A proibidona MC Rebecca

"Cai de Boca", "Ao Som do 150" e "Sento com Talento": Como a funkeira feminista somou 32 milhões de views

Osmar Portilho Do UOL, em São Paulo Divulgação

Foi em julho de 2018.

MC Rebecca sabe apontar com precisão o momento em que sentiu que havia estourado. Em conversa com o UOL, a funkeira carioca de 21 anos falou sobre seu sucesso alavancado nestes últimos 11 meses, feminismo no funk, suas letras proibidonas e quais são seus próximos passos na música.

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Do samba ao funk

Os primeiros passos de Rebecca como artista foram na quadra do Salgueiro, como passista. Foi lá onde passou dez anos dedicada ao Carnaval, até que teve que optar pela nova carreira. A música "Cai de Boca", uma composição de Ludmilla, caiu no seu colo.

"Eu tive que escolher entre samba e o funk. A Ludmilla me deu a música 'Cai de Boca' e eu comecei a fazer shows. Não dava para fazer os dois. O funk precisa de uma dedicação enorme. São muitas apresentações e compromissos. O samba não deu pra acompanhar", disse ela.

Assim que "Cai de Boca" foi gravada, estourou rapidamente no Rio de Janeiro. "Foi em uma semana e foi bem louco".

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"Por que os homens podem e as mulheres não?"

"Cai de Boca" estourou nos bailes do Rio de Janeiro e logo se espalhou por outras cidades. O clipe, postado no YouTube em agosto do ano passado, hoje está prestes a bater 6 milhões de visualizações. No Spotify, a faixa foi tocada 5,3 milhões de vezes.

Na letra escrita por Ludmilla, o refrão diz "Cai de boca no meu bucetão" (alterado na versão light para "cai de boca que tá muito bom"). MC Rebecca viu ali uma oportunidade de fazer algo comum para os MCs, mas raro para as mulheres que se arriscam no microfone dos bailes funk.

"Era uma chance que eu tinha. E também para outras mulheres poderem cantar. Na época que gravei a música só tinham homens cantando proibidão. Por que só homens podem e as mulheres não? Não tinha voz feminina cantando funk proibidão. E essas músicas deles não eram só de putaria. Xingavam as mulheres", explicou.

Sou femininsta. Defendo o poder feminino. Por que as mulheres não podem cantar sobre o que elas sentem vontade? Eu, como mulher e mãe, me sinto honrada em poder dar voz para outras mulheres.

MC Rebecca

Como nasceu "Cai de Boca"

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As versões light

Além de "Cai de Boca", outras músicas de MC Rebecca também tiveram adaptações mais leves de suas letras. "Coça de Xereca", por exemplo, virou "Coça de Rebecca". A primeira versão, no Spotify, tem 1,3 milhões de audições, enquanto a edição light soma 600 mil. A cantora não esconde a decisão estratégia de suavizar as letras, mas afirma que este não é o principal motivo.

"Não é nem questão de bombar mais. Tenho fãs que são crianças. Numa festa de família as pessoas não vão se sentir à vontade de tocar a putaria mesmo. Por isso a gente opta por fazer uma coisa mais leve para poder as crianças escutarem e a gente poder fazer show infantil ou adolescente".

"Tenho uma versão do meu show que é completamente diferente para maiores de 18 anos".

As minhas letras são mais sobre expressão sexual. Por que a mulher não pode sentir prazer? E eu queria cantar sobre isso.

MC Rebecca

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O teste: Baile da Gaiola

Para MC Rebecca, outro momento marcante de sua ascensão foi o famoso Baile da Gaiola, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro. Lá, diante de 25 mil pessoas, passou num grande teste de como seria se apresentar diante de um grande público. "Eu fiquei muito feliz e nervosa. Graças a Deus a música já estava estourada e todo mundo sabia cantar. Isso me deixou mais tranquila. Foi muita emoção".

O convite para o show partiu do DJ Rennan da Penha, preso em abril acusado de associação ao tráfico, um dos idealizadores do Baile da Gaiola. A funkeira afirma existir uma perseguição ao gênero.

"Os MCs só relatam o que acontece dentro da favela. E mesmo assim são discriminados. Já passei por muitas coisas lá, como tiroteio. E a gente acaba escrevendo nas nossas letras e expondo pro mundo. Governo e as pessoas que estão do lado de fora só querem abafar essa história, mas só é o que acontece realmente", disse ela.

Preto, pobre e favelado sempre vai ser discriminado. O funkeiro só conta o que passa dentro da favela.

MC Rebecca

Lucas Tomaz Neves/OneRPM

"Quero mesmo é levar uma mensagem pra galera"

As coisas andaram rápido pra Rebecca, que agora tem 500 mil ouvintes mensais no Spotify e 32 milhões de visualizações no YouTube. A funkeira planeja lançar um álbum completo até o fim do ano, mas não se limita ao funk. "Estamos fazendo uns trap funks agora, mas quem sabe eu não faça um reggaeton ou um afro funk?".

"Vou fazer clipes e músicas que também façam a galera se divertir, mas quero mesmo é levar uma mensagem pra galera. Eu me considero muito artista. Eu gosto de fazer bastante coisa. Todos os artistas têm que ter bastante liberdade de fazer o que eles querem. Não tem por que não fazer. Só vai".

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