Como um ex-produtor de Victor & Leo fez de Uberlândia rota de shows gringos
Nas primeiras reuniões com produtores e agentes gringos, Bruno Carvalho tinha de ouvir religiosamente as mesmas perguntas logo que estendia a mão para o cumprimento: 1) Afinal, o que é Uberlândia?; 2) É uma capital?; 3) Mas lá tem infraestrutura, local, hotel, fornecedores? Hoje, o mineiro de Poços de Caldas de 35 anos, ex-produtor da dupla Victor & Leo, é a principal figura por trás dos shows internacionais que vêm pipocando com cada vez mais frequência em Uberlândia. Realizado, ele diz que toda aquela desconfiança ficou para trás, embora não sem boa dose de esforço.
"Não foi fácil o trabalho de convencimento. Questionavam demais. Tivemos que fazer várias reuniões com produtoras, mostrando o mapa da cidade, do complexo do Sabiá [espaço onde os shows são realizados]. Promovemos muitas visitas técnicas para mostrar a viabilidade da cidade", lembra ele ao UOL. "Artista internacional é muito cuidadoso com tudo, tem muitas exigências. É diferente do brasileiro. Estamos falando de parcerias com produtoras de alcance mundial."
Bruno se refere especificamente a cinco grandes produtoras que compraram a proposta da BConcerts —empresa fundada por ele há 15 anos— para produzir turnês de médio e grande porte que passam pela América do Sul: T4F, Live Nation, Mercury, Poladian e Move Concerts. A parceria rendeu, desde 2018, shows de Simple Plan, Camilla Cabello (no Z Festival), New Order, Jon Secada, Slash e o Roadfest, evento que reuniu os pesos pesados do metal Scorpions, Whitesnake e Helloween, que também passaram por São Paulo e pelo Rock in Rio.
As próximas atrações confirmadas: Kiss, Roger Hodgson (ex-Supertramp), Il Divo, McFly, Offspring e Backstreet Boys, que também serão levados pela BConcerts para Ribeirão Preto (SP), novo tentáculo de atuação da produtora. Em Uberlândia, os shows geralmente são realizados no complexo do Sabiá, formado pelo estádio Parque do Sabiá (capacidade para 50 mil pessoas) e Arena Sabiazinho (capacidade para 8 mil), onde a maioria ocorre, com média de 70% de ingressos vendidos.
"Nosso primeiro show internacional foi o David Guetta em 2015, que tocou para mais de 30 mil pessoas no estádio. Eles viram como deu certo. Foi o início do namoro. Sempre fizemos nacionais, como Lulu Santos, Marisa Monte, Nando Reis, mas meu sonho era trazer atrações internacionais, para que as pessoas daqui não precisassem mais viajar para curtir um bom show", diz Carvalho, que enumera quatro características que vêm fazendo de Uberlândia atrativa, não raro "tirando" da capital Belo Horizonte turnês importantes, como a "End of the Road World Tour", (suposto) giro de despedida do Kiss, que passará pelo Triângulo Mineiro dia 19 de maio.
- É uma cidade bem localizada, próxima a centros econômicos do Centro-Oeste, Minas Gerais e interior de São Paulo.
- Com população relativamente jovem, cidade é a mais populosa do Triângulo, segunda de Minas Gerais e quarta do interior brasileiro.
- Uberlândia tem PIB em franco crescimento, hoje superior a R$ 32 bilhões anuais, que a coloca entre os 20 municípios mais ricos do país.
- Também é um polo logístico, com boa capacidade hoteleira, viária, aeroporto próximo do centro e incentivo ao turismo de negócios.
Diante desse panorama positivo, no entendimento de especialistas, era apenas uma questão de tempo até que produtores de grandes shows passassem a olhar para Uberlândia, assim como ocorre há décadas em cidades pujantes do interior norte-americano, como New Haven, em Connecticut, e Buffalo, no estado de Nova York, que estão entre as quatro que mais recebem apresentações musicais no país. Tanto lá como aqui, infraestrutura e empreendedorismo são fundamentais.
VEJA TRECHO DO SHOW DO GUITARRISTA SLASH EM UBERLÂNDIA, EM MAIO DE 2018
Potencial desperdiçado
"A verdade é que tudo já estava aqui. O Sabiazinho, por exemplo, foi reformado recentemente para a Copa Davis. O que faltava mesmo era alguém que fizesse a ponte entre a produção local e as grandes produtoras. Alguém que arriscasse fazer show na segunda, por exemplo, como a BConcerts faz, para baratear os custos da turnê. Sempre bati nessa tecla", conta a jornalista e produtora de Uberlândia Adreana Oliveira.
Segundo Sérgio Peixoto, gerente de shows internacionais na T4F, não havia desconfiança entre grandes produtoras em apostar no mercado interior, mas escassez de contatos.
Sempre tivemos uma concentração de datas nas grandes capitais. É uma característica do mercado brasileiro. E é muito importante e positivo o que está acontecendo em Uberlândia, por mérito do Bruno, porque abrem-se possibilidades para novos mercados, com pessoas de confiança, como já está acontecendo em Ribeirão Preto.
Sérgio Peixoto, gerente de shows da Time For Fun
Geração de empregos
Nem todos os shows em Uberlândia lotam, como foi o caso do New Order, que se apresentou na Arena Sabiazinho em agosto de 2018 com público aquém do esperado. Shows com pegada mais pop e rock clássico, no entanto, vêm crescendo em interesse. O festival que contou com Scorpions, Whitesnake e Helloween, no ano passado, praticamente esgotou ingressos, e, com a apresentação dos Backstreet Boys agendada para o próximo dia 11 de março, a rede hoteleira da cidade está trabalhando com capacidade máxima.
"Uberlândia ainda é uma cidade que carece de opções culturais, e esses shows suprem uma demanda", analisa Edson Zanatta, diretor da Futel (Fundação Uberlandense do Turismo, Esporte e Lazer), que administra o complexo do Parque do Sabiá. "Também por isso eles são tão importantes para a economia e para os serviços da cidade como um todo. Geram emprego e trazem equilíbrio para as contas públicas. Infelizmente, o esporte amador é caro e deficitário. Ainda não temos um balanço do quanto esses shows injetam na economia da cidade, mas sabemos que é um número muito significativo."
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