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Rafael Infante volta ao Porta com personagem gay: 'Nunca foi deboche'

Rafael Infante - Oseias Barbosa/Divulgação
Rafael Infante Imagem: Oseias Barbosa/Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

09/06/2020 04h00

Rafael Infante, também conhecido como "Deus da Polinésia" e "Jesus da Cura", está de volta ao Porta dos Fundos após quatro anos. E ele chegou chegando, com o retorno de um de seus personagens mais hilários, o carismático e "esclarecedor" Carlinhos Avelar. Aquele que sabe contar uma história bafônica como ninguém, repleta de pormenores entre seus "tatananãs" e "tananinas".

Não entendeu?

Então veja como aquela reunião ministerial do governo Bolsonaro fica muito mais clara quando explicada por ele em seu novo plantão de notícias

E o mesmo vale para a recente treta entre Anitta e o jornalista Leo Dias. Agora, sim, dá para entender!

Nós conversamos com Rafa sobre seu retorno ao grupo e ao personagem Carlinhos Avelar, que parece mais uma síntese dos tempos confusos da política e da vida cotidiana brasileira durante a pandemia. Cola aí embaixo.

Por que voltar ao Porta?

O ator diz que já vinha "namorando" os ex-colegas há algum tempo e, com um acordo verbal, o martelo foi batido depois que encerrou sua participação em "Bom Sucesso". Rafael viveu o galã Pablo, um ator que escondia que era gay, na novela das sete concluída em janeiro deste ano.

Dois fatores pesaram na escolha do ator, que também é comediante de stand-up e foi do elenco do "Vai que Cola":

  • Continuar trabalhando, já que os teatros fecharam as portas por causa da pandemia
  • A repercussão do último especial de Natal do Porta dos Fundos, que motivou um atentado à sede do grupo do Rio, estreitando ainda mais os laços de Rafael com o grupo

É muito louco falar isso, porque é uma coisa horrível, mas o próprio formato exigido pela quarentena acabou contribuindo também para minha volta

Fábio Porchat e Gregório Duvivier sempre fazem a piada de que todos os atores do Porta são futuros ex-Porta. Que todos vão para o Multishow. Por que isso acontece?

Multishow é um lugar que estava abraçando muitos projetos de comédia, em vários formatos. Já tinha trabalhado lá e peguei carona na onda com o Marcus Majella [outro ex-Porta] no 'Vai que Cola'. Na época, queria fazer outros voos. Essa coisa artística de não querer fazer sempre a mesma coisa

Mas, voltando ao que interessa: Carlinhos Avelar. Ele que apareceu pela primeira vez em 2015, quando precisou testemunhar num tribunal. Imaginem o resultado

Mas o Brasil quer saber: como ele foi criado?

Foi bem intuitivo. Sabe quando você escuta as pessoas fazendo fofoca, e não consegue entender nada? Sempre brincava disso. Não sei o quê, tananã, tananina. Comentei acho que com o Ian [SBF, diretor]: 'E se a gente fizesse um vídeo em que alguém tivesse que contar uma história, mas não conta nada?'

Carlinhos foi resgatado depois que Infante começou a postar vídeos espontâneos dele em sua conta no Instagram, como este abaixo

E neste outro, postado já depois da reestreia

Mas, já antes disso, seguidores já pediam o retorno. A ideia então foi amadurecendo até chegar ao formato de um plantão de notícias

Mas ele não seria afetado demais? Além disso, Rafa é um homem hétero interpretando um personagem gay...

Nunca debochamos de ninguém que fala assim. O personagem foi pensado em conjunto pela gente com muito cuidado. Ainda mais voltando nesse momento que estamos vivendo no Brasil, em que se mata gente apenas por ser diferente de alguma forma

E o que diz o público LGBTQ+?

Gosto de acompanhar a repercussão e até para mudar, caso esteja ofendendo alguém. Mas tenho recebido um retorno muito positivo de fãs e amigos gays. Falando que não estamos debochando, mas representando. Que ele consegue representar uma crítica sobre esse momento confuso do Brasil

Você já fez muito teatro, TV, mas é sempre visto como 'o cara do Porta dos Fundos'. Incomoda?

De forma alguma. Isso aconteceu porque o Porta quebrou barreiras das TVs aberta e fechada logo no início. Sem desmerecer os outros lugares em que trabalhei, mas sempre tive essa marca, que é algo que carrego com tranquilidade e tenho orgulho da trajetória que construí

Rafael Infante (Divulgação) - Rafael Infante (Divulgação) - Rafael Infante (Divulgação)
Imagem: Rafael Infante (Divulgação)

Como acha que a dramaturgia vai voltar depois da pandemia?

Muita coisa vai mudar, pelo menos no início. Não vai poder ter abraço, beijo. Equipe será reduzida. Para produzir em segurança, as pessoas ainda vão testar muitos formatos. E para mim é empolgante participar desse momento estando de novo no Porta dos Fundos, que sempre teve muita liberdade para criar. É o que quero fazer nos meus próximos projetos