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MC Rebecca se joga no rap em música para alertar sobre violência doméstica

Renata Nogueira

Do UOL, em São Paulo

17/04/2020 11h35

Ficar em casa é o lema para quem quer se manter seguro durante a pandemia global causada pelo Covid-19. Mas pode ser também um risco para algumas mulheres. Atentas a alta no número de denúncias de violência doméstica neste período, MC Rebecca e Manaia lançam hoje a música "Medo do Escuro". Com letra de Manaia, Arthur Marques e King, e um clipe feito antes da pandemia, a composição traz em seus versos um estímulo para o grito das vítimas caladas pela violência.

"É uma estética totalmente séria. A gente quer passar a mensagem para todas as mulheres que assistirem o clipe e ouvirem a música de denunciar. Elas não estão sozinhas", explica MC Rebecca em entrevista ao UOL, por telefone.

A funkeira carioca, que ficou conhecida por seus hits acelerados, dançantes e de cunho feminista como "Ao Som do 150" e "Deslizo e Jogo", topou sair da zona de conforto e colaborar como rapper em "Medo do Escuro".

"Eu já cantei trap funk, mas essa música é totalmente rap na minha parte. Tem melodias também com os vocais da Manaia, que é uma cantora de rock. Fcou bem diferente. Foi a minha forma de botar o sentimento. Quero que as pessoas fiquem realmente tocadas. É uma vibe totalmente diferente do que eu já fiz."

Autora da canção, Manaia acredita que o trabalho chega na hora certa. "A música foi pensada para falar sobre o feminicídio, mas também traz outros temas como a sua auto percepção, a sua força, a sua fraqueza, então nesse momento acho que estamos numa certa escuridão e não devemos ter medo", reforça.

Trilha para projeto de Cleo

MC Rebecca e Manaia - Divulgação - Divulgação
MC Rebecca e Manaia no clipe de "Medo do Escuro"
Imagem: Divulgação

"Medo do Escuro" chega em um momento de alerta para as mulheres, mas nasceu como trilha sonora para um projeto da cantora e atriz Cleo Pires.

Na série "Cleo on Demand", MC Rebecca é Mariana, uma menina bissexual que é assassinada pelo próprio namorado. Por isso, Rebecca e Manaia se reuniram antes da pandemia para gravar o clipe, ambientado em uma casa abandonada e seguindo a mesma estética da música.

Diferentemente de sua personagem na série, a funkeira diz nunca ter sofrido com violência física, mas presenciado alguns casos, principalmente durante a infância humilde.

"Morei em comunidades e algumas pessoas de lá acham normal. Eu fui criada por mulheres e nunca consegui achar normal. Já presenciei homens batendo em suas companheiras. E vai além da agressão física. Violência não é só o ato de bater. Tem a violência verbal, a psicológica, então já sofri por esse lado."

Além do lançamento, MC Rebecca tem aproveitado a quarentena para testar novos formatos. Foi em uma live com a escritora e roteirista Kenia Maria, que é defensora dos direitos das mulheres negras na ONU Mulheres, que ela pode ter ainda mais consciência do impacto de seu trabalho.

Recebi muitas perguntas com vários pedidos de ajuda de mulheres. Na maioria das vezes elas nem sabem o que fazer.

BBBecca

Para seguir gerando renda para as pessoas que trabalhavam com ela nos shows, Rebecca resolveu criar um projeto que apelidou de BBBecca. Depois de um isolamento total por 14 dias, ela e parte da equipe estão reunidos desde o começo da semana em uma casa de 550 m2 para produzir conteúdo para as redes sociais e tirar do papel a ideia do seu primeiro DVD da carreira, previsto para o fim do ano.

"Estamos tomando todos os cuidados necessários. Lavando muito as mãos, passando álcool gel, mantendo a casa limpa. E realmente estamos confinados. Ninguém entra e ninguém sai. Compramos comida suficiente para esse período de quinze dias e seguimos produzindo conteúdo, tipo fotos, lives e pensando em alternativas de fazer a nossa economia girar. Pois as pessoas que vieram ficar aqui comigo precisam", ressalta a artista.

Do confinamento, a cantora tem feito lives diárias, além de fotos e reuniões. "Já fiz live de coreografia, live ensinando maquiagem, live com debates. Eu tento sempre fazer coisas construtivas, algo para todo mundo aprender. Até porque sinto que o público agora vem com um pouco mais de empatia, mais respeito. Tento sempre gerar conteúdo, não deixar nada parado. Meu trabalho depende disso."

Torcida por Babu

Claramente inspirada pelo "BBB 20" para batizar o BBBecca, MC Rebecca revela que agora está assistindo mais ao reality show, e torce por Babu.

"No começo do programa eu não tinha muito tempo para assistir, mas depois do isolamento social passei a ver mais. A minha torcida vai para o Babu. Estou torcendo para a Thelminha também. Quero eles dois na final."

O reality também serve para inspirar a vibe de conscientização dos projetos da MC. "Estou achando incrível essa edição. O público está aprendendo bastante sobre empatia e respeito. Acho que é mais que um reality show, está servindo muito para as pessoas aprenderem", finaliza.