Elza Soares: 'George Floyd me machucou, mas só posso sentir e sofrer'

Elza Soares tem várias datas de nascimento. E não adianta perguntar qual é a correta. Nem ela sabe. Nos documentos, nasceu há exatos 90 anos, em 23 de junho de 1930. Mas esse dia e esse mês se referem à emancipação da cantora, usada para poder se casar pela primeira vez, forçadamente, aos 13 anos de idade. A data correta seria 22 de julho de 1933... ou 1937. Não há registro.

O fato é que pouco importa. Elza —insira aqui a idade— é hoje um monumento da cultura brasileira. Símbolo da militância racial, das questões gênero e de um país rasgado pelo machismo e outras ranhuras sociais. E nunca é demais enaltecer suas histórias e sua importância na música brasileira, que nos últimos anos vem passando por um bem-vindo processo de redescoberta.

E, fãs, atenção: Elza faz hoje sua primeira e aguardada live.

Aproveitando a estreia, nós conversamos por mensagem de áudio com ela, que se mostrou cética sobre diversos temas espinhentos. Do racismo estrutural à passagem do bastão de sua música. De uma eventual aposentadoria à mera possibilidade de sonhar. Sobre governo Bolsonaro e o estado do país, preferiu não responder. Não que não imaginemos o que viria.

Em meio ao pessimismo e incertezas advindas da pandemia, Elza "noventona" felizmente ainda é capaz de se dizer feliz. E nós ficamos com ela.

1. Como você se sente completando esse novo ciclo? Quais sonhos ainda espera realizar?

Realizar sonhos é muito difícil. Quando você está vivo, você não realiza. Você sonha. Continuo sonhando. Espero que o Brasil cresça um pouco mais. Que o brasileiro cresça um pouco mais. Para mim, pessoalmente, cada dia é um dia.

2. Há publicações que registram seu nascimento em 1930, 1933, 1937.... Em que você ano nasceu afinal?

Não sei explicar, não. Seu Avelino, meu pai, já morreu. E só ele saberia disso. Mais ninguém. Eu não sei

3. O assassinato do George Floyd nos EUA desencadeou a maior onda de protestos contra o racismo em 50 anos. Por que ainda não superamos essa chaga?

Eu acho que ainda vai demorar muito mais. A humanidade está caminhando muito devagar. Passo a passo. Esse caso [do George Floyd] é muito sério. Não é brincadeira. A gente está lidando com uma coisa muito doída. Me machuca muito ver isso. Mas eu sou uma só. Não posso fazer nada. Posso sentir e sofrer

4. Nos últimos anos, você lançou ótimos discos, abraçados pela crítica e jovens. Voltar a falar com eles era seu objetivo ou aconteceu naturalmente?

Naturalmente, não. Eu acho que a gente tem obrigação de falar com o jovem. Tem obrigação de evoluir. Temos obrigação de saber cada vez mais. Tudo que eu faço é vendo o que está acontecendo em volta de mim. Eu vejo essa juventude órfã. Vejo uma juventude que precisa de carinho, de amor. Que precisa de tudo. Eu estou colaborando com eles o bocadinho que posso

5. Um exemplo de como seus seguidores mudaram foi o público do seu show no Rock in Rio, um festival tradicionalmente branco. Havia muitas mulheres e mulheres negras, feministas. Você percebe essa mudança?

Percebo completamente. Eu vivo cantando e vigiando o que está acontecendo ao meu redor. Eu vi o público que esteve no Rock in Rio, e isso me deixou muito feliz

6. Este ano você foi tema de desfile da Mocidade no Rio. Como se sentiu desfilando agora como protagonista?

Eu me senti molhada de chuva. Fiquei feliz pelo desfile. Feliz pela consagração. E feliz pelo público. Só tenho a agradecer mais uma vez

Mocidade Independente

1 / 59

Elza Soares foi homenageada pela Mocidade, agremiação do bairro em que a artista nasceu. Ela desfilou e, antes disso, teve voz ativa para colaborar com a forma como sua história seria contada na Sapucaí

Leia mais Lucas Landau/UOL

2 / 59

Homenageada com o enredo "Elza deusa Soares", a cantora desfilou acompanhada de dois médicos

