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'Boca a Boca' traz olhar humano sobre epidemia, diz criador

Cena de "Boca a Boca", da Netflix - Divulgação/Netflix
Cena de 'Boca a Boca', da Netflix Imagem: Divulgação/Netflix

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

30/07/2020 04h00

"Boca a Boca" estreou sem grande alarde, mas está dando o que falar —e já tem até muita gente apontando a série estrelada por nomes como Thomas Aquino e Grace Passô como a melhor produção brasileira da Netflix (nós concordamos, e inclusive listamos aqui cinco motivos para você dar uma chance a ela).

A gente resolveu então ir atrás de Esmir Filho, criador e diretor geral da série, para bater um papo sobre as coincidências da série com as epidemias que já conhecemos —afinal, estamos vivendo uma, né?— e o que podemos esperar de uma possível segunda temporada. Vem ver:

Epidemias e mensagem de acolhimento

Em "Boca a Boca", os jovens da cidadezinha fictícia de Progresso são infectados com uma doença misteriosa que é transmitida pelo beijo. Parece que é uma história feita sob medida para a pandemia causada pelo novo coronavírus, mas ela já estava pronta quando a doença chegou ao Brasil.

Esmir começou a desenvolver a série há dois anos, pensando em outras epidemias da história —a principal delas foi a do surgimento do HIV, nos anos 1980.

A epidemia é o ponto de partida para a gente jogar luz sobre o comportamento humano, nossos relacionamentos. Na história das epidemias, a gente meio que sofreu dos mesmos males: a falta de informação, o pânico, o medo, e isso provoca preconceitos que vêm à tona.

Mas o criador e roteirista admite que a série cai muito bem para o momento atual:

Muita coisa que estava na série nós estamos sentindo agora. Traz uma reflexão em boa hora, é uma mensagem de acolhimento, de afeto, de possibilidades de conexão

'Vírus do conservadorismo'

Além do vírus misterioso que assola Progresso e vira o tópico do momento em todas as redes sociais, "Boca a Boca" também trata de outro "vírus", segundo Esmir:

Tem a ver com uma doença social nossa, é quase um vírus do conservadorismo.

Não vamos dar spoilers aqui, mas os personagens da série sofrem vários preconceitos além daqueles ligados à doença: eles lidam com homofobia, classismo, racismo e a rejeição àqueles que vêm de fora. Batizar a cidade de Progresso foi uma ironia proposital.

É uma cidade cheia de imagens de controle, que têm a ver com regras, moralidade, como deve ser, quem são os nossos, quem são os de fora... São coisas que acabam reprimindo outras, principalmente as pulsões desses jovens.

'Boca a Boca', da Netflix - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Imagem: Divulgação/Netflix

Como nasceu Progresso

A cidadezinha fictícia, aliás, é uma junção de três cidades reais: Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo; Queluz, na divisa de SP com o Rio de Janeiro; e Goiás Velho (GO), onde foram gravadas a maior parte das cenas que retratam a cidade em si.

A ideia era misturar lugares para criar essa cidadezinha com uma economia pecuária. E isso de ser uma cidade histórica não é à toa. Queria mostrar esse lugar antigo e histórico povoado pela tecnologia.

E os atores?

O elenco de "Boca a Boca" também chama a atenção, indo de um time jovem liderado pelo trio formado por Michel Joelsas, Caio Horowicz e Iza Moreira, a veteranos como Grace Passô, Denise Fraga, Thomas Aquino e Bruno Garcia.

Fran (Iza Moreira), Chico (Michel Joelsas) e Alex (Caio Horowicz) em 'Boca a Boca', da Netflix - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Fran (Iza Moreira), Chico (Michel Joelsas) e Alex (Caio Horowicz)
Imagem: Divulgação/Netflix

Os jovens foram escolhidos a dedo em um processo que começou com mais de 300 candidatos e, desses, levou 60 para uma oficina —incluindo os já veteranos Michel ("O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias") e Caio ("Hebe"). No fim, foram selecionados 25 atores, que formaram a turma da Escola Rural.

Alguns têm bastante potencial para crescer na próxima temporada. Eu quis selecionar bem a classe, era muito importante a química em grupo.

A química inclusive deu tão certo que a turma tem um grupo no WhatsApp que tem o mesmo nome do grupo de seus personagens: Progresso da Depressão. Amamos!

Vem mais por aí?

Esmir já tem as bases de uma possível segunda temporada. Enquanto desenvolvia a série, ele e os roteiristas de sua equipe criaram a mitologia da história —incluindo as origens da misteriosa seita que existe nos arredores da cidade.

A Netflix ainda não se pronunciou sobre a renovação da série, mas Esmir está animado com a repercussão:

Eu já vi um monte de gente na internet pedindo, e só digo: peçam mais. Há muitas coisas para a gente pescar de consequências dessa primeira temporada.

Já estamos torcendo!