resultados deste trabalho serão publicados na sexta-feira em dois e-books vendidos em quatro línguas através da Internet, informou a agência Ansa.
Caravaggio, famoso pela utilização de luz e sombra em seus quadros, como nas pinturas "Baco", "O Jantar de Emaús" e "O Sacrifício de Isaac", foi representado no teatro, cinema e literatura como um dos pintores mais atormentados da história.
O pintor, que sofria de sífilis e intoxicação por chumbo, morreu aos 39 anos, aparentemente de malária na região de Maremma, no sul da Toscana, região pantanosa naquela época.
Após passar por Brasília, a cidade de São Paulo recebe uma exposição com obras do pintor a partir de 26 de julho, no MASP.
* com informações da AFP.
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