Após se debruçar sobre as transformações da gravidez de uma atriz em seu segundo filme, "O Olmo e a Gaivota" (2015), Petra voltou a olhar para suas próprias vivências para construir "Democracia em Vertigem", produzido pela Netflix (que ainda disponibiliza os outros filmes de Petra em seu catálogo) um relato sobre a crise institucional que assola o país.
A cineasta, cujo nome foi uma homenagem a Pedro Pomar, fundador do PCdoB assassinado pela ditadura militar, trouxe para frente das câmeras a ligação de seus pais com a militância e, também, com uma das corporações mais poderosas do país: a construtora Andrade Gutierrez, uma das envolvidas nos esquemas revelados pela investigação Lava-Jato. Seu avô, Gabriel Donato de Andrade, é um dos fundadores da empresa.
Em uma cena simbólica do documentário, Petra revela o nome da construtora em duas placas do Palácio do Planalto: uma da gestão Lula, outra da gestão Collor. O legado familiar tornou a diretora alvo de críticas nas redes sociais, mas ela acredita ter sido importante colocar essa conexão na tela.
Eu falo muito claramente sobre como meu avô fundou a Andrade Gutierrez com dois sócios, como a empresa fez parte do esquema que foi descoberto pela Lava-Jato, as contradições que existem dentro disso. E acho que é uma coisa importante, que mais pessoas de famílias que fazem parte da formação oligárquica brasileira passem a falar sobre isso e a fazer críticas sobre o quanto a oligarquia brasileira tem sido repetidamente inimiga da democracia brasileira em tantos momentos da nossa História. É uma autocrítica que o Brasil precisa fazer.
Política sempre foi um tema discutido abertamente na família de Petra, especialmente por sua mãe, Marília. "Ela contava em detalhes como foi que saiu de casa, entrou na militância e passou uns anos em Londrina; como quase foi para a guerrilha do Araguaia, e não foi porque viram a barriga dela, de grávida da minha irmã", recorda. E foi também ao lado da mãe que a cineasta construiu muitas de suas memórias políticas.
"A luta para restabelecer a democracia foi algo que eu vibrei muito com ela. Apesar de ser pequena, eu lembro com detalhes da eleição de 1989, a primeira depois de mais de 20 anos que o Brasil não votava. Então eu senti muito isso. Fui crescendo com a democracia brasileira e achei que estávamos amadurecendo juntas".