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Carlinhos Brown: "Falta de educação tem relação com fome e feminicídios"

O músico Carlinhos Brown durante show dos Tribalistas no Lollapalooza Brasil - Eduardo Anizelli/Folhapress
O músico Carlinhos Brown durante show dos Tribalistas no Lollapalooza Brasil Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

De Madri (Espanha)

29/04/2019 17h11

É com a mesma paixão que fala da sua música e das suas reivindicações sociais que Carlinhos Brown faz um alerta de que Brasil e América Latina precisam de "um movimento urgente de educação básica".

Em entrevista à agência Efe, por ocasião da inauguração de uma exposição sobre seu lado menos conhecido, o da pintura, Brown analisou o momento que o país e a humanidade atravessam e voltou a defender que a educação é a ferramenta que pode "mudar o mundo".

"A pessoa educada é menos violenta, sabe distinguir o que come, tem conhecimento", declarou o cantor.

Para Brown, não ajuda em nada dizer que no Brasil uma pessoa só pode nascer traficante e o importante é dar apoio para que as pessoas em risco de exclusão social possam sair dessa situação.

22.jan.2017 - Carlinhos Brown recebe Maria Rita e Zeca Pagodinho em seu 1º sarau do ano, no Museu du Ritmo, em Salvador - Regis Andaku - Regis Andaku
Carlinhos Brown se apresenta no Museu du Ritmo, em Salvador
Imagem: Regis Andaku

"As pessoas precisam de escolas desde o início da vida. (Falta de) educação tem relação com falta de entendimento, com fome, violência doméstica e feminicídios", argumentou.

Dentro da educação, o cantor defendeu como fundamental as noções musicais. "A educação ajudou muito, principalmente pessoas mais desfavorecidas na América Latina", destacou.

De acordo com Brown, a arte é ferramenta para melhorar a vida das pessoas.

"Eu sou um artista e o artista tem que buscar as habilidades de expressão. A música não basta se você tem curiosidade", explicou ele sobre como entrou no mundo da pintura e cercado por uma pequena mostra das 1.000 obras que já pintou e que a partir desta segunda-feira poderão ser vistas na Fundação Telefónica, em Madri, com o título "La mirada que escucha".

Filho de um pintor de parede, Brown contou que gostava de brincar com as tintas quando era criança, mas que o pai sempre quis outro futuro para ele.

"Um dia, ele me levou para ver um professor de música e disse a ele que eu queria ser artista. Um pai conhece bem o filho e eu espero que ele goste dessas pinturas", comentou.

Brown conheceu a música antes da arte com os pincéis, mas em uma viagem à Espanha, há 15 anos, já bastante reconhecido, visitou uma exposição no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, sobre Pablo Picasso e Joan Miró.

"Fui tomado por uma força, passei por uma estátua e algo aconteceu. Nunca tinha sentido algo assim na minha vida, nem mesmo na música. Comecei a sonhar com pinturas, com telas e no meu aniversário comecei a pintar, fiquei 24 horas seguidas pintando, suando, e os meus filhos começaram a dizer que tínhamos um pintor em casa. A minha vida mudou", relembrou.

"A pintura ajudou bastante. Tudo o que não brinquei antes, na minha infância, estou brincando agora com a pintura", refletiu.

Embaixador ibero-americano da Cultura desde 2018, Brown disse se sentir sempre um migrante.

"Somos todos migrantes, desde a Bíblia, desde aquele homem que abre o mar fugindo do faraó. Essa ideia de que o imigrante é um inimigo é uma ideia errada. Todos nós viemos de algum lugar, o braço da imigração é o braço do progresso", afirmou, ressaltando que o Brasil "não existiria sem a migração negra".

"Os negros foram ao Brasil obrigados, mas foram e ajudaram a construir o país. Foi a mão de obra escrava que fez o Brasil ser o que é", finalizou.