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5 intelectuais negras para assumir a curadoria (com cara de cilada) da Flip

A escritora Conceição Evaristo - Joyce Fonseca/Divulgação
A escritora Conceição Evaristo Imagem: Joyce Fonseca/Divulgação

Colunista do UOL

13/08/2020 14h09

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Fernanda Diamant pegou o chapéu e deixou a curadoria da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Saiu se queixando de não ligarem para sua opinião ao anunciarem que 18ª edição do evento acontecerá no final de novembro, numa mistura de encontros físicos e virtuais. Também disse que é a hora de termos uma intelectual negra assinando a programação do mais famoso encontro literário brasileiro, que neste ano homenageará a poeta norte-americana Elizabeth Bishop (escolhida por Fernanda e criticada pela simpatia à ditadura e por posicionamentos racistas).

Da minha parte, penso que ser a cara da Flip nessas condições (em cima da hora, com pouca grana, dúvidas sobre o formato, inseguranças por conta da pandemia...) pode ser uma baita cilada. Difícil que alguém assuma a curadoria hoje e consiga imprimir de forma satisfatória a própria personalidade num evento de tal dimensão, ainda mais tendo que carregar no colo a homenageada escolhida pela antiga curadora.

Em todo caso, deixo a sugestão de cinco intelectuais negras (como propôs Fernanda) que poderiam estar à frente da Flip. Por mais que contrarie o tradicional perfil dos curadores da Festa, creio que também seria o momento de termos uma escritora como cabeça do evento (literário, final):

Conceição Evaristo

Nome que beira o óbvio. Intelectual que teve uma ascensão gigantesca junto ao público nos últimos anos e se transformou num símbolo contemporâneo de nossa literatura. Carrega consigo a resiliência e a compaixão de quem já passou por muitos problemas na vida. Mestre em Literatura Brasileira e doutora em Literatura Comparada. Além, claro, de autora uma obra muito respeitada, com títulos como "Insubmissas Lágrimas de Mulheres", "Becos da Memória", "Olhos D'Água" e "Ponciá Vicêncio".

Kiusam de Oliveira

Pedagoga, mestre em Psicologia Escolar, doutora em Educação, tem um trabalho admirável junto ao público infantil, o que poderia trazer um olhar diferente, capaz de dar uma boa arejada na programação da Flip. Dialoga bem com outras artes e tem em sua bibliografia títulos como "O Amor que Banha a Ilha de Goré", "Omo-Oba - Histórias de Princesas" e "O Mundo no Black Power de Tayó", que chegou a ser apontado pela ONU como um dos dez livros mais importantes do mundo sobre direitos humanos. Em condições normais de grana, tempo e espaço intelectual, seria a minha escolha.

Ana Maria Gonçalves

É autora de "Um Defeito de Cor", um dos principais romances brasileiros deste século, volume de quase mil páginas que restabelece o diálogo histórico entre o Brasil e a África, assunto dos mais importantes e urgentes de nossos dias. Há tempos que tem um olhar atento e toca em temas bastante em voga atualmente.

Sueli Carneiro

Filósofa, militante dos movimentos negro e feminista, intelectual com presença no debate público e autora de livros como "Racismo, Sexismo e Desigualdade no Brasil" e "Escritos de uma Vida". Na sua produção, dialoga com nomes importantes para a história do feminismo negro, como Beatriz Nascimento e Lélia Gonzalez. É uma das cabeças à frente do portal Geledés, referência sobre o pensamento negro. Bagagem de sobra para pensar a Festa.

Ana Paula Maia

Já tinha seu lugar entre nomes relevantes de nossa literatura contemporânea antes mesmo de vencer o Prêmio São Paulo de Literatura duas vezes seguidas, em 2018 e 2019, com "Assim na Terra Como Embaixo da Terra" e "Enterre Seus Mortos", ambos agraciados como Melhor Romance do Ano. Se quiserem alguém menos óbvio e com o nome em alta, pode ser uma boa escolha.

Quer pensar em outros nomes? Aqui tem uma lista de 100 escritoras negras que, segundo o Margens, você precisa conhecer.

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