'Os Novos Mutantes': O último filme do universo X-Men como você conhece
Enfim, aconteceu! Mais de dois anos após a previsão inicial, "Os Novos Mutantes" chegou aos cinemas —os da Europa, no Brasil está agendado (por enquanto) para 17 de setembro, mas tudo depende de como estará a pandemia de covid-19. Este, no fim das contas, é apenas mais um dos obstáculos enfrentados por aquele que é o último filme do universo mutante como o conhecemos.
Aposta da Fox para dar sequência ao universo X-Men após a aposentadoria de Hugh Jackman como Wolverine, "Os Novos Mutantes" segue a linha do estúdio no sentido de fugir do convencional dentre os filmes de super-heróis. Se "Deadpool" (2016) investiu no deboche explícito e "Logan" (2017) trouxe um forte tom realista inspirado pelo faroeste, ambos bem violentos, este é um filme de terror. Ou quase.
Com a venda iminente da Fox para a Disney, "Os Novos Mutantes" entrou em sua via-crúcis: refilmagens e reedições que adiaram sua estreia tantas vezes. Isso sem falar de ser este um filme que abre um leque de opções a um universo que não mais existirá, já que a Disney pretende inserir os X-Men em seu Universo Compartilhado Marvel. Se as filmagens já não tivessem ocorrido, o filme sequer existiria.
A bem da verdade, "Os Novos Mutantes" apenas chega aos cinemas devido à uma cláusula na venda da Fox que exige que todos os filmes em produção até aquele momento sejam lançados nas telonas. Ou seja, trata-se de um filme deslocado no tempo cujos bastidores são tão importantes para compreendê-lo. Para o bem e para o mal.
E o filme?
Há pontos positivos em "Os Novos Mutantes". A aposta em ser um filme intimista envolvendo super-heróis nascentes, longe da grandiosidade e ambição habituais do gênero, casa bem com as angústias da adolescência, período em que os poderes mutantes se manifestam —e que podem ser também um fardo. Esta dualidade é o elo central do roteiro, sem abrir mão dos hormônios em ebulição. Ainda bem.
Em uma bem-vinda representatividade, "Os Novos Mutantes" traz um casal gay sem qualquer pudor —em parte, graças à proposta da Fox em fugir do convencional. A consciência de pertencer a um universo já estabelecido proporciona boas brincadeiras envolvendo os X-Men, com citações e perspectivas, que sempre agradam ao fã mais atento. Por outro lado, há um lamento implícito pelo que poderia ter sido.
Isto porque "Os Novos Mutantes" funciona melhor como proposta conceitual do que como aventura solo. A partir de uma história bem simplória, cuja narrativa situada dentro de um hospital se assemelha muito à de "Vidro" (2019), dirigido por Shyamalan, o filme é uma mera apresentação dos personagens de forma a realçar seus demônios internos. O mundo lá fora ficaria para uma sequência, que jamais virá.
Diante disso, fica sempre a sensação que "Os Novos Mutantes" faz mais sentido como mudança de rumo dentro do universo X-Men do que propriamente como filme independente, como se tornou após a venda da Fox. Até há personagens promissores, como a Lupina de Maisie Williams e o Mancha Solar do brasileiro Henry Zaga, mas se sabe de antemão que não terão sobrevida. O que se mostra aqui é pouco para sustentá-los.
Com isso, sobra pouco ao filme. A ambientação em tons sombrios, mais para o suspense que o terror, é mais curiosa que competente na busca constante pelo aprisionamento. Há também limitações nos efeitos especiais, como se percebe com clareza nas cenas em que Magia usa seus poderes, algumas bem toscas. A trilha sonora de Mark Snow, sempre soturna, é trivial.
'Não vou colocar um uniforme e lutar. Sou rico'
Aos brasileiros, há ainda a curiosidade em torno de Henry Zaga e Alice Braga. Se ele interpreta um mutante vindo da família mais rica do Brasil, autor da pérola citada acima, Braga dá vida à doutora Reyes, que administra (sozinha) o local em que todos estão isolados. Apenas ele é brasileiro também na história, soltando até um "olá, gatinha" galanteador, que tanto revela sobre o personagem.
Por ser este um filme de apresentação, Mancha Solar tem apenas um breve histórico, com pistas que poderiam ser trabalhadas mais à frente. Alice Braga, por sua vez, tem uma personagem mais bem fundamentada, por mais que presa à estrutura narrativa proposta. Trata-se de um trabalho correto de ambos, mas sem brilho.
Em meio ao temor de ser este um novo "X-Men: Fênix Negra", terrível em vários sentidos, "Os Novos Mutantes" é um filme com problemas mas também com ideias, o que lhe traz frescor mesmo sendo agora o pária de uma Marvel unificada. Trata-se do ponto final de uma era dos quadrinhos no cinema que, curiosamente, aponta que ainda havia lenha a queimar.
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