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"Manoel de Barros foi poeta livre de convenções e modismos", diz Lya Luft

Morreu nesta quinta-feira (13) o poeta mato-grossense Manoel de Barros, 97, em um hospital de Campo Grande - Marlene Bergamo/Folhapress
Morreu nesta quinta-feira (13) o poeta mato-grossense Manoel de Barros, 97, em um hospital de Campo Grande Imagem: Marlene Bergamo/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

13/11/2014 11h41

Ainda nos anos 80, o poeta Carlos Drummond de Andrade declarou que Manoel de Barros era o maior poeta brasileiro vivo. Com a morte do mato-grossense nesta quinta-feira (13), aos 97 anos, escritores de gerações distintas ressaltam a enorme perda na literatura.

“Manoel foi uma figura extremamente original, um artista livre de convenções e modismos literários, com uma rica e surpreendente visão da vida e da natureza. Nessa simplicidade foi altamente requintado. Sempre longe das nasalações da vida literária,muito enriqueceu a literatura brasileira”, ressaltou a escritora Lya Luft ao UOL.

Embora escreva para o público infanto-juvenil, Ricardo Ramos Filho, neto de Graciliano Ramos, conta que cresceu lendo a obra do poeta.  “O Manoel de Barros era um dos grandes poetas vivos, coloco junto com Ferreira Gullar, o Affonso Romano de Sant'Anna, são poetas do primeiro time. Um poeta de uma poesia surpreendente. A sensibilidade de Manoel transforma o texto, além de inesperado, em um texto delicado, muito sensível. Pelo gabarito dele, deveria ser um poeta mais conhecido do que era. A poesia dele é muito necessária”, disse.

Diretor do documentário “Só Dez Por Cento é Mentira”, sobre vida e obra de Manoel de Barros, Pedro Cezar mandou uma mensagem para os familiares do poeta. “O ser biológico Manoel de Barros passou para outra dimensão. Sua poesia fica com todos nós e continuará encantando e transformando a humanidade eternamente. Que Deus o tenha. Nossos sentimentos a toda família. Stella (Dona Pássara), Martha Barros (menina avoada), netos e bisnetos”.



Antonio Houaiss, um dos mais importantes filólogos e críticos brasileiros, o comparou, no passado, a São Francisco de Assis, "na sua humildade diante das coisas". “A poesia de Manoel de Barros é de uma enorme racionalidade. Suas visões, oníricas num primeiro instante, logo se revelam muito reais, sem fugir a um substrato ético muito profundo. Tenho por sua obra a mais alta admiração e muito amor”, defendia.

Ao UOL, o escritor pernambucano Marcelino Freire escreveu: "Estou triste, triste, triste. Um bicho triste. Manoel de Barros era um mestre, amigo. Estive com ele algumas vezes em Campo Grande. Ele foi quem primeiro me disse, ainda lendo uns originais meus: 'siga nesse caminho, nessa maldição que é a literatura, avante'", recorda.

"Eu sempre telefonava para ele para conversar. Faz tempo que eu não falava com ele, respeitando à sua saúde. E acordo, hoje, combalido, triste, triste. Um vazio danado. Mas agradeço. É hora de agradecer ao poeta. Estou agradecido por tudo, eternamente. Dou um salve ao mestre que nos fez olhar o mundo com outro olhar".


A Editora Planeta, responsável por algumas das obras do poeta, usou do universo do mato-grossense para falar sobre sua morte: "Manoel de Barros foi voar com seus pássaros e as suas palavras. E como a “mãe ensinava”, temos a certeza de que ele estará em todas as partes através da eternidade dos seus poemas", diz nota à imprensa.

Artistas de outras áreas também lamentaram a morte do escritor e fizeram homenagens nas redes sociais: