Emoções na Guanabara

Farofa, climão com piada e bingo cancelado: como é "cruzeiro" do cover de Roberto Carlos no Rio

Rafael Godinho Do UOL, no Rio Bruna Prado/UOL

Carlos Evanney, cover oficial do Roberto Carlos há 22 anos, realiza há 11 anos o Emoções na Guanabara, uma versão bem mais acessível do Emoções em Alto Mar, do Rei.

O UOL acompanhou no último domingo (8) o passeio de escuna que partiu da Marina da Glória, na zona sul do Rio, com ingressos a R$ 130 —o pacote mais barato do cruzeiro de cinco dias com Roberto Carlos é 30 vezes mais caro (R$ 4.068).

Com duração de seis horas, o roteiro da navegação inclui um show do cover, a tradicional distribuição de rosas —um pouco murchas em razão do forte calor— e até uma parada em frente ao apartamento do Rei, na Urca, na zona sul carioca.

Os fãs se comportam como se realmente estivessem diante do Rei —gritam o nome de Evanney e chegam a verter lágrimas durante a performance de Emoções. É a chance de os fãs de menor poder aquisitivo simularem um encontro com o Rei, na pele do ex-cabeleireiro que abandonou as tesouras há 22 anos para viver sua vocação.

Nem tudo entretanto foram flores no cruzeiro —o cancelamento do bingo, uma tentativa frustrada de organização de uma rifa dos brindes do cantor, além da espera sob sol escaldante pela chegada do cover deixaram alguns passageiros impacientes.

As instalações e o roteiro modestos contrastam com o luxuoso transatlântico MSC Fantasia, do cruzeiro do Rei. Nele, os fãs têm à disposição quadras de tênis, minigolfe, pista de corrida, simulador de Fórmula 1, cinema 4D, SPA, além de bares e restaurantes sofisticados. A viagem parte do Porto do Rio, passando por Búzios, Ilha Bela e Angra dos Reis.

Já a Escuna Beethoven, do passeio de Evanney, tem capacidade para 150 passageiros, som ambiente, dois banheiros e um pequeno camarote no 2º andar. No cardápio, porções de salgadinhos fritos/assados sortidos (R$ 10) e kits de quatro mínis sanduíches de costela desfiada (R$ 20). No bar, cervejas nacionais (R$ 6), refrigerante (R$ 4), água tônica (R$ 4) e água mineral (R$ 3).

Muitos fãs porém preferiram levar comida de casa para o passeio Baía de Guanabara.

Bruna Prado/ UOL

Térmicas com sanduíches e chapéus de palha: o embarque

Às 9h30, a movimentação começa na marina. O público é de diferentes idades, mas a maioria é de mulheres maduras e idosas, produzidas impecavelmente para ocasião. Chapéus de palha, óculos de sol enormes, saidinhas de praia com estampas que vão desde a famosa oncinha até as trabalhadas peças de crochê.

Seus companheiros se dividem na tarefa de carregar bolsas térmicas cheias de guloseimas, como biscoitos, frutas, sanduíches naturais e bolos feitos especialmente para a ocasião. Com a pouca oferta de comida à venda no barco, é aconselhado levar seus próprios quitutes.

"Antigamente, nós oferecíamos um almoço de cortesia, com estrogonofe de frango, arroz branco e batata palha, mas como as pessoas têm gostos diferentes, decidimos deixar cada um levar o que quiser", conta Dinha, empresária, assessora de imprensa e namorada de Evanney.

Depois de 50 minutos de atraso, sob o sol escaldante no Rio, às 11h50, a escuna é atracada no deck e todos entram depois de mostrarem seus convites impressos.

Às 12h, a embarcação deixa a marina ao som instrumental de Always on My Mind, de Elvis Presley, competindo com o barulho do motor do barco.

Bruna Prado/UOL Bruna Prado/UOL

"Aquele lá é o de rico. O nosso é o de pobre"

Após poucos minutos de navegação, Dinha pega o microfone para fazer o triste anúncio do cancelamento do bingo. O motivo: Carlos Evanney esqueceu as cartelas em casa.

A saída encontrada para distribuir os brindes (camisetas e bonés personalizados do cover) foi fazer uma rifa de última hora, vendida por R$ 2, aproveitando os números escritos a caneta no verso dos bilhetes de entrada.

Às 13h, a música é desligada de novo para um novo pronunciamento: apenas quatro pessoas compraram as rifas. A decisão foi acabar com a brincadeira.

"O pessoal não deve ter gostado do bingo cancelado", disse uma voz ao microfone, desta vez, masculina. Não era Dinha, que estava devolvendo o valor investido aos participantes.

Som de novo na caixa, e todos caem na dança.

O ascensorista Nilvaldo Martins, 69, dá um show de dança na proa. Todos aplaudem e gravam com seus celulares o aposentado, que estava aproveitando rescisão do último emprego para realizar um sonho antigo.

"Gosto muito de dançar as músicas do Roberto Carlos e já tive a oportunidade de vê-lo de pertinho, mas fiquei com vergonha de pedir uma foto. Trabalhei muitos anos no Yacth Clube, onde ficava o iate dele, Lady Laura. Agora, estou sentindo um pouco dessa emoção no cruzeiro do Evanney. Com ele, eu já encontrei e tirei foto", conta ele, orgulhoso.

Tudo é transmitido ao vivo pelo perfil oficial de Evanney no Facebook.

Bruna Prado/UOL Bruna Prado/UOL

A psicóloga Alessandra Oliveira, a advogada Jackeline Oliveira e Marlene Almeida —irmãs e mãe, respectivamente— gostaram tanto do passeio que voltaram.

Jackeline, que já foi ao Emoções em Alto Mar, evita comparações. "São dois tipos de diversões diferentes. Curti muito quando fui no do Roberto, mas o do Evanney tem um astral maravilhoso também. O clima é bem familiar e nós adoramos", define.

Após três horas na Baía de Guanabara, a escuna volta à Marina da Glória para o momento mais esperado: a entrada do cover.

Ao fazer esse percurso, passou bem perto de um transatlântico, similar ao usado pelo Rei. Todos correram para fazer selfies com o navio ao fundo.

"Aquele lá é o de rico. O nosso é o de pobre", brincou o mensageiro Charlinho da Lapa, 28, que registrou todos os momentos em seu celular.

Fãs, celulares e flashes

"Quando eu estou aqui": a hora do show

Atracado novamente, às 15h, muito suspense. Cartazes de Evanney são distribuídos por Dinha e gritos eufóricos dos fãs em coro: "Ei, ei cadê o Evanney?".

Depois de 25 minutos, o cover surge já caracterizado para euforia geral. Ao embarcar, o show começa com o hit Emoções, provocando comoção. A banda é enxuta, apenas voz, guitarra e teclado.

Na sequência, uma surra de sucessos: Como vai você, Eu te amo, Detalhes, Estrada de Santos, Esse cara sou eu, Eu sou terrível, Namoradinha de um amigo meu, Te darei o céu meu bem, Calhambeque, É o beijo, Como é grande o meu amor por você, Antes do fim, Amor Sincero, Nossa Senhora, finalizando com Jesus Cristo.

Às 16h, a embarcação para na Urca, na reta do prédio em que Roberto Carlos reside. Dinha já havia avisado contudo que a estrela estaria viajando —em outras edições, Roberto Carlos surgiu à janela para acenar aos passageiros.

"Vamos aproveitar que estamos aqui e pegar um pouco dessa energia maravilhosa do Rei", diz Evanney antes de contar uma das inúmeras histórias do ídolo. O cover fala bastante nos intervalos de cada canção, deixando parte da plateia impaciente.

Já perto do fim, um bolo de chocolate foi oferecido por uma das aniversariantes ao público. O cantor fez um trocadilho de conotação sexual com o bordão "Ahá, Uhu, eu vou comer seu bolo", o que provocou um climão.

Rapidamente, desculpou-se no microfone pela piada sem graça.

Bruna Prado/UOL Bruna Prado/UOL

Distribuição de rosas (e selfies): o grande final

Às 16h50, o show termina e tem início um dos momentos mais esperados pelas fãs: a distribuição de rosas vermelhas, já murchas em razão do forte calor.

Tal como o Rei e com simpatia, Evanney beija cada flor antes de entregá-las —todos os passageiros ganharam uma rosa— e posa para selfies. Ninguém perde a chance de fazer uma foto com o cover.

Pontualmente, às 17h, a Escuna Beethoven voltou ao ponto de partida depois de um dia de muitas emoções.

Há 11 anos fazendo o Emoções na Guanabara, Evanney teve a ideia a partir do desejo de seus fãs que gostariam de ir ao Emoções em Alto Mar, mas não tinham dinheiro suficiente.

"No meio de um show, uma fã se levantou e falou que eu tinha que fazer um cruzeiro igual ao do Roberto. Eu disse que igual ao dele não dava, mas comecei a ver um saveiro para fazer. O primeiro já saiu esgotado", relembra.

O próprio Roberto Carlos já deu aval para continuar alegrando os fãs menos endinheirados.

"Sou completamente apaixonado pelo Roberto Carlos desde a minha adolescência e a minha semelhança com ele se tornou minha profissão e me aproximou dele. Ele me convidou para fazer o cruzeiro dele e foi incrível. Eu amei. Sou muito grato. Ele é um cara muito generoso", agradece.

Evanney já chegou a fazer três edições ao ano do projeto, mas parou por recomendações médicas —ele sofreu um infarto do miocárdio, que deixou seu coração fragilizado e, por ironia do destino, impedido de viver fortes emoções.

Quem quiser embarcar no passeio terá de esperar o anúncio de vendas para 2020.

"Mas quem quiser conhecer o meu trabalho melhor não pode deixar de ir à gravação do meu primeiro DVD, em 10 de março, no Teatro Rival [centro do Rio]. Vai ser um show lindo em homenagem ao Dia Internacional da Mulher", convida o cover.

Bruna Prado/UOL Bruna Prado/UOL

Leia mais

UOL

CCXP das minas

As mulheres foram protagonistas na sexta e maior edição do festival geek em São Paulo

Ler mais
Bruno Machado/Divulgação

Mulheres invisíveis

Como A Vida Invisível pode levar o Brasil ao Oscar com história de irmãs separadas

Ler mais
Manuela Scarpa/Brazi News

Turu turu turu

Com a turnê Nossa História, Sandy e Junior fizeram o maior evento pop do Brasil em 2019

Ler mais
Topo