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Woodstock completa 50 anos com aura de lendário festival hippie intacta

Ago.1969 - Joe Cocker se apresenta no lendário Festival de Woodstock, em Bethel, Nova York - AP Photo
Ago.1969 - Joe Cocker se apresenta no lendário Festival de Woodstock, em Bethel, Nova York Imagem: AP Photo

Em Nova York

13/08/2019 15h25

No início, a ideia era, principalmente, promover a criação musical no norte de Nova York, fazendo uma série de shows.

Ninguém, sobretudo os jovens organizadores, imaginava que o Festival de Woodstock se tornaria um evento emblemático de uma geração e do movimento hippie, com sua mensagem idealista de paz e amor para romper uma década de violentas manifestações e assassinatos. O pano de fundo era a Guerra do Vietnã.

Isso foi há 50 anos, de 15 a 18 de agosto de 1969, uma época em que o rock ainda era jovem, em que ter cabelos compridos era um ato de rebeldia e em que as manifestações contra a guerra eram quase diárias.

Entre 400.000 e 500.000 pessoas se reuniram nos campos encharcados para ouvir as estrelas da época, como Janis Joplin e Jimi Hendrix. Era uma atmosfera de liberdade e de companheirismo, ilustrada por imagens de jovens caminhando nus, de mãos dadas, dividindo erva ou ácido, ignorando as chuvas torrenciais que castigavam a região dos Catskills, quase 200 quilômetros ao noroeste de Nova York.

Em um primeiro momento, os organizadores estipularam em US$ 18 o valor dos ingressos para estes três dias de shows. No line up, nomes que se tornaram lenda, como Creedence Clearwater Revival, The Who, ou Crosby, Stills, Nash and Young.

Os organizadorse - John Roberts, Joel Rosenman, Michael Lang e Artie Kornfeld, todos nos seus 20 anos - rapidamente mudaram os planos, diante das filas gigantescas que invadiam as estradas que levavam à fazenda de Bethel.

O acesso ao festival se transformaria, então, na imagem do que foi o evento: livre.

Logo depois dos primeiros acordes, um temporal caiu sobre o local, transformando o gramado em um campo de lama.

Faltava comida. Não se ouvia muita coisa, mas era possível escutar os helicópteros que traziam os músicos e víveres.

Fim de semana "idílico"

Sri Swami Satchidananda, um mestre iogue que chegou da Índia, deveria dar o tom do festival, fazendo na abertura um apelo à compaixão.

"Estou feliz de ter todos os jovens dos Estados Unidos reunidos aqui em nome dessa arte que é a música", declarou este homem franzino e barbudo, levando a multidão a emitir o mantra "Om".

Outros cânticos mais intensos viriam depois: Joe McDonald, do grupo de rock psicodélico Country Joe and the Fish arrastaria a multidão a cantar um retumbante "Fuck", antes de entoar o hino antiguerra I-Feel-Like-I'm Fixin'-to-Die-Rag.

O festival terminava com uma interpretação futurista do hino nacional americano, The Star-Spangled Banner, por Jimi Hendrix.

Danny Goldberg, especialista da indústria musical que estreava na época na revista Billboard, aos 19 anos, lembra-se de ter visto neste fim de semana "muitas pessoas com um sorriso nos lábios".

"Eu fui quase imediatamente seduzido por essa gentileza", contou ele à AFP, em uma entrevista em seu escritório em Manhattan. Uma visão "idílica de fraternidade hippie (era) rara, mesmo na época", mas ela foi "perceptível em Woodstock, do início ao fim".

Os relatos de Woodstock são inúmeros e, às vezes, contraditórios.

Histórias contam que bebês nasceram ali. E, mesmo que ninguém declare publicamente essa data de nascimento, é certo que muitos foram concebidos lá.

Pelo menos uma pessoa teria morrido de overdose, e um trator teria esmagado uma pessoa deitada em seu saco de dormir, conforme registros da época.

Como um filme bombardeado pela crítica até se tornar "cult", o evento havia sido, até então, tratado com desdém pela grande mídia.

"Música e paz"

Logo após o festival, o proprietário do terreno, Max Yasgur, admitiu em entrevista à televisão ter ficado preocupado no início, diante da multidão.

"Mas eles me fizeram sentir culpado depois, porque não houve problemas. Eles me provaram - e provaram ao mundo inteiro - que eles não tinham vindo criar problemas", completou.

"Eles vieram fazer exatamente o que disseram que queriam fazer: três dias de música e paz", acrescentou.

Meio século depois, Annie Birch, hoje com 70 anos, diz se sentir "feliz" de ter participado de um evento tão marcante.

"Apesar da chuva que não parava, a gente tinha um fogo impressionante que nunca se apagava. Todos aqueles grupos se tornaram míticos (...) Foi lendário", recordou, em entrevista à AFP.

"Eu fico eternamente com a esperança, pelo bem da humanidade, de que um evento tão incrível quanto esse possa acontecer de novo", disse ela, lembrando-se de uma atmosfera "muito pacífica, se você considerar o mar de gente".

"Prefiro infinitamente o amor e a paz à guerra e ao ódio", afirmou.