Leia mais Lucas Landau/UOL

3 / 59

Detalhe das fantasias de componentes da Mocidade

Leia mais Lucas Landau/UOL

4 / 59

Mocidade Independente de Padre Miguel na concentração da Sapucaí

Leia mais Lucas Landau/UOL

5 / 59

Mocidade Independente de Padre Miguel na concentração da Sapucaí

Leia mais Lucas Landau/UOL

6 / 59

Mocidade Independente de Padre Miguel na concentração da Sapucaí

Leia mais Lucas Landau/UOL

7 / 59

Mocidade Independente de Padre Miguel na concentração da Sapucaí

Leia mais Lucas Landau/UOL

8 / 59

Zeca Camargo na concentração da Mocidade

Leia mais Lucas Landau/UOL

9 / 59

Mocidade Independente de Padre Miguel na concentração da Sapucaí

Leia mais Lucas Landau/UOL

10 / 59

Mocidade Independente de Padre Miguel na concentração da Sapucaí

Leia mais Lucas Landau/UOL

11 / 59

Mocidade Independente de Padre Miguel na concentração da Sapucaí

Leia mais Lucas Landau/UOL

12 / 59

Mocidade Independente de Padre Miguel na concentração da Sapucaí

Leia mais Lucas Landau/UOL

13 / 59

Mocidade Independente de Padre Miguel na concentração da Sapucaí

Leia mais Lucas Landau/UOL

14 / 59

Mocidade Independente de Padre Miguel na concentração da Sapucaí

Leia mais Lucas Landau/UOL

15 / 59

Mocidade Independente de Padre Miguel na concentração da Sapucaí

Leia mais Lucas Landau/UOL

16 / 59

Mocidade Independente de Padre Miguel na concentração da Sapucaí

Leia mais Lucas Landau/UOL

17 / 59

Mocidade Independente de Padre Miguel na concentração da Sapucaí

Leia mais Lucas Landau/UOL

18 / 59

Giovanna Angélica, rainha de bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Luciola Vilella/UOL

19 / 59

Giovanna Angélica, rainha de bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel, no desfile do Carnaval 2020

Leia mais Luciola Vilella/UOL

20 / 59

Giovanna Angélica, rainha de bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel, no desfile do Carnaval 2020

Leia mais Luciola Vilella/UOL

21 / 59

Giovanna Angélica, rainha de bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel, no desfile do Carnaval 2020

Leia mais Luciola Vilella/UOL

22 / 59

Giovanna Angélica, rainha de bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel, no desfile do Carnaval 2020

Leia mais Luciola Vilella/UOL

23 / 59

Comissão de frente da Mocidade trouxe a transformação de Elza Soares em uma mulher forte

Leia mais Luciola Vilella/UOL

24 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Luciola Vilella/UOL

25 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Luciola Vilella/UOL

26 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Luciola Vilella/UOL

27 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Luciola Vilella/UOL

28 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Luciola Vilella/UOL

29 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Luciola Vilella/UOL

30 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Luciola Vilella/UOL

31 / 59

Bruna Santos, primeira porta-bandeira da Mocidade

Leia mais Luciola Vilella/UOL

32 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre MiguelDesfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Luciola Vilella/UOL

33 / 59

Carro abre-alas início da carreira de Elza, após ela ser revelada em um show de talentos

Leia mais Luciola Vilella/UOL

34 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Luciola Vilella/UOL

35 / 59

Fantasai de ala faz refrência a vaca que lambeu Elza em sua infância em Água Santa

Leia mais Luciola Vilella/UOL

36 / 59

Detalhe de fantasia da Mocidade

Leia mais Luciola Vilella/UOL

37 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Luciola Vilella/UOL

38 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Luciola Vilella/UOL

39 / 59

Segundo carro da Mocidade foi dedicado à carreira internacional de Elza

Leia mais Luciola Vilella/UOL

40 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

41 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

42 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

43 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

44 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

45 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

46 / 59

Ala representou os preconceitos que Elza Soares enfrentou em sua carreira, como a misoginia, o racismo e o elitismo

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

47 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

48 / 59

Carro da Mocidade chamado "O circo da vida --apanhou à beça mas é dura na queda", usou refrências circenses para falar dos preconceitos que Elza sofreu, como racismo e machismo

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

49 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

50 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

51 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

52 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

53 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

54 / 59

Elza Soares veio á frente do último carro da Mocidade, que trazia uma bandeira com os dizeres "respeita as minas, as monas, as manas"

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

55 / 59

Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

56 / 59

Ao UOL, Elza disse ter ficado muito emocionada com o desfile

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

57 / 59

Elza Soares no desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel que a homenageou

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

58 / 59

Elza Soares no desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel que a homenageou

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

59 / 59

Elza Soares no desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel que a homenageou

Leia mais Júlio César Guimarães/UOL

7. Você enxerga alguém da nova geração que pode passar para frente o seu legado de música e ativismo? Iza? Ludmilla?

Não estou percebendo nada disso. Eu vejo a mocidade continuando no trabalho. Eu acho que eles sabem o caminho que estão caminhando. Eu não sei nada

8. O que a palavra "aposentadoria" representa para você?

Nem te respondo. Porque não tenho resposta. Acho que aposentar na música é uma loucura. Você canta até o fim. Eu quero que me deixem cantar até o fim, até o fim, até o fim, até o fim... (sussurra)

9. Você já revelou que costuma tomar sol nua no seu apartamento em Copacabana na quarentena. Como está sendo esse período para você?

Essa pandemia é algo inédito no mundo. E estamos atravessando um momento muito difícil. Difícil e cruel. Temos que ter consciência do que está acontecendo. E eu pego sol nua, sim. Estou pegando aqui na minha sala. E me sinto feliz