Topo

'Espero que traga alívio', diz Gabi Melim sobre live e disco novo da banda

Melim gravou o álbum "Eu Feat. Você" no Capitol Records Studios, em Los Angeles - Eduardo Orelha/Divulgação
Melim gravou o álbum 'Eu Feat. Você' no Capitol Records Studios, em Los Angeles Imagem: Eduardo Orelha/Divulgação

Renata Nogueira

Do UOL, em São Paulo

15/05/2020 04h00

Maior representante do segmento "good vibes" na atual música pop brasileira, a banda Melim lança hoje a primeira parte do segundo disco de sua carreira. Com oito músicas, sete delas inéditas, "Eu Feat. Você" foi gravado em Los Angeles e finalizado no início da pandemia da covid-19, a tempo de o trio voltar para o Brasil.

Gabi Melim, a voz feminina dos irmãos de Niterói (RJ), conversou com o UOL por telefone sobre como é lançar um trabalho em condições tão adversas e as mudanças que o grupo teve de fazer no projeto de divulgação do disco. Ela, Rodrigo e Diogo fazem uma live hoje, a partir das 22h45, para mostrar o novo trabalho da Melim para os fãs. O show será transmitido no YouTube, no canal deles, e na TV e no rádio pela Band.

Com composições inéditas, que seguem o estilo alto-astral que popularizou a banda, e músicas em parceria com Lulu Santos, Rael e Saulo, Gabi Melim celebra a chegada do álbum e espera que as novas músicas tragam um pouco de alívio durante a pandemia.

O mundo sempre precisou disso, mas, neste momento, mais do que nunca. Vai vir numa hora ideal. Espero que traga um respiro.

Melim - Thiago Calvino/Divulgação - Thiago Calvino/Divulgação
Imagem: Thiago Calvino/Divulgação

Veja como foi a conversa:

UOL - Vocês vão lançar o disco de uma forma diferente do que haviam planejado inicialmente, com uma live. O que seus fãs podem esperar desse show?

Gabi Melim - A gente vai seguir com uma parada bem caseira, como fizemos na nossa primeira live. Vai ser voz e violão, algo mais espontâneo. Preferimos não seguir as bases do show, e sim deixar a galera pedir as músicas. A diferença é que agora vamos tocar algumas músicas que não rolaram na primeira live e também 'Eu Feat. Você', que é o single de trabalho, além de dar uma palhinha das outras músicas do álbum novo.

Como está sendo passar a quarentena confinada com os seus irmãos?

A gente sempre viveu muito junto na estrada, então não é muito diferente em casa. Na verdade é até mais fácil.

Aqui em casa todo o mundo lava a louça, todo o mundo faz de tudo e cada um tem o seu cantinho.

A gente consegue dar uma atenção a mais para as nossas redes sociais, responder a galera. Estamos usando esse momento para nos conectar com os fãs de outras formas. No mais, a gente se respeita muito e, cada vez mais, vai se entendendo como banda e como indivíduos.

O álbum está pronto, mas chega em duas partes. Oito músicas agora e o restante só no segundo semestre. Por que lançá-lo assim?

Melim capa - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Melim revela capa do novo disco, 'Eu Feat. Você'
Imagem: Reprodução/Instagram

No nosso primeiro álbum, gostamos muito de todas as músicas, mas sentimos que não tivemos tempo suficiente para trabalhá-las. Apesar de um ano parecer muito tempo, dá para investir em, no máximo, uns quatro singles. Então, resolvemos lançar em duas partes para ter um respiro maior.

'Eu Feat. Você' é o nome do disco e também de uma das músicas. O que ela tem de tão especial?

Essa música é uma composição minha com o Rodrigo e o Diogo. Temos uma ligação muito forte com ela porque é a música mais pop que a gente já produziu até hoje. Ela não é tão orgânica como as outras músicas do disco, tem umas influências um pouco mais gringas.

