No velório de Cleyde Yáconis, Stênio Garcia diz que atriz era seu "alicerce em tudo"

O ator Stênio Garcia, com quem Cleyde Yáconis foi casada por 11 anos, chegou por volta das 14h no velório da atriz, que ocorre em sua casa, no distrito de Jordanésia, em Cajamar, Região Metropolitana de São Paulo, nesta terça-feira (16). Muito abalado, ele conversou com a imprensa sobre a morte de Cleyde, que ocorreu no final da noite da segunda-feira.

“Tudo o que aprendi como ator foi com ela. Ela era uma lutadora”, disse Garcia. “Ela era meu alicerce em tudo, um ser humano e uma artista completos.”

O ator relembrou que Cleyde estava sofrendo muito no hospital quando foi internada e chegou a ficar inconsciente “nos últimos tempos”. Garcia contou ter visitado a atriz um mês antes de sua última ida ao hospital. “Eu a visitei no Sírio-Libanês, mas ela estava sem consciência, a caminho do fim.”

Stênio contou que os dois se conheceram no grupo de teatro de Cacilda Becker e que Cleyde lutava pela classe artística na ditadura, chegando até a ser presa. Ele relembrou que eles “dividiram conhecimento, viagens e várias histórias juntos”.
 

Uma dessas histórias foi uma viagem de Kombi que durou de 4 a 5 meses pela Europa. “Vou sentir falta disso, foi um período bonito”, disse Garcia. Eles estavam planejando uma viagem com outros colegas para uma pousada.

O ator relembrou também que Cleyde queria ser médica, “porque achava que essa profissão de atriz era muito glamurizada”.

“Vou sentir saudades infinitas”, completou o ator.

Cleyde morreu na segunda, em São Paulo, aos 89 anos. Ela estava internada desde outubro de 2012 no hospital Sírio Libanês, na capital paulista, após sofrer uma isquemia. Uma de suas últimas aparições na TV foi na novela "Passione" (2010), da Rede Globo, como a rabugenta Brígida Gouveia.

O hospital divulgou nota de falecimento, assinada pelo diretor clínico Dr. Paulo Cesar Ayroza Galvão. "A senhora Cleyde Becker Yaconis, 89 anos, faleceu na tarde desta segunda-feira, 15 de abril de 2013, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde estava internada desde outubro de 2012."

Antes, em julho de 2010, a atriz sofreu uma queda e fraturou a cabeça do fêmur. Ela  passou por uma cirurgia no Hospital Barra D'Or, na Barra da Tijuca, no Rio, e ficou internada durante seis dias.

A notícia do falecimento logo repercutiu no Twitter, onde vários amigos e colegas lamentaram o ocorrido. Elias Gleizer, que atuou com Yáconis em "Passione", ficou sabendo pelo telejornal. "Ela foi uma companheira de muitos e muitos anos. Nossa amizade é desde o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), é fora de série", contou. 

Carreira
Cleyde Becker Yáconis nasceu em 14 de novembro de 1923, em Pirassununga, interior de São Paulo. Foi sua irmã Cacilda Becker quem a levou a São Paulo, em 1950, para trabalhar no Teatro Brasileiro de Comédia. No TBC, atuou em peças como "Assim É se lhe Parece", "Maria Stuart", "Adorável Júlia" e "A Morte do Caixeiro Viajante", entre outras.

Ainda no teatro, fez participações marcantes como a prostituta Geni, de "Toda Nudez Será Castigada" e Jocasta, em "Édipo Rei", na qual contracenava com Paulo Autran. Por seu papel "Toda Nudez..." levou o prêmio Molière em de melhor atriz em 1965. Voltou a receber o mesmo prêmio em 1991 por "O Baile de Máscaras" e, em 1993, ganhou o prêmio Mambembe de melhor atriz por seu trabalho na peça "As Filhas de Lúcifer".

Cleyde entrou para a televisão em 1966 e atuou em novelas como "O Amor Tem Cara de Mulher" (1966), "Mulheres de Areia" (1973) e "Gaivotas" (1979). Na Globo, atuou em "Rainha da Sucata" (1990) - que está sendo reprisada no canal pago Viva -, "Vamp" (1991), "As Filhas da Mãe" (2001) e "Passione" (2010). Em 2006, teve uma passagem pela TV Record, atuando em "Cidadão Brasileiro".

Em 2003, teve o conjunto da obra celebrado com o Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e também recebeu o Prêmio Nacional Jorge Amado de Literatura e Arte do Governo da Bahia. Dois anos depois, foi condecorada com a Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura.