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Como uma viagem de carro fez Nando Reis cantar Roberto Carlos no novo disco

Capa do novo álbum do Nando Reis - Divulgação
Capa do novo álbum do Nando Reis Imagem: Divulgação

19/04/2019 11h27

Nando Reis escolheu hoje, aniversário de 78 anos de Roberto Carlos, para o lançamento de "Não Sou Nenhum Roberto, Mas às Vezes Chego Perto". Coincidentemente uma Sexta-Feira Santa, que inicialmente o ateu Nando Reis não tinha se atentado.

Trata-se do 13º álbum solo da carreira de Nando e reúne 12 faixas que repassam 23 anos da obra de Roberto Carlos, no período de 1971 até 1994. A produção é de Pupillo (ex-Nação Zumbi) e a direção artística da Marcus Preto, que também assina discos de outros figurões da música brasileiro, como Gal Costa, Erasmo Carlos e Paulo Miklos.

No mês passado, Nando soltou a primeira faixa, "Amada Amante", que já mostrava os rumos do disco. O videoclipe mostra a vida familiar do músico com sua mulher Vânia.

Na última segunda (15), Nando Reis me recebeu em sua casa, em São Paulo, para contar um pouco sobre o álbum. Já no final do dia, encontrei um artista que me pareceu bastante satisfeito com o resultado do trabalho. Abaixo reproduzo trechos da conversa que tivemos:

Uma viagem para Jaú

Começou em Jaú, como tudo na minha vida. Viajei pra lá e peguei os CDs para ouvir. Eu e a Vânia e uma caixa de discos do Roberto dos anos 70. Adoro ouvir música no carro. Por meio daquelas músicas, fui recapitulando coisas que conheço, mas que estavam adormecidas, e que são reconhecidas por uma outra perspectiva. Dessa forma, elas se provam tão atuais e tocam em coisas recentes, que recontextualiza e ressignifica a importância, que passa ser estrutural.

Relacionei essas músicas com a minha própria linguagem como compositor. A música dele está no subconsciente, no passado e ao mesmo tempo que me alimenta também. Isso me despertou o desejo de tocar aquelas músicas.

Especialmente "Você em Minha Vida". Descobri ali um acorde que foi uma surpresa. Pensei...como essa canção é bem construída. Passei a tirar músicas, especialmente dos discos de 1978, que têm mais importância da minha vida. A origem do disco se deu ali.

Nessa primeira temporada por lá fiquei com vontade de fazer esse disco. Em uma segunda ida a Jaú avancei um pouco mais, esboçando os arranjos. Fiz a linha de baixo de "Procura-se" numa noite. Estava sozinho ouvindo a música e fui pro jardim compor. Era uma noite bonita... Muitas das coisas que mais tarde vieram a estar presentes no disco surgiram ali.

De alguma maneira, tirar uma música e passar a cantá-la já é uma apropriação. O que foi decisivo pra eu gravar o disco foi me reconhecer, não apenas como ouvinte, mas como intérprete.

Conheço a Vânia desde 1978, quando eu tinha 15 anos. A data coincidentemente do disco do Roberto mais importante pra mim. E uma viagem de quatro horas com ela, que atravessou vida comigo, e que Roberto Carlos faz parte, é uma imersão.

As músicas

Começou com um repertório de 30 músicas. O propósito do disco está explicado na somatória das músicas em todo discurso. O Roberto não se relaciona apenas na questão da composição, mas na forma como ele se conecta na minha vida.

O Roberto Carlos não é apenas um cantor de música de amor. Isso foi percebido ao longo do tempo.

"Me Conta Sua História" e "Alô" demoraram um pouco. Pensando bem, foi pouco trabalho porque era muito fácil perceber que a gente não tinha achado. Foi muito prazeroso gravar esse disco.

Encontro com Roberto

Quando nos encontramos em um show dele, ele já sabia do disco. Foi a primeira vez que nos encontramos pessoalmente.

Me deu a impressão que ele achava que eu faria um disco de rock.

O tempo inteiro ele me pareceu estar surpreendido com o fato de eu gostar tanto dele. Percebi que ele achava que ali tinha um único acesso dele na minha vida: Nando que gosta de Roberto, que canta amor, que canta rock, portanto, o disco será de rock. É muito mais.

As músicas religiosas

Mesmo não acreditando em Deus, as músicas religiosas sempre me emocionaram.

Isso é um ponto que nunca foi questão para eu gostar ou não gostar, cantar ou não cantar uma música. Só posso cantar aquilo que sinto e acredito de alguma maneira.

Quando escolhi essas músicas foi pela beleza da melodia. Cada uma delas tive que pensar num tratamento. O caso extremo foi "Nossa Senhora" porque não tinha como cantá-la porque não sou devoto de Nossa Senhora. É preciso, para pronunciar aquelas palavras, ser. Eu não conseguiria, mas a beleza de sua melodia é arrebatadora. Não há necessidade de ser igual a pessoa. É preciso ter liberdade de interpretação.

Não sou católico, não creio em Deus, no entanto, tenho crença na divindade, no mistério, e posso cantar sob esse aspecto. Pra mim, o essencial da canção está representado na beleza da melodia. A minha Nossa Senhora é a música. Se não sou devoto de Nossa Senhora, sou devoto de João Gilberto, que está ali representado. Não há nenhuma contradição em cantar essa música da forma como cantei. Da forma mais fervorosa.

Nando nas redes sociais

Só aprendo por algo que me desperta o interesse. Gradativamente e espontaneamente descobri os recursos das redes sociais. Comecei a achar graça no Youtube e agora todo mundo me chama de "blogueirinho", "blogueirão" (rs).

Eu era super atuante no Twitter, mas me envolvi com uma treta e abandonei. Agora voltei. Tem esse conjunto de coisas que a melhor ferramenta para divulgar meu trabalho sou eu. E eu estou curtindo.

Como quase 400 mil inscritos no Youtube e pouco mais de 900 mil no Instagram, Nando sente-se completamente a vontade para usar seus canais como meio de divulgação de seu trabalho.

A turnê de "Não Sou Nenhum Roberto, Mas às Vezes Chego Perto" começa dia 12 de junho pelo Rio de Janeiro e chega em São Paulo nos dias 14 e 15.