Outra coisa interessante é que no primeiro disco a gente não teve nenhuma participação e nesse a gente já chega com três. Então, faz todo sentido usá-la para abrir essa segunda fase e chamar o álbum de 'Eu Feat. Você', já que a gente está trazendo outros artistas.

Falando em parcerias, como chegaram no Lulu Santos, Rael e Saulo, que colaboram nessa primeira parte do disco?

Nosso processo todo é sempre muito natural. Já escrevemos 'Relax' pensando no Rael e foi incrível vê-lo dando vida à nossa letra. Forte.

O Lulu já aconteceu de outra forma. Eu gravei um vídeo cantando uma música dele no Instagram ['Assim Caminha a Humanidade'] e ele comentou e repostou. Aí tive um leve 'derrame', estou me recuperando até hoje, e ousadamente o convidamos.

A faixa de que o Lulu participa ['Cabelo de Anjo'] é muito especial, porque é uma música que o Diogo escreveu para a filha dele.

Já o Saulo tem uma musicalidade que tem tudo a ver com a gente. Coloriu bem o disco. E, apesar de serem três artistas muito diferentes, todos eles têm algo em comum com a gente, que é falar de coisas boas.

Vocês estão no segundo álbum da carreira e já cantaram com Ivete Sangalo, Anitta, Sandy, Nando Reis. Ainda tem espaço para uma participação dos sonhos que não rolou?

O dia em que eu parar de sonhar não estarei mais cantando. O que move a gente são os sonhos. Mas se é para sonhar, vamos sonhar direito.

Uma parceria unânime, que nós três sonhamos muito, seria o Djavan.

É nítida a evolução da sua voz do primeiro grande hit da Melim, 'Meu Abrigo', para as músicas do novo álbum. O que você tem feito de diferente?

Sempre gostei de cantar e sempre cantei. Mas confesso que eu nunca tinha feito aula, fono. Nesse quesito eu não era tão engajada. Com o tempo e a quantidade de shows, senti a demanda de ter mais técnica, para que a minha voz estivesse sempre com qualidade. Não ter aspereza ou rouquidão. Descobri neste último ano o prazer de cuidar da voz. Faço fono todos os dias.

Quando eu olho umas gravações antigas minhas, vejo uma certa inocência. Hoje já tenho mais malícia para entender algumas coisas, como projetar a voz sem gastá-la, sem machucar.

Como você explica a Melim atingir tanto o público mais novinho, que pira com o som de vocês, mas também agradar as pessoas mais maduras?

Acho que pesa o fato de a gente fazer parcerias com esses caras lendários, tipo o Lulu Santos e o Nando Reis. É a nossa forma de levar cultura musical para o público mais jovem. E fazemos isso desde o começo, quando rolavam as releituras no YouTube. É muito legal valorizar o que é nosso e a fonte que a gente bebe.

Vocês tiveram a oportunidade de gravar o álbum em Los Angeles, no Capitol Records Studios, mesmo lugar em que já passaram nomes como Frank Sinatra, Beatles, Queen. Como foi essa experiência?

Capitol Records Studios - Eduardo Orelha/Divulgação - Eduardo Orelha/Divulgação
Melim gravou o segundo disco da carreira no Capitol Records Studios, em Los Angeles
Imagem: Eduardo Orelha/Divulgação

Surgiu um convite em dezembro para gravar o nosso álbum lá e surtamos na hora. É um estúdio que tem imponência, muita história, foi uma grande honra. Quando a gente entrou lá, já deu para sentir que havia uma energia diferente. Além de a estrutura ser incrível, de ter uma sonoridade muito foda, tem essa energia que ele carrega.

Fomos a primeira banda brasileira a gravar lá? É surreal, não sei nem ainda se caiu a ficha, mas marcou a nossa vida.

Além do estúdio, vocês tinham planejado gravar todos os clipes durante essa experiência de imersão em Los Angeles. Como a chegada da pandemia da covid-19 afetou os planos?

