Série 'The New Pope' mostra disputa entre dois papas no Vaticano
Poucos meses após Jonathan Pryce e Anthony Hopkins encantarem o mundo com a conversa franca entre Francisco e Bento 16 retratada em "Dois Papas", filme de Fernando Meirelles, outros dois pontífices —estes ficcionais— estão sob os holofotes: Pio 13 e João Paulo 3º, os protagonistas de "The New Pope", série que estreia hoje no Fox Premium 1, às 22h30.
Apesar do nome diferente, a série funciona como uma continuação de "The Young Pope", que em 2016 teve Jude Law como um papa americano, jovem e conservador. Agora, seu Pio 13 (ou Lenny Belardo, seu nome real) está em coma após sofrer um ataque cardíaco, e o Vaticano, pressionado a colocar um sucessor em seu lugar, opta por Sir John Brannox (John Malkovich), um aristocrata inglês moderado. Por trás do semblante de sofisticação, no entanto, João Paulo 3º esconde inseguranças e vaidades, muito como seu antecessor.
O fascinante embate entre esses dois homens e suas visões de mundo é, novamente, o gancho do criador Paolo Sorrentino (vencedor do Oscar por "A Grande Beleza") para falar de temas como os abusos sexuais ocultados pela Igreja Católica, terrorismo, fundamentalismo cristão e, claro, o amor.
Polêmicas?
Nada disso, no entanto, vem com o intuito de chocar o público e polemizar, na opinião do ator espanhol Javier Cámara, que dá vida ao cardeal Gutierrez, fiel escudeiro de Lenny.
"Nesta segunda temporada, vamos descobrir a humanidade de muitos sacerdotes, e isso significa falar de suas dúvidas sobre fé, sexo, religião e suas vidas", diz ele, em conversa com a reportagem do UOL.
Discutem-se alguns dos temas do momento, como se os padres podem se casar ou não, se podem dedicar as suas vidas a Deus e a uma mulher ou a um homem. Mas não acho que isso vá gerar polêmicas, acho que vai gerar perguntas
O fascínio da Igreja

Javier, que trabalhou na série "Narcos" e no filme "Fale com Ela", de Pedro Almodóvar, concede a entrevista por videoconferência direto de sua casa, na Espanha, um dos países europeus mais afetados pela pandemia de Covid-19. Com espanto, ele nota que nunca falou com tantos veículos de comunicação como agora —e levanta a possibilidade de que a crise causada pelo novo coronavírus possa ter mexido com a fé das pessoas.
Na época da primeira temporada, não tivemos nada assim, que traga o que imagino ser uma necessidade de crer em alguma coisa. Talvez as pessoas estejam buscando mais a fé na ficção
O ator se define como cético e conta que há anos não frequenta a igreja. "Passei uns três, quatro anos em um colégio de padres quando era pequeno e, ao sair, disse para a minha mãe: 'Não quero ir mais para a missa, não vou a uma missa nunca mais na vida'. E assim foi. Não me convenceram de sua estratégia. Mas a fé eu tenho."
Para ele, é humana a necessidade de acreditar em algo, o que explica o fascínio que a Igreja Católica continua a exercer. "O catolicismo perdeu muito poder no mundo, porque agora há outras ideologias e outras igrejas, mas todos precisamos ter fé em algo. Tem gente que tem fé em Deus, tem gente que tem fé nas pessoas... Então, sempre que grandes artistas tocam nessa questão, gera interesse."
E Paolo Sorrentino é, na visão de Javier, um dos grandes cineastas de sua geração. "Ele tem um olhar muito profundo sobre a humanidade dos personagens e tenta dissecar a magia e o mistério desse lugar, [mostrar] o que sentem as pessoas em um lugar tão milagroso, misterioso e mágico como é o Vaticano."
O Vaticano dos cinemas e a atuação em inglês
A nova temporada, assim como a anterior, foi gravada na Cinecittà, complexo de estúdios na Itália que Javier chama, brincando, de "o verdadeiro Vaticano". Foi lá, afinal, que foram gravadas algumas das maiores películas do cinema italiano, incluindo "A Doce Vida" (1960), de Federico Fellini.
O interior da capela de são Pedro que aparece em "The New Pope", inclusive, foi reproduzido dentro do estúdio 5, o mesmo usado em várias obras do cineasta italiano. "De repente, eu estava no centro nevrálgico de arte, da religião dramática. Foi tão avassalador, em todos os sentidos, que não fazia tanta diferença atuar em um idioma diferente", conta o ator espanhol.
Mesmo com atores de origens tão distintas quanto o italiano Silvio Orlando e a belga Cécile de France, o fato de a série ser toda filmada em inglês não foi um problema. "Tanto Jude quanto John foram muito generosos, perdoavam todos os erros gramaticais que cometíamos", lembra. "A verdade é que o Vaticano é um caldeirão de pessoas com diferentes sotaques, e isso enriqueceu muito a série."

As participações de Sharon Stone e Marilyn Manson
"The New Pope" conta com duas participações especiais em seus nove episódios de uma hora cada: a da atriz Sharon Stone e a do cantor Marilyn Manson, que movimentaram bastante o set de filmagens da série. Sharon, entrega Javier, chegou até a se sentar na cadeira do papa para acompanhar as gravações.
"Eu e Mauricio Lombardi estávamos gravando uma cena, e John Malkovich já havia terminado sua parte. Então, ela se sentou na cadeira do papa. Mauricio ficou nervoso com a presença de Sharon, mas ela estava lá. É um dos presentes da nossa profissão."
Javier também se diverte ao lembrar a ida de Manson ao set. "Ele surgiu maquiado, com um par de óculos incrível e ficou apaixonado pelos trajes medievais da primeira temporada. Disse: 'Quero fazer um show com tudo isso'. Ele foi muito engraçado."
1 Comentário
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Seriado maravilhoso, delicioso, malicioso e que descreve muito bem a política usando o “Vaticano” como pano de fundo mas... A verdade é q a história é muito muito maior do q isso... Não é pra quem gosta/detesta religião... É uma trama muito delicada sobre loucura, poder, fanatismo e magistralmente dirigida por cenários deslumbrantes, diálogos extraordinários e um desfecho de tirar o fôlego...