A gente tinha feito o roteiro dos clipes, mas não conseguiu fazer exatamente do jeito que foi planejado por conta da pandemia, que estava começando. Tivemos que mudar os planos e voltar ao Brasil. Então, pegamos todo o conteúdo que documentamos e criamos os clipes a partir do material que tínhamos. Foi um processo inverso, mas o resultado ficou bem bonito. No fim, ficou como um porta-retratos da nossa viagem.

Vocês também produziram um documentário e notei que ficaram todos hospedados em uma mansão. Rolou uma espécie de retiro musical?

A casa era muito linda. Quando entramos lá, até brincamos: 'Estamos ricos por cinco dias'.

Tinha uma vista muito bonita de Los Angeles. E, embora a gente já tenha percorrido uma estrada na nossa carreira, ali foi bem diferente. Era outro país e não ficamos absolutamente livres para curtir tudo por causa da pandemia. Ao mesmo tempo, conseguimos aproveitar a casa. Tinha uma jacuzzi, uma sala de cinema onde todo o mundo se juntava. Foi trabalho, mas também rolou lazer.

O documentário vai focar só na parte musical ou vocês vão mostrar também os perrengues que passaram por causa da pandemia?

Melim Los Angeles - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Melim gravou disco em Los Angeles
Imagem: Reprodução/Instagram

O documentário mostra tudo o que aconteceu. Não tem só a parte de estúdio. Tem a nossa surpresa de descobrir a nova situação. Até porque o isolamento começou antes nos Estados Unidos.

A primeira vez que fui ao mercado aqui no Brasil, depois que voltei, já estava de máscara, de luva, e já entendendo a proporção do que estava por vir. No mercado não tinha ninguém assim.

Lembro também de ir ao mercado lá fora e as prateleiras estarem vazias. Eu nunca tinha vivido isso. Espero que isso traga ensinamentos. De cuidar da nossa casa, que é o planeta, de cuidar do outro, de entender que a gente precisa ser mais amoroso com as coisas porque realmente não temos controle sobre tudo.

Vocês são de Niterói (RJ), uma das primeiras cidades a decretar 'lockdown' no país. O que achou do decreto e como está sendo passar por isso?

Eu e meus irmãos estamos morando na Barra (no Rio), mas a nossa família ainda mora lá. A minha mãe contou que eles têm feito um trabalho bem legal lá. Eles montaram o primeiro hospital especializado em covid-19 e decretaram o lockdown.

Isso é muito bom, pois os governantes têm que estar mais atentos e cuidar de perto de cada cidade, tendo em vista que o governo federal tem dado outros tipos de conselhos neste momento tão difícil que a gente está vivendo.

Temos que entender que o isolamento social é importante. Na minha cabeça é quase que como uma obrigação, já que a gente vive em coletivo, não vive só para a gente.

Vocês estão lançando um disco com uma live. Acredita que esse formato de encontro on-line com os fãs continuará em alta mesmo depois que acabar a pandemia?

Este momento que estamos vivendo vai trazer muitas mudanças e essa é uma delas. Acredito também que ainda vai demorar bastante para os shows voltarem. Quando as coisas começarem a normalizar não vai ser de uma vez, de um dia para o outro. Ainda assim mesmo quando voltar, acho que esses encontros na internet vão continuar.

Gabi Melim - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Gabi Melim posa em frente ao letreiro de Hollywood
Imagem: Reprodução/Instagram

Do que você sente mais falta por não poder sair de casa e que aprendizado acha que vai ficar desse momento tão difícil?

Eu sinto falta de estar com as pessoas. De sair, de ir à praia, de sentir a liberdade de ir e vir. Passando este momento, vou querer fazer isso. Encontrar as pessoas, ter contato com a natureza.

Acho que vamos enxergar as coisas da vida mais devagar, com mais amor, com mais carinho. A gente cria a nossa realidade. Tudo acontece a partir da maneira que a gente enxerga.